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Meliponicultores iniciam em Aracruz diálogo para proteger abelhas nativas do fumacê

Intenção é replicar sistema da Capital, para evitar mortandades como a que ocorreu há alguns dias

Domingos José Alburghetti

Os meliponicultores de Aracruz, no norte do Estado, estão iniciando um trabalho de orientação da aplicação do fumacê pela Prefeitura Municipal com objetivo de proteger as abelhinhas nativas sem ferrão criadas por eles na área urbana da cidade.

Há alguns dias, dezenas de caixas foram destruídas após aplicação do fumacê durante a manhã, quando as abelhas saem em busca de alimento. O efeito do inseticida dura cerca de três horas, período em que ocorrem as intoxicações, seja por contato com o veneno no ar ou no contato com as plantas onde ele cai e se deposita.

“O fumacê está passando há vários dias seguidos pela manhã, num horário em que as abelhas mais saem. O inseticida é por contato e é prejudicial demais pras abelhas!”, relata Germany Herzog, que cuida de um meliponário junto com o pai. “Meu pai tem um sítio, fechou as caixas que sobraram e levou embora. E as abelhas que estão nas árvores? Morre tudo!”, lamenta.


Domingos José Alburghetti é outro meliponicultor aracruzense que assiste à morte das pequenas polinizadoras. Metade dos seus enxames de uruçu-amarela já morreu ou está morrendo aos poucos, sem chance de salvar. Também houve perdas importantes nos enxames de mandaguarí amarela e jataí.
O criador conta que os enxames mais prejudicados eram exatamente os “mais fortes”, ou seja, com mais abelhas campeiras, as que vão a campo para buscar o alimento para as demais. São elas, principalmente, que trazem o veneno junto com o alimento, depois de percorrerem em média quatro quilômetros, ou mais, nas épocas de escassez de alimento como agora, no outono/inverno.
As que não morreram ficaram mais fracas, com a morte das campeiras e outras. “Só vou poder confirmar o número total de mortes depois que passar um tempo. Se matou a rainha e não conseguir formar outra rainha, perde todo o enxame”, descreve.
Aplicações noturnas
Concordando com o colega Germany, Domingos explica que o ideal é a aplicação noturna do fumacê, quando as abelhas estão de volta à caixas. “Depois das sete da noite até a meia-noite”, indica. Assim, quando as abelhas começarem a sair das caixas no amanhecer, o veneno já terá dispersado e o ambiente estará seguro.
Em casos de aplicações diurnas, seria necessário avisar aos meliponicultores cadastrados na prefeitura, para que tomem medidas de proteção. “Com uma comunicação antecipada, a gente pode fechar as caixas ou até levar pra casa de parentes no interior, temporariamente, pelo período de aplicação”, diz.
Mas manter as caixas permanentemente no interior, para fugir do fumacê urbano, não é viável. “Se a gente instala as abelhas no interior e ficar por muito tempo, as pessoas descobrem e roubam, como já houve roubo nos índios [os indígenas aldeados em Santa Cruz mantêm meliponários para conservação e venda de mel e outros produtos]. Mas deixando alguns dias só, não tem problema”, expõe.
Exemplo de Vitória
Na busca de um ponto de equilíbrio, Germany conta que seu pai procurou o vereador Carlito Candin [Solidariedade], para intermediar um diálogo com a prefeitura, administrada pelo prefeito Dr.Coutinho (Cidadania).

Em paralelo, a Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo (AME-ES) passou para o vereador o endereço e o contato dos criadores da cidade, de forma que o setor de aplicação do fumacê possa entrar em contato diretamente com os meliponicultores comunicando o cronograma de aplicações, para que as abelhas possam ser trancadas nas caixas ou transferidas temporariamente para lugares mais seguros, à semelhança do que ocorre há mais de dois anos em Vitória.

“Em Vitória está funcionando bem. Mesmo com a troca de prefeito, os servidores mantiveram o mesmo sistema: eles geralmente passam o fumacê à noite e sempre enviam as rotas de passagem do fumacê, com horários e locais, pra gente se preparar. E conseguem até passar mais distante das casas onde tem meliponário, muitas vezes, porque já conhecem todo mundo”, relata João Luiz Teixeira Santos, presidente da AME-ES.
O envio da comunicação das rotas é feito por email e a cada novo meliponicultor que inicia na Capital, seus dados são enviados para a prefeitura, que o inclui no cadastro de comunicações. Em Aracruz, João conta que as rotas e horários do fumacê são publicados no site, mas, na prática, acontece de outra forma, pegando a todos sempre de surpresa. “E só o site não é o ideal, o melhor é o envio por email ou pelo celular”, reforça.
A intenção, declara o presidente da AME-ES, é transformar essa estratégia em lei municipal, para garantir que não ficará dependendo apenas da boa vontade e compromisso dos servidores ou prefeito eleito. “Em lei fica mais garantido. Estamos começando a elaborar a minuta de lei. Aprovada em Vitória, a gente depois pode levar para outros municípios”, expõe, ressaltando que o caminho município a município é mais viável que o estadual, já que se trata de um serviço prestado essencialmente pelas prefeituras, devendo, portanto, ser legislado e regulado no âmbito do município.

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