Falta de diálogo com o secretário Thiago Carreiro e de transparência em eleição do conselho são os problemas apontados
Artistas independentes da Serra realizam campanhas nas redes sociais contra o secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer, Thiago Carreiro (Cidadania), que também é vice-prefeito do município. Eles reclamam da falta de diálogo com o responsável pela pasta, além de pedirem mais transparência no processo eleitoral do Conselho de Cultura.
Em uma nota que circula nas redes sociais, os artistas afirmam que a situação se agravou na atual gestão da secretaria. “Em toda história da gestão pública de nossa Cultura, nunca vivemos um momento tão sombrio. Somos acostumados com as burocracias do serviço público, com as sucessivas barrigadas que levamos de gestor pra gestor, porém algo inédito tem o ocorrido, temos um secretário que desde o primeiro momento despreza o diálogo, desrespeita os legítimos representantes da classe artística e debocha da nossa impotência”.
Na próxima segunda-feira (16), serão realizadas as eleições de composição do Conselho Municipal de Cultura (CMCS). O músico Eduardo Lima, que participa da mobilização, aponta dificuldades de contato com a comissão eleitoral sobre o processo.
“Vim aqui buscar informações a respeito das eleições do Conselho de Cultura e, infelizmente, não consegui encontrar ninguém da comissão aqui. São cinco pessoas que compõem essa comissão e nenhuma está aqui para dar informações. Ontem [quarta, 11] eu liguei o dia todo para a secretaria nos números disponíveis no site, mas ninguém atendia às ligações”, disse em um vídeo publicado nesta quinta-feira (12).
O músico afirma que também não conseguiu ter acesso à ata de análise dos artistas que se inscreveram no processo eleitoral, sob justificativa de que o documento ainda estaria em fase de finalização. “Quando você faz uma análise, tem que lavrar ata e a comissão eleitoral tem que assinar logo em seguida. E todos têm que saber quem esteve presente acompanhando. Isso é pra dar lisura ao processo”, aponta.
Eduardo informa que já levou as reclamações para a Ouvidoria. O músico, que já foi diretor de cultura na Setur em 2019, se diz desapontado com a atual gestão. “A gente tinha expectativa, porque a gestão passada já foi ruim, já foi péssima, e a gente achou que não poderia ficar pior, mas ficou. Uma secretaria que tem tratado o artista com soberba”, criticou.
No momento, apenas dois dos sete cargos titulares estão ocupados no Conselho de Cultura. No dia 20 de julho, a Mesa Diretora e parte dos suplentes decidiram renunciar, alegando impossibilidade de diálogo com a gestão do prefeito Sérgio Vidigal (PDT), além de denunciar a falta de participação do colegiado nas decisões da área.
O período de reeleição no conselho também motivou a renúncia coletiva. Os membros do colegiado reclamavam da demora para publicação do edital para o pleito e a falta de participação do colegiado no processo eleitoral. O chamamento foi lançado no Diário Oficial no dia 21 de julho, um dia após o anúncio da renúncia coletiva.
MPES
As denúncias de falta de autonomia e participação do conselho chegaram ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A Promotoria da Serra enviou uma notificação à ex-presidente do colegiado, Fernanda de Oliveira, para prestar esclarecimentos mais detalhados sobre os problemas.
Isso porque, após a renúncia coletiva, os membros do conselho enviaram um ofício ao MPES comunicando os motivos da decisão e as dificuldades enfrentadas no contato com a Secretaria de Cultura. Fernanda será ouvida no dia primeiro de setembro, de forma remota.
“Serão esclarecimentos sobre o conselho, principalmente por não participar ativamente das políticas de cultura por falta de oportunidade. O objetivo é que o Conselho de Cultura seja respeitado e seja demandado nas questões que lhe cabem”, aponta a ex-presidente do colegiado.
Os vencedores das eleições que acontecem na próxima segunda-feira terão um mandato até 2023. O pleito acontece de forma presencial na Secretaria Municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Setur), das 8h30 às 18h30.
O produtor cultural Rogério Morais foi um dos conselheiros que permaneceu no colegiado após a renúncia coletiva. Ele espera que as eleições de composição sejam positivas para a cultura na Serra. “O conselho é um espaço democrático para construir a política cultural do município. Quando a gente consegue trazer pessoas novas, novos conhecimentos, tem uma renovação”, afirma.
Questionado sobre a falta de diálogo entre a secretaria e o conselho, ele considera que é um problema que ultrapassa gestões da prefeitura. “Eu fui presidente do conselho por quatro anos e senti o descaso do poder público. Essa relação complicada existe há vários anos, não foi de agora. Quando fui presidente, também fiz inúmeras solicitações e ninguém nunca atendeu”, lembra o produtor cultural, que assumiu a liderança do colegiado em 2012.
Para os próximos anos, Rogério espera que o cenário seja mais positivo. “Cada um deve cumprir o seu papel. O poder público deve executar as políticas, e o conselho acompanhar e fiscalizar. Se cada um fizer o seu papel, teremos sucesso no desenvolvimento cultural da Serra”, aponta.