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Não aprendeu

Em meio a nova crise com policiais, Hartung “tira o corpo fora” e tenta dar lição em problema que foi inábil para resolver

Leonardo Sá

Com trajetória marcada pela maior crise da Segurança Pública do Estado, a greve da PM de 2017, o ex-governador Paulo Hartung (sem partido) voltou à cena nacional nesta terça-feira (24), no contexto das ações que apontam possível “infiltração bolsonarista” nas polícias militares e que renderam alerta de João Doria (PSDB), de São Paulo, aos demais governadores do País, depois de afastar um coronel da ativa que fez convocação para o protesto do dia de setembro, inflado pelo presidente da República. Em mais uma tentativa de se livrar de sua responsabilidade no movimento que durou 22 dias no Espírito Santo, decorrente da total ausência de diálogo com as forças policiais sobre pautas como melhorias salariais e de trabalho, e, depois, da incompetência para encerrá-lo, Hartung repetiu no podcast Cafê da Manhã, da Folha de S.Paulo, o discurso de politização da greve, sugerindo desta vez interferências nacionais, inclusive da “bancada da bala” do Congresso, embora o contexto na época fosse distinto do atual. Como não poderia faltar, também tentou dar lição em governadores, responsabilizando-os por “conivência” com a atual situação. O ponto central levantado por ele, neste caso, foi a anistia concedida a militares que participaram da mobilização, a cargo por aqui do seu adversário político, Renato Casagrande (PSB), que assim que assumiu o cargo, desfez as punições e afastamentos impostos por Hartung a 2,6 mil PMs. “Um tirambaço no próprio pé”, afirmou o ex-governador nesta terça, emendando que a medida foi um “erro grave” e “flertou com a visão de curto prazo, interesse eleitoral e viés de populismo”. E qual é a solução de Hartung para os governadores frearem, agora, esse movimento de politização nas PMs e impedir uma radicalização? “Fazer o que uma liderança precisa fazer, conversar com as polícias, dialogar, convencer”, indicou, dando mais uma aula do que até hoje ainda não aprendeu.

Sem base
O ex-governador também colocou na conta da anistia o peso de ter “demolido a base estrutural de hierarquia e disciplina da PM”. É a explicação, segundo ele, para o enfraquecimento atual dos governadores.

PH, o pensador
Como de hábito, Hartung soltou várias frases de efeito, do tipo: “o líder, quando não tem responsabilidade, planta vento e, muitas vezes, ele mesmo colhe tempestade”; “jogar lixo para debaixo do tapete não vai resolver os problemas”; “quando a maça não é boa, tem que tirar”.

Agora?
Para completar a lista de contradições, ainda exaltou as forças de Segurança Pública como “muito importantes”, depois de impor um verdadeiro pesadelo a essas categorias em sua gestão passada – 2015 a 2018.

Omisso
Na greve, é bom que se registre, também houve erro do movimento, o que culminou, junto com a omissão do governo, num cenário de mais de 200 mortes e pânico generalizado na população. A narrativa repetida à exaustão por Hartung, no entanto, é fictícia. Não houve gestão da crise e, sim, uma única estratégia de espalhar ameaças e punições. 

Consequências
Estratégia essa que também teve efeitos trágicos na tropa da PMES, com casos de suicídio e afastamentos por motivos de saúde.

‘Infiltração bolsonarista’
Voltando aos tempos atuais, não é novidade que os policiais militares do Estado têm afinidade com o presidente Jair Bolsonaro e o apoiaram nas eleições de 2018. Mas a que ponto chega esse apoio no contexto alertado em nível nacional?

2022
Também não é novidade, que há uma tensão com o governo Renato Casagrande em decorrência de medidas paralisadas durante a pandemia, como o pagamento da revisão anual e, da mesma forma, movimentações com peças que se articulam para 2022, como Carlos Manato (sem partido), palanque bolsonarista, e o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos). Até ano que vem, sem dúvida, serão muitos os desdobramentos nesse campo.

Bate-rebate
Nesta semana, aliás, na votação do projeto de reestruturação da PM, criticado por entidades representativas e deputados, o nome de Hartung foi lembrado em discursos na Assembleia por governistas, devido à “herança maldita” deixada na área, como a falta de efetivo. Outro tema foi exatamente a anistia concedida por Casagrande.

Nova rodada
Sobre os pontos de insatisfação, o governador já repetiu algumas vezes a abertura da mesa de diálogo com as forças de segurança no início do próximo ano,  vencido o prazo da lei federal de socorro aos estados na pandemia. O resultado disso, se para pior ou melhor, também veremos!

Nas redes
“Chegou a hora do basta. 7 de setembro, pelo voto impresso e impeachment de Alexandre de Moraes. O Brasil vai parar. Eu vou, e você?”. Deputado estadual Capitão Assumção, do Patriota.

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