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Vila Velha abrirá consulta pública sobre criação de parque na Lagoa Encantada

Comunidade luta há anos para garantir proteção da área de especial biodiversidade e alvo de constantes degradações

Wilerman da Silva Lucio

A Prefeitura de Vila Velha abrirá uma consulta pública para decidir se a Área de Preservação Permanente (APP), localizada na região do Vale Encantado, será transformada em parque. O encaminhamento foi dado após um ofício elaborado por moradores junto com o Fórum Popular em Defesa de Vila Velha (FPDVV). A área, que registra rica biodiversidade e fragmentos de Mata Atlântica, além de espécies ameaçadas de extinção, é alvo de constantes degradações e interesses econômicos.

Izanildo Sabino, integrante do Fórum, explica que a transformação do local em parque irá proteger o ecossistema local contra a apropriação de empresas. Segundo ele, a região é visada por estar próxima a avenidas importantes como a Rodovia Darly Santos, Leste- Oeste e Lindenberg. “A proteção é mais ampla. Na Área de Proteção Permanente, pode haver alterações. Na unidade de conservação mais restritiva, não”, explica.

Ele chama atenção para a importância da região, com área alagadiça, que cumpre importante função de retenção de água numa cidade conhecida pelos constantes alagamentos. “Serve como um piscinão natural de água de chuva. É uma esponja. Tem várias aves, mamíferos, inclusive ameaçados de extinção. Queremos fazer com que esse local seja protegido, em especial para que esses animais possam continuar existindo no nosso município”, aponta.

Izanildo reforça que a reivindicação da comunidade é antiga e já passou por várias gestões municipais, sem resultados. O atual ofício foi encaminhado para a Coordenação de Recursos Naturais no último dia 23 de abril. A Secretaria de Meio Ambiente informou, nesta quinta-feira (6), que o diagnóstico já foi finalizado e o próximo passo é a abertura de consulta pública, porém, sem especificar a data.

Entidades que lutam pela proteção da área já fizeram manifestos pela implantação do Parque Natural da Lagoa Encantada. Estudo nesse sentido propõe um parque natural com 261,63 hectares, protegendo a lagoa e seus alagados circundantes, bem como o Morro do Carcará; ou um parque com 137,38 ha na lagoa e uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) ao redor do parque, com cerca de 125 hectares.

Constantemente, moradores denunciam o descarte de lixo, que se acumula na região, desmatamentos e tentativas de construções de loteamentos, condomínios e estradas em meio aos alagados.

No último mês, foi registrada mais uma invasão, com a construção de uma estrada irregular no local, cortando a APP. “Este aterro irá impactar cruelmente a vida de vários animais que transitam na área. Muitos poderão ser atropelados e outros ficarão isolados no fragmento, dificultando sua busca por alimento e parceiros para acasalamento, diminuindo ou até mesmo cessando o fluxo gênico, o que ameaça a sobrevivência destas espécies”, alertou na ocasião o Fórum.

Em 2020, apesar da pandemia, as agressões não cessaram, com registros de casos de desmatamentos com retirada de terra do Morro do Carcará, destruindo espécies e criando ribanceiras perigosas no local.

Especial biodiversidade

Só de aves, já foram identificadas cerca de 150 espécies na região, sendo que duas delas tiveram ali seu primeiro registro no Espírito Santo, a Viuvinha de Óculos, espécie migratória, e a Saracura do Banhado, residente no local. Ameaçada de extinção, a Saíra Sapucaia, também migratória, já foi avistada na região, assim como outros animais como jaguatiricas e outros felinos, gaviões e o jacaré de papo amarelo, que estão vulneráveis ou ameaçados de extinção.

O Morro do Carcará, por estar em terra mais elevada, possui uma vegetação de maior porte que na área alagadiça, onde se encontra outra espécie ameaçada de extinção, o Ipê Felpudo.

As flores brancas de Ipê-caixeta, também conhecida como Tamanqueira, uma espécie da Mata Atlântica, é outra espécie ameaçada de extinção encontrada na região da Lagoa Encantada.

O entorno é composto por áreas degradadas de restinga, além de manguezal e trechos de floresta.

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