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​À nossa ética

Liquefazer o pensamento para amaciar o coração!

Quero mergulhar em nosso universo de ação, nossa ética, avaliar e julgar os juízos que edificam em cada um de nós o espírito de nosso tempo.

Existe a necessidade de um esclarecimento prévio para aqueles que têm o eros da Filosofia explícito na iniciativa de leitura dessa coluna, mas que ainda caminham em seus preâmbulos. Esse desejo é impulsionador da busca, do mergulho nos conceitos, do garimpo a pensamentos primeiros, tanto lá na Filosofia antiga, que se faz sempre presente, como na contextualização contemporânea e suas aberturas constantes para o novo tempo.

Assim, quero antes, esclarecer as relações entre moral, ética e juízos, não as diferenças nem as semelhanças, mas as relações.

Começarei pela ética que pode ser entendida como uma parte da Filosofia que estuda o ethos, – nossa casa espiritual – como uma ciência que investiga o modo de se comportar, de atribuir valores, de reconhecer o outro, a nós mesmos e o mundo prático a nossa volta, mundo prático no sentido do agir individual na coletividade. Esse estudo se transforma em ação, do sujeito, justificada, apropriada, compreendida como plausível.

Agora vou mergulhar no exercício de compreensão dos juízos, justificação, julgamento, discernimento, entendimento, critério. No contexto da ética: a razão da ação. Quando ligada ao indivíduo, poderíamos chamar de “juiz interior”, que recomenda, autoriza ou não a ação. Em comunidade, seria uma demonstração de pertencimento do sujeito ao ethos reinante em seu meio.

Por fim a moral. Costumes, regulamentos, crenças, modos de pensar de um grupo social, que se transformam em comportamento aceito, devido, próprio dali.

Esclarecido precariamente, e na expectativa de que o leitor estimulado ao desejo, eros, busque o aprofundamento da compreensão dos conceitos, vamos às relações.

A ética estuda os valores que justificam a ação do sujeito em seu mundo, esses valores são construídos a partir dos julgamentos que esse sujeito faz desses valores e que o levam a agir em sintonia com sua própria consciência.

A moral, frente ao ethos, estabiliza, normatiza, transforma o comportamento individual ético numa espécie de regra, ou naquilo que se mostra próprio ao conjunto dos sujeitos que compõem aquele grupo social. Essa normatização às vezes é formal, como no caso das leis e regulamentos estabelecidos, às vezes é simplesmente moral, no sentido de aceito incondicionalmente.

Permeando os dois conceitos, está o juízo. Considerando a liberdade como a condenação humana (J. P. Sartre), o sujeito da ação, ou no melhor entendimento, o sujeito-ação (F. Nietzsche), é protagonista do julgamento que lhe autoriza agir, às vezes dentro da moral, às vezes considerando-a, mas utilizando uma margem de manobra que permite um afastamento plausível, para ele, da norma moral e às vezes até numa sua ética específica, podendo inclusive ser imoral.

Concluo, com o lixo da minha opinião, que é o endurecimento do coração que clama pela moral, uma vez que unidos à construção humanística, a ética por si só daria conta de nossa vida comunitária, que a título de exemplo nunca exigiria Lei Maria da Penha, bancos prioritários nos coletivos ou escolas específicas para pessoas com deficiências.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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