Os acampados da ocupação Vila Esperança, na região de Terra Vermelha, em Vila Velha, fizeram uma barricada com pneus e pedaços de pau na manhã desta quinta-feira (12), para dificultar o acesso da Guarda Municipal ao local. “Eles costumam vir de manhã. A gente não quer confronto, só quer que eles não entrem sem uma ordem judicial de despejo”, diz um dos acampados, Rodrigo Silva Santos Gillo. A iniciativa se deu porque a Guarda, nessas quarta e terça, chegou ao local e despejou algumas famílias
A Polícia Militar (PM) chegou a ir até o local nesta manhã, alegando ter recebido denúncias de que as pessoas estavam fechando estrada, mas, conforme relata Rodrigo, ao constatar que a informação não era verídica, se retirou. No primeiro dia de despejo, 12 famílias foram retiradas do local com a alegação de que estavam cometendo crime ambiental por construção de barracos em área de mata. Na ocasião, elas se retiraram do lugar e apenas três pessoas ficaram. No segundo, foram despejadas três famílias. Em ambas situações, as pessoas tiveram seus barracos derrubados e pertences apreendidos.
Além do despejo sem ordem judicial, outra reclamação do grupo é que em nenhum momento a gestão de Arnaldinho Borgo (Podemos) enviou assistente social para conhecer a realidade dos acampados. Rodrigo relata que, na tarde dessa quarta-feira, os acampados se reuniram com os vereadores Joel Rangel (PTB), Renzo Mendes (PP), Romulo Lacerda (PSL) e um representante da vereadora Patricia Crizanto (PSB), que se comprometeram a dialogar com o prefeito sobre o assunto.
Os acampados tinham uma reunião virtual com o Núcleo de Defesa Agrária e Moradia da Defensoria Pública do Espírito Santo (DPES) no próximo dia 16 para tratar de suas reivindicações e do despejo. Entretanto, conseguiram remarcar para a tarde desta quinta-feira (12).
‘Só quero um lugar para morar’
Uma das acampadas, Joceane Bonfim, teve o barraco derrubado nessa terça-feira e parte dos seus pertences apreendidos. Ela estava na área da mata, mas após a chegada da Guarda, foi para outra parte da ocupação, onde tem uma casa abandonada, na qual está vivendo. Joceane, que antes morava na rua, se encontra em Vila Esperança há quatro meses. “Só queria um lugar para morar, pode ser um quarto e sala, não importa o tamanho. Esse é meu sonho, além de ter meu trabalho”, diz.
A acampada relata que veio de Jequié, na Bahia, tentar uma vida melhor no Espírito Santo. Assim que chegou ao Estado, conseguiu emprego como auxiliar de serviços gerais em uma empresa terceirizada que presta serviço na área de limpeza. Entretanto, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) a impossibilitou de trabalhar. Sem emprego, foi morar na rua até que soube da ocupação e resolveu ir para lá. “Morar na rua não é fácil. Na ocupação é bem melhor. Tem cobertor, alimento. As pessoas se ajudam. Fui muito bem acolhida”, conta.
Ocupação Vila Esperança
Vila Esperança conta com cerca de 700 pessoas. A área começou a ser ocupada há três anos, mas nos últimos seis meses se intensificou, atingindo a região da mata. Um dos objetivos dos acampados, segundo Rodrigo, é pegar o cadastro das famílias e encaminhar para a gestão municipal e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para pleitear a posse da terra. Também querem firmar parcerias com projetos sociais para inserção das pessoas no mercado de trabalho.
Rodrigo relata que, por causa do aumento do desemprego, moradores de bairros próximos, como Ulisses Guimarães e Ponta da Fruta, têm procurado a ocupação, que não tem água encanada, rede de energia, nem tratamento de esgoto. “Ou a pessoa paga aluguel ou ela come. O dono do aluguel quer receber para também poder comer”, afirma.
Os acampados criaram a Associação Vila Esperança, da qual Rodrigo é conselheiro fiscal. Por meio dela, também buscam seus direitos.
Uma das atividades que as famílias têm feito é a criação e manutenção de uma horta comunitária na ocupação. “Não é todo mundo que tem R$ 2,00 para comprar um pé de alface ou um pé de couve, mal, mal tem para o arroz e o feijão. Queremos usar a terra não somente para morar, mas também para produzir alimento”, ressalta.
Denúncias
Segundo a prefeitura de Vila Velha, os despejos foram realizados após denúncias feitas para a Coordenação de Fiscalização Ambiental, que encaminhou fiscais ambientais em conjunto com a Polícia Militar Ambiental ao local, em 30 de julho, para confirmar se havia uma ocupação.
A área, segundo a prefeitura, é uma Reserva Legal, com vegetação de Mata Atlântica em estágio secundário de regeneração, portanto, protegida pela Lei Federal 11.428/2006. A gestão de Arnaldinho Borgo afirma ainda que, conforme o Plano Diretor Municipal (PDM), a área é uma Zona de Especial Interesse Ambiental (ZEIA).
Rodrigo afirma que em nenhum momento os acampados cometeram degradação ambiental. “O desmatamento realizado foi feito antes mesmo da ocupação começar. A gente tem orientado as pessoas a não desmatar, a não construir estradas na região”, pontua.