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​Bolsonaro e a ameaça de golpe

O golpe já foi dado em 2016. Bolsonaro é uma das fases do projeto construído pelo capital financeiro   

Escrevo a coluna um dia depois que milhares de brasileiros saíram às ruas, na terceira grande manifestação contra Jair Bolsonaro em menos de dois meses, desta feita com a participação mais ativa de antigos ativistas políticos reunidos no grupo denominado geração 68ES. A maioria beirando ou já ultrapassando os 70 anos, trazendo no caminhar marcas de prisões, torturas e recordações de companheiros que foram mortos pela ditadura militar instalada no país em 1964, articulada com a participação ativa dos Estados Unidos. A bandeiras de luta são muitas, mas, entre tantas, uma se ressalta: a ameaça de um golpe nas eleições de 2022.

É nesse momento da vida nacional, o país arrebentado pela pandemia da Covid-19, agravados com os malfeitos de Bolsonaro, felizmente em elevação contínua na reprovação popular, que desembarca em Brasília William J. Burns, diretor da agência de inteligência estadunidense, a famigerada CIA, presença marcante no Brasil no golpe militar de 1964 e também no de 2016, que depôs a presidenta Dilma Rousseff. Manteve encontros com o presidente da República e os generais-ministros Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, e Augusto Heleno, da Segurança Institucional.


Os dois ministros integram a cúpula militar que ajudou a eleger o presidente e atualmente ocupa o governo brasileiro, com alto poder de mando, desde que siga a cartilha formatada lá fora, e, segundo os fortes indícios divulgados na imprensa, que apontam a participação ativa do ex-juiz Sergio Moro e do procurador Deltan Dellagnol, reforçada por estranhos comportamentos e declarações, como essa: “A prisão de Lula é um presente da Cia”.
São fatos historicamente entrelaçados que dizem muito do que poderá estar em curso neste momento sombrio, não só no Brasil, mas na América do Sul, impactando países onde os ventos da democracia sopram contra o colonialismo mantido por meio de governos autoritários. Venezuela, Chile, Bolívia são países que estão no radar estadunidense.
No Brasil, o incômodo é o desequilíbrio político-eleitoral representado no retorno do ex-presidente Lula à cena política e sua liderança demonstrada na corrida eleitoral de 2022. Na última eleição, ele foi impedido, preso, por força de processos que resultaram em absolvição por falta de provas, num emaranhado de fatos que envolvem, além do Judiciário, a mídia comercial e forças estrangeiras.
O que representa a bizarra visita do chefe da espionagem estadunidense ao presidente da República, no momento em que ele, o escolhido para chefe de Estado, desmorona e coloca em risco os projetos construídos que visam, unicamente, manter o Continente subjugado ao capital financeiro, no histórico papel de quintal? Bolsonaro responde em declarações e comportamentos diários. Já está pronto o projeto para reforçar ainda mais o autoritarismo, o regime de força e, para isso, só basta o anúncio formal de quem está no poder. O golpe já foi dado em 2016 e está em franco andamento.
Daí a importância do protesto das ruas, das manifestações em defesa da democracia e contra o governo genocida, entreguista da soberania nacional, suspeito de corrupção, adorador da morte. Os que participaram de lutas passadas se juntam a gerações mais recentes na vida nacional para impedir a construção desse cenário golpista e autoritário. Quando Bolsonaro diz que pode “não entregar o poder” em 2022, ele fala do que está em andamento, se ampara no aparelhamento das instituições do Estado, na omissão e cumplicidade da classe política e na aceitação por parte da sociedade do velho “complexo de vira-latas”. O golpe está aí, é preciso desmantelá-lo, e, nesse caso, o poder das duas é imensurável.   .

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