Casos podem ter sido gerados por fraudes, falhas do sistema ou ações de “fura-fila”
Levantamento realizado pela Secretaria de Estado de Controle e Transparência (Secont) revela que foram aplicadas 934 doses de vacina contra a Covid-19 em pessoas que, segundo o sistema de registro de óbitos, já teriam falecido na data de aplicação. A checagem de dados, divulgada nesta quarta-feira (16), mostra, entre outras discrepâncias, que 408 portadores de um mesmo número de CPF teriam recebido mais de três doses de vacina entre as mais de 800 mil vacinas contra a doença aplicadas no Espírito Santo.
A averiguação detalhada de cada caso é necessária para determinar o que levou à ocorrência das inconsistências encontradas, já que elas podem ser resultado tanto de falhas na alimentação do sistema de registro das doses aplicadas como de fraudes ou ações de “fura-fila”.
A análise resultou na identificação de inconsistências que serão encaminhadas aos órgãos competentes, como a Polícia Civil, para uma averiguação detalhada. Entre os sinais de alerta encontrados estão 1.240 casos em que o registro aponta a aplicação de 2ª dose de laboratório diferente da 1ª dose recebida; e 70 doses registradas como fabricadas por um laboratório sem vacinas disponíveis no Estado.
Foram identificadas ainda discrepâncias nas faixas etárias imunizadas. A auditoria constatou 11.582 doses aplicadas em cidadãos com idade inferior à faixa etária informada como justificativa para inclusão no grupo prioritário que estava sendo vacinado a cada fase da imunização. Quando se exclui os vacinados com 60 anos ou mais, 1.448 doses desse total teriam sido recebidas por pessoas com menos de 60 anos, ou seja, em pessoas que não fariam parte deste grupo prioritário.
A análise se refere ao período de 18 de janeiro a 12 de maio deste ano, como parte da auditoria da campanha de vacinação iniciada em março pela Secretaria de Controle e Transparência (Secont), em parceria com a equipe da Gerência de Auditoria em Saúde da Secretaria da Saúde (Sesa).
O trabalho foi desenvolvido com o objetivo de acompanhar o processo de imunização em todos os 78 municípios capixabas e realizado por meio de uma ampla checagem na base de dados do público imunizado. A análise abrangeu um universo de 882.505 doses aplicadas no período, visando identificar riscos nos procedimentos adotados e corrigir eventuais falhas que possam comprometer a rapidez e a qualidade da campanha de imunização contra a Covid-19 no Estado.
Para a realização do projeto, a auditoria contou com trilhas de investigação desenvolvidas pelo Laboratório de Dados, Análise e Tecnologia Aplicada à Auditoria (LAB.Data). A checagem cruzou eletronicamente as bases de dados de pessoas vacinadas com os cadastros de servidores públicos estaduais e do sistema de óbitos estadual.
Prevenção
A Secont afirma que tem atuado de forma preventiva para identificar riscos e corrigir eventuais falhas. A auditoria tem o objetivo de acompanhar o processo de imunização desde as condições de acondicionamento e distribuição das doses até a verificação da observação dos grupos prioritários definidos a cada fase do Plano Nacional de Imunização e dos critérios de prioridades definidos em Resoluções CIB / SUS – ES.
Por meio de aplicação de checklist em todos os 78 municípios capixabas, além de visitas presenciais a redes de frios e locais de vacinação definidos por amostragem, a auditoria já identificou casos como vacinas em estoque com prazo próximo do vencimento; inconsistências no controle da quantidade de doses distribuídas a cada local de vacinação e doses em estoque; além de atrasos e falhas na alimentação do sistema nacional que controla o número de doses aplicadas, entre outros potenciais riscos ao bom andamento da campanha de imunização.
Todas as questões levantadas pela auditoria são comunicadas de imediato às Controladorias dos municípios, já que as prefeituras são responsáveis pela execução da campanha de vacinação.