Dados divulgados nesta quarta-feira, referentes ao período de 2019 a 2020, acendem o alerta vermelho no Estado
O desmatamento da Mata Atlântica, um dos biomas mais importantes e ameaçados do mundo, registrou aumento de 462% no Espírito Santo entre os anos de 2019 e 2020. O alarmante índice foi divulgado nesta quarta-feira (26), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inep) e pela Fundação SOS Mata Atlântica, e coloca o Estado em alerta vermelho.
Também ultrapassou a marca dos 400% o estado de São Paulo, porém ainda abaixo do Espírito Santo. No total, dez das 17 regiões que compreendem o bioma tiveram o desmatamento intensificado nesse período, incluindo ainda o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.
Na véspera do Dia Nacional da Mata Atlântica, os dados alertam que foram desflorestados no País 13 mil hectares (130 quilômetros quadrados). Apesar de 9% menor que o apontado no levantado em 2018-2019 (14, 3 mil hectares), o resultado representa um crescimento de 14% em relação a 2017-2018 (11,3 mil hectares), quando se atingiu o menor valor da série histórica.
No Espírito Santo, entre 2019 e 2020, foram desmatados 75 hectares, muito acima dos 13 hectares registrados de 2018 a 2019. Da área original do bioma, restam em território capixaba apenas 10,5%, como aponta o levantamento.
As três regiões do País que mais desmataram no período anterior seguem no topo do ranking, embora mostrem ligeiras reduções em seus índices: Minas Gerais (de 4.972 para 4.701 hectares), Bahia (de 3.532 para 3.230 hectares) e Paraná (de 2.767 para 2.151 hectares). Junto de Santa Catarina e do Mato Grosso do Sul, respectivamente o quarto e o quinto da lista, eles acumulam 91% da perda de vegetação da Mata Atlântica entre 2019 e 2020.
O Atlas da Mata Atlântica evidencia que a manutenção do alto patamar de perda da vegetação nativa, com o crescimento do desmatamento em diversos estados, ameaça intensamente o bioma e reforça a necessidade de ações de preservação e restauração florestal.
Outra preocupação, segundo Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação, são os estados que já estiveram muito próximos de zerar o desflorestamento, como Espírito Santo e São Paulo, voltarem a mostrar aumentos expressivos.
“Além disso, no que se refere à Mata Atlântica, 13 mil hectares é muito, porque se trata de uma área onde qualquer perda impacta imensamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, como regulação do clima e disponibilidade e qualidade da água”, afirma.
Para ele, o principal problema é a falta de fiscalização. “Os governos precisam fazer valer a Lei da Mata Atlântica, que não permite a conversão de áreas florestais avançadas, e garantir o desmatamento ilegal zero por meio do combate às derrubadas não autorizadas”.
O Piauí fez caminho inverso, com uma queda drástica no desmatamento neste último período. Entre 2017-2018 aparecia no quarto lugar da lista, com 2.100 hectares, no período 2018-2019 foram desflorestados 1.558 hectares e neste último período, apenas 372 hectares, equivalente a 76% de redução.
O Atlas é realizado por meio de imagens de satélite e tecnologias na área da informação, do sensoriamento remoto e do geoprocessamento. O projeto é fruto de um acordo de cooperação técnica pioneiro, estabelecido em 1989, voltado a determinar a distribuição espacial dos remanescentes florestais e de ecossistemas associados da Mata Atlântica, monitorar as alterações da cobertura vegetal e gerar informações permanentemente aprimoradas e atualizadas desse bioma.
Ações urgentes
A Fundação SOS ressalta que, hoje, a Mata Atlântica mantém apenas 12,4% de sua vegetação original – que se distribui por mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados (três vezes a área da Suécia). Além de a proporção estar muito abaixo do limite mínimo aceitável para sua conservação, que é, segundo estudo da revista Science, de 30%, as florestas naturais encontram-se restritas a espaços extremamente fragmentados (a maior parte não chega a 50 hectares) e, em 80% dos casos, em propriedades privadas.
“A situação atual contrapõe-se a importantes referências internacionais que – pela conservação de sua rica biodiversidade e de seu potencial no combate às mudanças climáticas – apontam a Mata Atlântica como uma das prioridades mundiais para a restauração florestal. Mais do que isso, sua proteção e seu reflorestamento são fundamentais para a garantia de serviços ecossistêmicos em uma região que abriga 70% da população brasileira e responde por 80% da economia nacional”, pontua.
Além de zerar o desmatamento, a entidade aponta a necessidade de que a restauração do bioma se torne uma prioridade na agenda ambiental e climática.