Ato realizado em frente ao legislativo defendeu memória de Lula Rocha e repudiou ataques de Gilvan da Federal
“Estamos começando uma ocupação na Câmara Municipal de Vitória. Na primeira sessão após o recesso, essa Casa de Leis tem que ficar preta e periférica. Todos nós temos que estar aqui, para que eles entendam que o projeto nazifascista não terá espaço em Vitória”. A convocação, do militante do Movimento Negro e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Gustavo Forde, foi feita durante o Ato em Defesa da Memória e História de Lula Rocha, realizado nesta quinta-feira (22), em frente à Câmara de Vitória.
A manifestação, que começou às 12h, foi organizada pela Unidade Negra Capixaba, mas contou com a participação de militantes de diversas entidades da sociedade civil. O protesto foi motivado pelas agressões feitas pelo vereador Gilvan da Federal (Patri) à memória de Lula Rocha nessa segunda-feira (19), durante a sessão que votou a criação da comenda que homenageia o militante dos direitos humanos.
Durante a sessão, Gilvan justificou seu voto contrário à proposta da vereadora Camila Valadão (Psol) por não poder “concordar com quem ataca de forma covarde a polícia”. Para fazer essa afirmação, se baseou em um tweet de Lula no qual o ativista afirmou que a polícia, no Espírito Santo, “atira primeiro e forja depois”. Ainda segundo Gilvan, Lula “atacava religiosos”, também com base em um tweet com críticas ao pastor Silas Malafaia por usar “a religião para enriquecer”. Além disso, o vereador classificou Lula como um “vagabundo dessa esquerda imoral”, que “ataca os cristãos”.
Gustavo Forde apontou quebra de decoro no comportamento de Gilvan, além de afirmar que o presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), foi omisso. “O Regimento Interno deixa claro que é quebra de decoro ofender e agredir qualquer pessoa dentro do edifício. Por que o presidente nada fez, ficou em silêncio? Isso é racismo institucional. Não é possível que um ato desse seja acompanhado do silêncio do presidente”, disse.
“Decidimos que a memória de Lula e sua história não serão em vão. Estamos transformando a dor em luta, em potência, pois a gente não tem outro caminho”, desabafou.
Para Winny, a Comenda Lula Rocha tem que ser “a primeira vitória na construção de uma memória que é importante, que considere a experiência de toda a juventude negra”. Ele ressalta que Gilvan usou o espaço público “para manchar, violar a história de um homem que lutou pela juventude, pelas mulheres, pelo povo preto, todos, todas, todes”.
Isaias Santana destacou que, diante dos ataques, a família concluiu que a resposta deve se dar pela luta política. “Somente assim a gente vai contrapor esse tipo de gente. Vitória não merece uma figura como essa no legislativo. A gente não vai aceitar que Vitória seja uma cidade desgovernada, sem respeito mínimo com sua população”.
Procuradoria recomenda aprovação da Comenda
A proposta de criação da Comenda Lula Rocha teve oito votos favoráveis, três contrários e uma abstenção, sendo rejeitada por não ter alcançado quórum qualificado, ou seja, 3/5 dos votos, e não maioria simples, como, segundo Camila Valadão, autora do projeto, constava na pauta. Diante disso, seu mandato questionou os critérios para rejeição, conseguindo com que a Procuradoria-Geral da Câmara de Vitória emitisse parecer positivo ao pleito.