A intensa especulação imobiliária no entorno da Lagoa Encantada, seus alagados e o Morro do Carcará, em Vila Velha, em contraste com a urgência em proteger esses monumentos naturais, continuam no radar dos moradores da região do Vale Encantado e amigos desse refúgio ecológico da região metropolitana da Grande Vitória, que, além da beleza cênica e lazer proporcionados, cumpre função fundamental na prevenção de alagamentos nos bairros adjacentes.
O foco da semana foi uma vala cavada ao redor de todo o Morro do Carcará, obra que intensificou os impactos de um aterro feito pouco antes, ambos denunciados ao Conselho Municipal de Meio Ambiente de Vila Velha (Commam) e ao Ministério Público Estadual (MPES), mas ainda não revertidos, e se somam aos seguidos desmates e incêndios promovidos nos últimos anos.
“O Morro do Carcará é um fragmento de Mata Atlântica da Lagoa Encantada que vem sofrendo diversas agressões no decorrer do tempo, mas de 2013 para cá, se intensificaram, culminando com um aterro, separando o Morro e sua fauna, do resto da Lagoa Encantada” , explica o
coletivo APP Lagoa Encantada. As duas agressões ambientais, salientam, dificultam “a circulação dos animais em busca de alimentos e parceiros para acasalar, podendo vir a óbito na tentativa de travessia”.
Nas redes sociais, o coletivo pede “aos Amigos da Lagoa Encantada, que se virem qualquer crime, denunciem, e cobrem o poder público por soluções e combate aos crimes ambientais!”. As denúncias lançam luzes sobre o problema, forçando os entes responsáveis a tomarem atitudes à altura do clamor popular.
“Temos que denunciar, mobilizar. Não podemos deixar morrer no esquecimento”, argumenta o fotógrafo da natureza Wilerman da Silva Lucio, um dos amigos da Lagoa Encantada e membro do Fórum de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental do Grande Vale Encantado (Desea).
“A promotora Nice [Andrea Nice Silveira Lino Lopes], do MPES, acompanha o caso com a gente”, destaca o ambientalista, mencionando a ação civil pública coordenada por ela com objetivo de proteger aquele ecossistema, com medidas de fiscalização mais assertivas.
O grupo reconhece que “todos os avanços que tivemos, foi devido à atuação do MP e esta ação civil pública é exemplo disso” e lamenta que “devido ao afastamento social da pandemia e as dificuldades de locomoção e fiscalização, os degradadores vêm avançando cada vez mais sobre o meio ambiente”.
A criação de uma unidade de conservação no local é essencial para efetivar medidas de proteção demandadas. Um estudo feito a pedido da prefeitura, dentro de um processo de compensação ambiental, indicou duas possibilidades: um único parque natural com 261,63 hectares, protegendo a lagoa e seus alagados circundantes, bem como o Morro do Carcará; ou um parque com 137,38 ha na lagoa e uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) ao redor do parque, com cerca de 125 hectares.