sábado, dezembro 21, 2024
29.4 C
Vitória
sábado, dezembro 21, 2024
sábado, dezembro 21, 2024

Leia Também:

‘Prefiro meu filho perdendo o ano do que a vida’, afirmam mães e pais de estudantes

Famílias declaram apoio à campanha de desobediência civil da Assopaes contra retorno presencial obrigatório

“Prefiro meu filho perdendo o ano do que a vida”. “O governo vai garantir que ele não vai pegar a doença e que, se pegar, não vai ficar grave?” “Eu imaginava que estava tudo estruturado para o meu filho voltar”. “Eu não consigo entender que ter UTI disponível para minha filha vai garantir a vida dela”.

Declarações como essas correm entre mães e pais de estudantes capixabas em todas as redes – estadual, municipais e privada – insatisfeitos com a obrigatoriedade de retorno às aulas presenciais determinada pelo governo do Estado no último dia 21 e, em cascata, começando a ser estabelecidas também em alguns municípios.


A indignação tem unido as famílias no apoio à campanha de desobediência civil que será lançada na próxima semana pela Associação dos Pais de Alunos do Espírito Santo (Assopaes), em paralelo a uma ação judicial contra a portaria que retirou das famílias o direito de escolher entre o ensino híbrido e o exclusivamente remoto. A opção, que até então era praticada em todo o Estado, continua valendo para as demais unidades da federação, já que o Espírito Santo correu sozinho na decisão da obrigatoriedade.
“A adesão das famílias à desobediência civil está em ritmo muito maior que no ano passado, com a recente arbitrariedade do governo. A mobilização já alcança os pais na maioria dos municípios”, avalia o secretário-geral da Assopaes, Aguiberto Oliveira de Lima.

“Defendo o pátrio poder da família. Se meu filho pode ficar em casa, porque eu vou mandá-lo para escola? Os gráficos da doença diminuíram, mas a pandemia existe! E a vacina não alcançou número suficiente de pessoas. Defender a escolha da família é muito importante nesse momento para garantir a saúde tanto de quem precisa ficar em casa, como de quem precisa ir pra escola, seja por necessidade de alimentação, do trabalho dos pais, violência doméstica…Quanto menos pessoas nas escolas, menos circulação do vírus, menos contaminações, o que evita o fechamento 100%, que é preocupante para quem precisa ir pra escola”, argumenta Carol Mansur, mãe de um aluno de sete anos da rede privada de Vitória.

‘Mães são leoas’
Ela conta que ter encontrado a campanha da Assopaes aliviou um pouco o “desespero” que se instalou desde que a escola lhe avisou, numa sexta-feira à noite, que o retorno às aulas presenciais seria obrigatório. “Já chamei várias outras mães para se associarem. Uma mãe determinada é uma leoa. Várias mães são uma manada de leoas!”, convoca.

Carol expõe preocupação especial com as novas variantes do coronavírus, que trazem nova imprevisibilidade, especialmente no Brasil, onde a vacinação caminha muito lentamente. “Até o final do ano, o governo deveria estabelecer como período de experiência, para ver como o vírus vai se comportar. Os gráficos diminuíram porque as pessoas começaram a se vacinar. E mesmo assim não é garantia de imunização. A variante Delta já chegou no Estado. Não é hora de estabelecer obrigatoriedade, é hora de flexibilizar, para planejar o ano que vem”, orienta.

“Eu prefiro que meu filho perca o ano letivo do que a vida. Eu super entendo que as crianças precisam de socialização, que precisam do contato com o professor. Mas eu prefiro agora continuar confinada com meu filho, meu marido e minha mãe, do que ficar de joelhos pedindo pela vida de alguém ou em porta de cemitério. O governo vai garantir que meu filho não vai pegar a doença e que se pegar não vai morrer?”, desafia.

A rejeição à obrigatoriedade também vem de famílias que já haviam optado pelo ensino híbrido, como a de Mariana Saturnino de Paula, cujo filho estuda na rede municipal da Serra. “A gente tem o temor da contaminação. Ele estava no sistema híbrido, com todos os cuidados, mas agora, sendo obrigatório, muitos pais vão acabar enviando seus filhos, o que vai aumentar o número de alunos nas salas, aumentando também o risco de contaminação”, descreve.

Equipe insuficiente
Sendo autista, o filho de Mariana contava com um estagiário que lhe assistia nas aulas presenciais, mas a chegada de mais crianças com essa necessidade vai encontrar uma escola com número insuficiente de estagiários. “Semana passada a escola mandou uma convocação informando que não tinha estagiário para acompanhar as crianças com necessidades especiais. São somente dois por turno! A escola não disse que não era para não levar as crianças, mas colocou para nós essa realidade”, relata. A informação, conta, lhe pegou de surpresa. “Até então, eu imaginava que estava tudo estruturado para o meu filho voltar”.

Mariana conta que entende a situação delicada da escola. “A escola se viu travada, não tinha mais como agir. Fez vários ofícios pedindo esses profissionais, mas não teve retorno. Isso causou preocupação aos pais. A escola tem 17 alunos da educação especial para esse sistema híbrido. Não dá conta, mesmo na perspectiva do estímulo à autonomia da criança. Há situações que uma estagiária consiga cuidar de duas, mas tem criança que precisa de um estagiário exclusivo, para se locomover, para se higienizar depois do banheiro. Estamos nesse impasse, de mãos atadas”, lamenta.

Por esses e tantos outros motivos, Mariana afirma que não é o momento de obrigar o retorno presencial. “Há uma pressão de todos os lados para que haja um retorno, mas não é seguro agora. Nem toda população foi vacinada e há casos de Covid entre crianças também”.

‘Só volta vacinada’
Posicionamento semelhante é de Antelmo da Silva Junior, pai de uma estudante do Ensino Médio da rede estadual de Vitória. “O Mapa de Risco estando verde, significa que tem UTI para você, se você precisar. Mas essa vai ser a nossa medida? Se tem UTI ou não? Eu não consigo entender que ter UTI disponível para minha filha vai garantir a vida dela”, critica.

Os menores de 18 anos sem comorbidade continuam sem previsão de vacinação no Brasil, ressalta Antelmo. Voltando às aulas presenciais, descreve, “terão que enfrentar transporte coletivo, terminais de ônibus, filas, uma série de situações onde estarão expostos. O ensino remoto é muito difícil, tem muitas deficiências na rede estadual, mas eu prefiro que a minha filha permaneça no ensino remoto do que voltar a usar o transporte público e aumentar o risco de contaminação. A minha preocupação é essa, o meu posicionamento firme é esse”, aduz.

O Estado, enfatiza, “precisa assumir a responsabilidade de melhorar a vacinação. Todo mundo sabe da incompetência do governo federal, mas a gente não pode pagar essa conta. A vida dos nossos filhos não pode ser colocada em risco”. Por isso, afirma o pai: “Eu repudio de todas as formas a ideia de punir um pai que não vai levar seu filho para escola agora, por não querer colocá-lo sob risco de ser contaminado com a doença mais perigosa dos últimos 100 anos. Minha filha não volta para escola enquanto não for vacinada. E eu apoio os pais que estão fazendo isso e a campanha da Assopaes”.

Mais Lidas