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A vontade, a curiosidade e o diálogo necessários para a verdadeira inclusão

Acampadas há 23 dias na Serra, Mães Eficientes sabem que pedem bem menos do que a lei garante a seus filhos

A verdadeira inclusão na Educação de crianças e adolescentes com deficiência é possível e beneficia a toda a sociedade. Importante afirmar esse fato, ao relatar uma mobilização de mães que já dura 23 dias e promete se encerrar apenas diante do atendimento mínimo dos direitos garantidos a seus filhos na legislação brasileira.

Acampadas na Prefeitura da Serra desde o dia nove de agosto, dezenas de integrantes do Coletivo Mães Eficientes Somos Nós (MESN) driblam o cansaço e afirmam que a pauta é muito objetiva: só voltam para casa mediante a contratação dos profissionais em Educação Especial em número suficiente para que seus filhos possam frequentar as aulas presenciais estabelecidas como obrigatórias na rede municipal desde o dia dois, seguindo a determinação estadual em vigor desde 26 de julho.

Mães Eficientes Somos Nós

“É como se as nossas crianças fossem lixos. Não maltratam as crianças, mas é uma invisibilidade, é como se nós não estivéssemos aqui. Foi naturalizada nossa presença aqui. É desumano. Desumanizaram a gente”, descreve Lucia Mara Martins, coordenadora estadual do Coletivo. “A gente pede o mínimo do mínimo do mínimo”, reconhece, com base na experiência de 30 anos de militância coletiva e na experiência própria dos três filhos com deficiência.

Os relatos de negativas em receber os alunos com deficiência, em diversas escolas, contrapõem a alegação da prefeitura de que já fez o que era quantitativamente possível para professores especialistas (490 em atividade) e cuidadores (150) e que, para conseguir atrair os estagiários para as vagas ainda abertas, vai subir o valor da bolsa paga aos estudantes. Mas, se as crianças são enviadas de volta para casa, então o que foi feito não é suficiente. Seja quantitativa ou qualitativamente. Contra os fatos, não há argumentos, mas pode haver diálogo, bom senso e um pouco de curiosidade técnico-política em saber se os vizinhos estão conseguindo lidar melhor com a situação, que é desafiadora em escala nacional e histórica.

Na escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), onde os filhos de Lucia passaram, e na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde estudam, eles vivenciaram e vivenciam a verdadeira inclusão. “No Senai os professores preparavam aulas especiais para os alunos com deficiência, mas eram pra todos e ajudavam a todos a entenderem melhor as matérias”, conta. E no contraturno, arremata, o trabalho tem que complementar ao que é ensinado no turno, para que o aluno especial consiga vencer as barreiras e de fato acompanhar a aprendizagem ofertada na escola.

“A gente sabe que tem que ser assim, que a lei determina essa inclusão”, afirma. Mas esse patamar, quando reivindicado na Serra, onde residem a maioria das mães do Coletivo, foi considerado inviável, tendo como contraproposta o investimento, mais barato, em estagiários e cuidadores, novamente, o município seguindo diretriz estadual.

Divulgação CREI/PMSMJ

A curiosidade jornalística levou Século Diário a conhecer a experiência de Educação Inclusiva de Santa Maria de Jetibá, município da região serrana, com 40 mil habitantes e forte cultura pomerana, onde a exposição da gestão da Educação Inclusiva nos últimos seis anos – atravessando já dois mandatos políticos diferentes – coincide com a descrição da experiência no Senai e na Ufes feita pela coordenadora do Mães Eficientes Somos Nós.

É um pouco mais custoso que o trabalho feito na maioria das redes municipais e na estadual, mas “a gente vê como um investimento na potencialização dos nossos alunos. Enxergamos as potencialidades e as possibilidades do ensino”, posiciona Joziane Jaske Buss, coordenadora do Centro de Referência de Educação Inclusiva (CREI) da Secretaria de Educação de Santa Maria de Jetibá.

Mães Eficientes Somos Nós

Se um pode, todos podem. “Já estamos aqui há 23 dias. Amanhã vão ser 24, depois 25…se precisar vamos fazer a ceia de Natal. Mas só saímos quando nossos filhos puderem voltar para a escola. Discutimos hoje se deveríamos mudar a estratégia, mas entendemos que, se a prefeitura quer nos invisibilizar, as pessoas que vêm aqui nos veem e entendem o que a gente está passando. Vamos continuar”, garante Lucia, em nome do Coletivo.

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