Câmara de Vitória mais previsível, impossível: protege Gilvan da Federal e arquiva representação de Camila Valadão
Quando a Câmara de Vitória se movimentou em abril para tratar, finalmente, os episódios recorrentes de tentativas de silenciamento e agressões verbais proferidas pelo vereador Gilvan da Federal (Patri) às duas únicas mulheres no legislativo municipal, Camila Valadão (Psol) e Karla Coser (PT), já ficou claro que a intenção principal era apenas oferecer uma resposta à sociedade e deixar “a poeira baixar”, após cobranças e repercussão negativa, inclusive em âmbito nacional, a respeito do machismo praticado em plenário desde o início da atual legislatura. Alguns de forma escancarada, como o de Gilvan, que ultrapassa todos os limites do respeito e do embate e divergências de ideias, mas outros também evidentes, porém, de forma mais velada. O resultado da votação desta quarta-feira (16) na Corregedoria-Geral, que arquivou a representação movida por Camila contra Gilvan por quebra de decoro, apenas confirma, portanto, o óbvio e esperado: não há, nem nunca houve, na Câmara, o menor interesse em combater a violência política de gênero ou frear os absurdos do vereador. A divulgação do relatório de Maurício Leite (Cidadania) na última semana, defendendo que ele “apenas explicitou sua opinião política”, já tinha dado o tom do desfecho, aprovado por unanimidade pelos outros membros da Corregedoria, André Brandino (PSC), Armandinho Fontoura (Podemos) e Duda Brasil (PSL). “Dizer que ‘não tenho moral’, que sou ‘canalha’ e ‘covarde’ foi interpretado como normal”, lamentou Camila, que recebeu apoio de um grupo de mulheres na Câmara durante a votação, para avisar, mais uma vez, o que também faço coro: “não nos calarão”.
Erros
Camila, que já esperava o resultado, também critica erros do relatório, por fazer um juízo de mérito, o que extrapolaria sua competência. E considera mais grave ainda, que os demais vereadores neguem a quebra de decoro. A representação pedia uma advertência verbal e a suspensão das prerrogativas regimentais do vereador bolsonarista.
Cotidianamente
Nas redes sociais, a vereadora disse mais: “O que aconteceu dentro da Câmara e que nos levou a entrar com esta representação não é só sobre mim. É sobre todas as mulheres que vieram antes e todas que ainda virão a ocupar esse espaço da política. Nosso movimento de não nos intimidar e denunciar é o nosso basta às atitudes machistas que nos violentam cotidianamente”.
Zero
Na coluna passada, publicada nessa terça-feira (15), afirmei que se a Corregedoria acatasse o relatório de Maurício Leite, iria surpreender zero pessoas. Pois então…
Agressões
As atitudes de Gilvan se agravaram em março, quando ele questionou a roupa de Camila (a mesma blusa da foto acima) e disse que a vereadora precisava “se dar o respeito”. Pouco tempo depois, a interrompeu aos gritos durante uma fala sobre a reforma da Previdência, exigindo intervenção do presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), que ameaçou encerrar a sessão. Mas é tudo “normal”, segundo a Corregedoria da Câmara.
Agressões II
Nas redes sociais, Gilvan também publica vários vídeos de Camila, para atacá-la. Todo o enredo se repete com Karla Coser (PT). As duas já debateram a questão no Ministério Público do Estado (MPES).
Retrocesso
Também como dito aqui, ainda em abril, a autorização e concordância para que Gilvan da Federal prossiga com esses ataques vão entregar ao legislativo da Capital a marca do maior retrocesso dos últimos tempos. O atual mandato só acaba em 2024. Até lá, haja estômago!
Gaveta
Com a decisão desta quarta, a Corregedoria da Câmara repetiu a máxima de legislativos do Estado, inclusive da Assembleia: todos os processos contra os parlamentares vão parar nas gavetas. Para além do corporativismo, é omissão mesmo.
Gaveta II
No caso da Assembleia, para recordar um caso mais recente e absurdo, mas não único, foi a oferta de recompensa – R$ 10 mil – feita por outro bolsonarista, Capitão Assumção (Patri), a quem matasse o assassino de uma mulher. O relatório do ex-deputado e atual prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (DEM), foi pelo arquivamento, também aprovado por unanimidade.
Nas redes
“Não podemos ter medo de exercer nosso mandato por sermos de oposição. Precisamos seguir atuando, ainda que em meio a tantas agressões”. Karla Coser, do PT, em audiência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira, que debateu as ameaças, agressões e violências registradas em câmaras municipais.
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