Levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado no Anuário 2021, aponta um elevado índice de mortes decorrentes de intervenções da Polícia Militar (PM) no Espírito Santo. Segundo a pesquisa, em 2019 foram 35 óbitos causados por ações de policiais em serviço. No ano de 2020, o número aumentou para 39. Dados de falecimentos decorrentes de intervenções da PM fora de serviço também são apontados. Em 2019 foram cinco e, no ano seguinte, seis.
No que diz respeito à Polícia Civil (PC), os números referentes às mortes decorrentes de intervenções dessa corporação em serviço no ano de 2019, segundo o Anuário, não foram disponibilizados. Em 2020, aponta o documento, ocorreu uma morte. Já o óbito decorrente de intervenções da PC fora de serviço é considerado pela pesquisa um fenômeno inexistente no Espírito Santo no ano retrasado. Em 2020, houve uma morte que se enquadra nesse quesito.
Cryslaine Zeferina, integrante do Coletivo Beco, entidade da sociedade civil que atua no Território do Bem, em Vitória, questiona os caminhos a seguir com base nos dados do Anuário. “A pergunta é: o que o governo vai fazer a partir disso? É importante destacar que toda mãe sem filho sabe quem atirou, e muitas foram na Corregedoria e outras não. O que a Corregedoria tem feito?”, reforça, destacando que as mães que não denunciam o fazem por medo. “Ou seja, a Polícia Militar causa medo e aterroriza, não guarda nossas vidas”, denuncia.
Para ela, o Espírito Santo tem “uma Polícia Militar despreparada e truculenta, que sempre sobe os morros procurando os mesmos alvos”. A integrante do Coletivo Beco afirma que as comunidades estão cansadas “e gritando que essa violência estrutural e institucional é um plano genocida para nossos corpos”. Cryslaine indaga: “até quando? Quem será nosso salvador? Porque o governador [ Renato Casagrande] e o coronel Ramalho [ secretário estadual de Segurança Pública] não são, afinal, a bala que é lançada é assinada por eles com sua caneta dourada e repleta de sangue periférico”, lamenta.
Território do Bem
O Território do Bem, local de atuação do Coletivo Beco, do qual Cryslaine faz parte, tem sofrido com a violência policial. No bairro Bonfim, por exemplo, no último dia 24 de junho,
uma ação policial culminou na morte do adolescente Danilo Cândido de Jesus, de 16 anos, e deixou outro jovem baleado na perna. Cryslaine afirma que, após ser baleado, Danilo foi levado para a rua, pois a família queria ajuda para socorrê-lo, o que foi negado pelos policiais. O socorro, relata, veio somente depois de muita insistência, mas sem que nenhum integrante da família pudesse acompanhar o rapaz na viatura rumo ao Hospital São Lucas, onde veio a óbito.
A violência não parou por aí. A tia de Danilo, em vídeo que circulou nas redes sociais, ressaltou que os policiais chegaram a bater em uma menina de 12 anos e, enquanto os familiares tentavam socorrer o rapaz, foram ameaçados com spray de pimenta.
Mortes de policiais
O anuário também traz dados sobre mortes de policiais civis e militares em confrontos durante o serviço e em confrontos ou lesão não natural fora do serviço. Ambas as situações, de acordo com a pesquisa, tratam-se de um fenômeno inexistente no Espírito Santo nos últimos dois anos entre a PC. Em meio à PM, mortos em confronto durante o serviço também são inexistentes em 2019 e 2020. Entretanto, no outro quesito foi registrado um óbito no ano passado e os dados de 2019 não foram disponibilizados.
O Anuário apresenta ainda dados sobre suicídio em meio aos trabalhadores da ativa das duas corporações. Tanto entre os policiais militares quanto entre os civis foi registrado um suicídio em 2020, mas nenhum em 2019. Os números sobre mortos por Covid-19 apontam um óbito na Polícia Civil e cinco na Polícia Militar. Os dados sobre afastamento por causa da doença também mostram um índice maior entre a PM, que registrou 1 mil, enquanto a outra corporação registrou 258.