Passadas duas semanas desde a última denúncia sobre o quadro reduzido de funcionários, a Nutrição do Hospital Estadual Infantil e Maternidade Dr. Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, sofreu mais perdas, incluindo a responsável técnica (RT), além da coordenadora multidisciplinar dedicada a encaminhar soluções para os problemas apontados no setor.
As novas demissões agravam os problemas com contaminações das fórmulas e dietas dos bebês internados, além de deixar o hospital em vulnerabilidade caso seja feita uma auditoria, relatam funcionários que pediram anonimato, com medo de mais represálias por parte do Instituto Acqua.
As denúncias feitas em Século Diário também chegaram aos órgãos de fiscalização, como Ministério Público Estadual (MPES), Sesa, Tribunal de Contas (TCE) e Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sindsaúde-ES) e, desde então, as chefias vêm pressionando os funcionários para identificar os denunciantes.
O Sindsaúde-ES afirma que investiga os fatos, não só no Himaba, mas em outros hospitais administrados por Organizações Sociais de Saúde (OSSs) e pela Fundação iNOVA e que identifica práticas antissindicais por essas entidades, que praticam assédio deliberado contra os funcionários, sempre que denúncias sobre redução de quadros, baixos salários ou falta de materiais são feitas.
Em um dos relatos enviados a Século Diário, um funcionário ressalta sua preocupação “com a má qualidade do serviço que estamos sendo obrigado a prestar”. “O setor permanece com número de funcionários extremamente reduzido, totalmente irregular em relação às normas regulamentadoras de nutrição clínica hospitalar e serviço de lactário”, relata. “Não somos robôs. As dietas analisadas no Lacen [Laboratório Central] continuam contaminadas por coliformes”, afirma.
Os funcionários acreditam que a dificuldade em contratar um novo responsável técnico esteja relacionada ao baixo salário oferecido, de R$ 2.350,00 para 44 horas, abaixo do piso de R$ 3,1 mil para 40 horas.
Enfermagem segue com baixas e salários atrasados
Passados quase dois meses, a situação piorou, relatam os funcionários, citando setores como a maternidade e a pediatria, onde cada enfermeiro estaria responsável por um número de crianças para atender muito maior do que estabelecido pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES).
Além das demissões, os salários, menores que os estabelecidos na gestão da Sesa, também estão sendo pagos com atraso, com muitos enfermeiros e técnicos tendo recebido o provimento referente a maio apenas na última sexta-feira (18), após vários problemas com cheques não compensados por falta de assinaturas da diretoria.
“O Instituto Aqcua não quer que o Himaba continue sendo referência no Estado em cirurgia cardíaca de crianças. A gestão só está cortando tudo que eles podem. Estamos trabalhando sob ameaça constante”, relata uma funcionária.
Covidário
Conforme informado na reportagem de maio, a alegação da Acqua para os baixos salários e outros problemas está no Anexo Covid, inaugurado no dia 30 de abril, que operaria com custos mais altos que a média dos serviços pediátricos tradicionalmente prestados pelo hospital.
Sobre o covidário, a Sesa noticiou recentemente que o setor tem atingido cerca de uma alta por dia de pacientes com Covid-19, pois, em um mês, recebeu 84 pacientes e deu alta a mais de 30. Informou também que o acesso aos 30 leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e aos 52 de enfermaria do Anexo acontece via Regulação Estadual e que a ala conta com 170 colaboradores.