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​Movimento negro organiza Ato em Defesa da Memória e História de Lula Rocha

Manifestação será nesta quinta-feira, em frente à Câmara de Vitória, onde ativista foi atacado em sessão ordinária

A Unidade Negra Capixaba realiza, nesta quinta-feira (22), o Ato em Defesa da Memória e História de Lula Rocha. A manifestação será das 12h às 14h, em frente à Câmara de Vitória. O protesto foi motivado pelas ofensas proferidas pelo vereador Gilvan da Federal (Patri) contra o ativista, em sessão realizada nessa segunda-feira (19), quando foi votada a criação da comenda que homenageia o militante dos direitos humanos, falecido em 11 de fevereiro deste ano.

Durante a sessão, Gilvan justificou seu voto contrário à proposta da vereadora Camila Valadão (Psol) por não poder “concordar com quem ataca de forma covarde a polícia”. Para fazer essa afirmação, se baseou em um tweet de Lula no qual o ativista afirmou que a polícia, no Espírito Santo, “atira primeiro e forja depois”. Ainda segundo Gilvan, Lula “atacava religiosos”. Ao falar isso, mais uma vez se baseou em um tweet no qual o ativista fazia críticas ao pastor Silas Malafaia por usar “a religião para enriquecer”.

Além disso, o vereador classificou Lula como um “vagabundo dessa esquerda imoral”, que “ataca os cristãos”, ignorando totalmente a trajetória do ativista nas Comunidades Eclesiais de Base (Ceb’s) da Igreja Católica, onde cresceu.

A proposta de Camila Valadão altera o inciso I do artigo 1º da Resolução nº 1.912, de 2013. A comenda é voltada para pessoas que atuam na defesa dos direitos humanos, das juventudes e contra o extermínio da juventude negra.

Apesar de ter recebido oito votos favoráveis, três contrários e uma abstenção, a criação da comenda não foi aprovada. A alegação é de que era necessário quórum qualificado, ou seja, 3/5 dos votos, e não maioria simples, como, segundo a vereadora, constava na pauta. Diante disso, o mandato enviou questionamento à Procuradoria acerca do assunto.
A irmã de Lula Rocha e militante dos Direitos Humanos, Ana Paula Rocha, destaca que “não será tolerada nenhuma agressão à memória de quem dedicou sua vida à luta do povo negro, da juventude do Espírito Santo e do mundo”. De acordo com ela, seu irmão foi “atacado de forma baixa, vil, por um membro do legislativo”. Ana Paula destaca, ainda, que a estratégia daqueles que querem levar adiante o legado de Lula Rocha não é o ódio.
Declarações de Gilvan causaram revolta
As ofensas proferidas por Gilvan da Federal causaram a revolta de movimentos sociais, sindicatos, mandatos políticos e organizações, que repudiarem as agressões por parte do vereador e recordaram a atuação de Lula Rocha na defesa dos direitos humanos.
Em suas redes sociais, o deputado federal Helder Salomão (PT) destacou que a militância de Lula Rocha “verdadeiramente contribuiu para a luta das minorias, sobretudo da juventude negra”. Sua colega de partido, a deputada estadual Iriny Lopes, afirmou que “Lulinha foi gigante em sua caminhada sobre a Terra e sua memória deve ser respeitada por todos que por aqui seguem”.

A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes) repudiou o fato de Gilvan ter chamado Lula Rocha de vagabundo e recordou que o militante “estudou, com sacrifício, como tantos brasileiros. E fez estudar centenas de pessoas, seja pelo incentivo que dava aos jovens, seja pela viabilização da Rede de Cursinhos Afirmação, que coordenou até sua morte”.

Por meio de nota, o Fórum Capixaba de Lutas Sociais salientou que em todas as ações feitas pela entidade contra o racismo estrutural, a violência na periferia, “nosso grande Lula Rocha foi esteio e força”. “Tentar atingir a memória de Lula Rocha, desqualificando e criminalizando suas ações, é agredir a cada um de nós nesse Espírito Santo. É agredir movimentos e grupos que defendem a vida”.

O Programa de Extensão e Pesquisa Redes no Território, da Ufes, recordou que Lula Rocha foi convidado para proferir palestras em vários seminários internacionais e nacionais, e para ministrar inúmeras aulas nos programas de pós-graduação em nível de mestrado e doutorado da universidade. Também participou como membro externo de grupos de pesquisa da instituição de ensino, “contribuindo na formulação e análise de dados acerca dos processos sociais, políticos, econômicos e culturais do Espírito Santo”.

A Rede Afirmação de Cursinhos Pré-Vestibulares Populares reafirmou seu “orgulho em continuar o legado de Lula Rocha”, um dos criadores da iniciativa, que busca o acesso e a permanência do estudante de origem popular no ensino superior.

O Diretório Municipal do Psol de Cariacica, o qual o ativista presidiu, também repudiou os ataques.


No mesmo dia da sessão, o Vicariato para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória, cuja estruturação contou com a militância de Lula Rocha, destacou que ele foi membro da Pastoral da Juventude, atuando como um dos articuladores da Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio dos Jovens, organizada pela Pastoral da Juventude Nacional. 

Para o Vicariato, “ofender a memória de Lula Rocha, chamando-o de vagabundo e acusando-o de ofender líderes religiosos, é ofender a história da Arquidiocese de Vitória, o Ecumenismo, o diálogo inter-religioso e os Movimentos Sociais do Estado e do país, uma vez que a atuação de Lula Rocha não se limitava à Igreja Católica ou ao Espírito Santo, mas sim às grandes causas da humanidade”.


Vereador propõe criação da Comenda Lula Rocha em Cariacica

Projeto faz referência a militante do Movimento Negro e dos Direitos Humanos que morreu neste mês e pretende homenagear ativistas


https://www.seculodiario.com.br/politica/vereador-propoe-a-criacao-da-comenda-lula-rocha-em-cariacica

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