Audiência pública confirmou projeto da prefeitura de implantar ciclovia no canteiro central
Priscila Ceolin, arquiteta urbanista e integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES), que participou do debate, sentiu falta de um espaço de fala para os ciclistas. “A ciclovia não atende só o morador, mas a cidade como um todo. Também é necessário dar ouvido àquele que vai usar a via não só para lazer, mas para transporte”, aponta.
O encontro foi realizado pela Comissão de Mobilidade Urbana da Câmara de Vitória, presidida pelo vereador Armandinho Fontoura (Podemos) e foi realizada na escola Irmã Maria Horta, na Praia do Canto.
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), quatro árvores serão retiradas para dar mais espaço à ciclovia e substituídas por outras 40 ao redor do bairro. “Elas não serão removidas. Serão substituídas por outras mais adequadas”, disse o secretário Marcelo de Oliveira.
O projeto aprovado também mantém as vagas de estacionamento locais, mesmo com cicloativistas defendendo a necessidade de diminuição do número para um espaço mais amplo na ciclovia. A decisão dialoga com o desejo da associação de moradores da região, que sempre defendeu a manutenção das vagas.
“A população segue sempre priorizando o carro, mesmo que isso acabe colocando os ciclistas em risco. Infelizmente, as pessoas não estão prontas para ouvir soluções urbanísticas que realmente tirem o carro do centro”, ressalta Priscila.
Para ela, o espaço estreito para os ciclistas pode ser um problema, levando em consideração a velocidade da avenida. “O ciclista vai ter que passar em trechos muito estreitos e se trata de uma rua de tráfego muito rápido, que conecta bairros centrais da Capital. Uma solução agora pode ser a diminuição do limite de velocidade da avenida Rio Branco”, ressalta.
No projeto apresentado nessa quinta-feira, a prefeitura corrigiu alguns erros apontados em versões anteriores. O planejamento divulgado em fevereiro contava com pontos considerados graves, como a localização do estacionamento ao lado da ciclovia.
“A pessoa do carro que parasse no estacionamento, teria que sair em cima e, praticamente, abrir a porta dentro da ciclovia. Uma série de problemas, situações e erros graves que poderiam resultar até em mortes”, disse o integrante do coletivo de cicloativistas Pedalamente, Hudson Ribeiro, em entrevista recente ao Século Diário.
Na ocasião, o cicloativista já reiterava que, mesmo com a reparação desses erros, problemas estruturais permaneceriam na proposta. “O principal objetivo se mantém, que é o que gera todos esses erros: privilegiar unicamente o carro […] Acredito que o grande problema desse projeto é justamente esse, não privilegiar as pessoas”, destaca.
Com a aprovação em audiência pública, o projeto agora será finalizado pela Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec). A previsão é que as obras sejam licitadas ainda este ano.
Histórico
A primeira versão do projeto de ciclovia para a Avenida Rio Branco surgiu em 2015, apresentada pela gestão de Luciano Rezende (Cidadania), mas a implementação foi adiada após críticas de moradores e comerciantes da Praia do Canto, que eram contra a redução do número de vagas de estacionamento
Em 2020, as obras foram realizadas apenas em um trecho que contempla o bairro Santa Lúcia, onde o assunto não gerou tanta discussão. Na Praia do Canto, um grupo de moradores apresentou uma proposta sugerindo que a ciclovia fosse construída no canteiro central da avenida.
No início, o projeto foi considerado tecnicamente inviável pela prefeitura. Apesar disso, em fevereiro deste ano, já no mandato de Lorenzo Pazolini (Republicanos), a gestão municipal apresentou um novo texto, que apontava para a manutenção do número de vagas de estacionamento e a construção da ciclovia no canteiro central da pista.