Acuado, presidente busca elementos que possam ampliar seus poderes à frente do governo
Jogado às cordas no canto do ringue que ele mesmo construiu, acuado cada vez mais pela manifestação contrária das elites financeiras e econômicas que o elegeram, divulgada semana passada, e derrotado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados na votação do voto impresso, Jair Bolsonaro parte para um dos poucos caminhos que lhe resta: engrossar os movimentos que possam levá-lo a um embate feroz com as instituições, na tentativa de estabelecer um regime ditatorial no país.
Paga pra ver e, nesse jogo, demonstra que governa para destruir, característica de personalidades malignas voltadas, unicamente, a seus próprios interesses. É só o que vale para ele e seus filhos, insensíveis à dor dos mais de 550 mil mortos da Covid-19. Nesta terça-feira (10), está previsto um desfile de tanques e blindados militares na Praça dos Três Poderes, em Brasília, para demonstrar o apoio das Forças Armadas à sua gestão, em mais uma investida antidemocrática.
A justificativa oficial para o ato é a de levar ao presidente o convite para participar de treinamento da Marinha, mas, na realidade, o aparato é parte do conflito gerado na tomada de posição do Supremo Tribunal Federal (STF), hoje menos acovardado para não ser sufocado, que representa barreiras necessárias à manutenção da democracia. Somadas às manifestações de rua, formam a frente de resistência que apavora Bolsonaro.
Não é de agora que ele constrói um cenário de trevas. Vem desde o começo da gestão. Essa arquitetura maligna conta com a cumplicidade do procurador-geral da República, Augusto Aras, do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), guardadores fiéis de denúncias que poderiam desaguar no impeachment, e de empresários da fé cristã, como Silas Malafaia, repercutindo em casas legislativas nos estados e municípios.
No Espírito Santo, a nau dos insensatos é puxada pelos deputados estaduais Torino Marques (PSL) e Carlos Von (Avante), por meio de discursos sem conteúdo e cheios de denúncias vazias, e, na Câmara de Vitória, pelo vereador Gilvan da Federal (Patri) e suas bravatas próprias do autoritarismo fascista. Um terceiro, o também deputado estadual Capitão Assumção (Patri), mudou o comportamento, caracterizado na maioria das vezes por falta de decoro, que, não fosse o corporativismo dos colegas, já lhe teria custado o mandato.
Uma situação decorrente da frouxidão das instituições, como o STF, por exemplo, que atuaram a partir de 2016 para viabilizar a prisão do ex-presidente Lula e a eleição de um tipo como Bolsonaro à Presidência da República. O monstro, agora, mostra a sua face e, mesmo acuado, consegue tumultuar o país e investe em seus projetos de ditador, com desrespeito às instituições, dando mostra de que não acatará decisões contrárias a procedimentos que ferem as leis. Esse quadro entra no campo do imponderável, o que contribui ainda mais para o agravamento da crise em que o país se encontra.