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Apoio ao SUS cresceu e população quer vacina e informação segura

Dados são do SoU_Ciência, centro de estudos que tem pesquisadores do ES, Brasil e exterior, e combate a desinformação e o negacionismo

Rovena Rosa/ABr

Durante a pandemia de Covid-19, o apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS) cresceu 53,1%, atingindo importância alta e altíssima entre 78% da população brasileira. Entre os mais ricos (pessoas com renda superior a cinco salários mínimos), o índice foi de 100%, uma verdadeira “descoberta do SUS”.

Apenas 5% da população não quer ser imunizada contra o novo coronavírus (índice quatro vezes menor que o dos Estados Unidos), contra 94,5% que é a favor.


Os telejornais são a principal fonte de informação confiável (44,4%); seguido dos artigos científicos (39,8%); redes sociais (38,7%); jornais e revistas (35,3%); e sites de universidades e institutos de pesquisa (32,1%), considerando que uma mesma pessoa busca mais de uma fonte cotidianamente para se informar.

Esses são alguns dos dados divulgados pelo SoU_Ciência, um centro de estudos e Think Tank sobre Sociedade, Universidade e Ciência sediado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e que conta com mais de 50 pesquisadores de todo o país, incluindo dois professores doutores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel e Fabio Malini, e também do exterior.

Os dados são resultados preliminares de levantamentos realizados em parceria com Idea Big Data e publicados quase que diariamente na aba “Sociedade Fala”, desde o lançamento da iniciativa, em julho.

Coordenadora-geral do SoU_Ciência, a Profa. Dra. Soraya Smaili iniciou o desenvolvimento do projeto durante sua gestão na reitoria da Unifesp, concluída em abril, e explica que essas pesquisas de opinião compõem a estratégia inicial de diálogo do projeto com a população com objetivo de responder a perguntas como: “o que a pandemia mudou na vida das pessoas? O que precisa ser informado para que elas tomem as melhores decisões e como elas entendem que a universidade pode melhorar a vida delas?”.

Esse diálogo, diz, está em torno do ensino superior no Brasil e da ciência e saúde produzida nas universidades. A pandemia, afirma, “é o tema central nas nossas universidades, no que diz respeito aos projetos de ensino e às pesquisas, e também nos nossos hospitais universitários, na formação dos profissionais de saúde que estão na linha de frente e atuam na assistência à população”.

O tema é fortemente presente não só nas pesquisas em ciências da saúde, mas também sociais e ambientais, atingindo, em maior ou menor grau, todas as áreas do conhecimento produzido na academia.

“A forma como a sociedade se comporta em relação ao meio ambiente pode gerar novos patógenos e novas pandemias. A depredação do meio ambiente, o consumo inadequado de animais, o uso inadequado dos recursos hídricos, são fontes de risco. A saúde é única, não há saúde humana se não houver saúde animal e ambiental. É uma tríade: animal, humano e o recursos naturais”, exemplifica.

Potência
Integrante do Comitê Científico do SoU_Ciência, e pós doutora em Epidemiologia pela Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, dos Estados Unidos, a enfermeira e epidemiologista Ethel Maciel entende que a iniciativa tem “uma potência muito grande para combater o negacionismo e a desinformação”, principalmente ao “colocar luz em estudos científicos feitos nas universidades”, tornando-o mais acessível à população, para que ela se beneficie de informações e conhecimentos seguros como forma de proteção aos efeitos da pandemia.

“O negacionismo afetou toda a nossa sociedade e, infelizmente, foi responsável diretamente por muitos óbitos. O papel das universidades passa a ser então fundamental pra combater a desinformação e ser agente de estruturação e sistematização de conhecimento, de forma que ele fique mais acessível à sociedade”, pondera.

A Ufes, ressalta, é um exemplo de como esse potencial tem sido bem utilizado, pois “produziu muitos estudos e pesquisas que possibilitaram que a condução da pandemia fosse melhor direcionada, porque havia evidências científicas dizendo onde tinha mais transmissão e quais faixas etárias que estavam adoecendo e morrendo mais”, descreve.

Além disso, complementa, vários membros da comunidade universitária, no Espírito Santo e outros estados, “passaram a ser fontes individuais de formação, criando canais nas redes sociais para disseminar informação, e isso teve um papel muito importante”. Essas ações individualizadas, salienta, precisam ser fortalecidas e continuadas, mas também “institucionalizadas”, tarefa que o SoU_Ciência também abarcou.

Universidade para poucos ou para todos?
Os egressos são outro tema importante. “Como as pessoas que saem da universidade se inserem na vida do trabalho?”, questiona Ethel. Perguntas que são feitas pelos pesquisadores, com foco nos egressos dos últimos 15 anos, quando houve uma expansão importante do acesso ao ensino superior, principalmente por meio do Programa Reuni. “O que mudou na vida dessas pessoas, quanto melhorou? O estudo vai mostrar o quanto a educação é capaz de transformar socialmente uma pessoa, uma família, um grupo social. Uma das linhas de pesquisas é estudar a política de quotas na transformação social, nesses últimos dez anos”, expõe Soraya.
Em tempos em que o ministro da Educação se posiciona contrariamente à democratização do ensino superior – no início de agosto, Milton Ribeiro declarou à TV Brasil que “a universidade, na verdade, deveria ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade” – mostrar o que para muitos é óbvio, é fundamental para embasar a luta pela retomada do investimento em ciência e o financiamento das universidades públicas.
Menor orçamento em 20 anos
“O fato é que neste governo [de Jair Bolsonaro], o orçamento da ciência e tecnologia está nos piores patamares das duas últimas décadas”, aponta Soraya. A comparação dos orçamentos anuais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), corrigindo os valores pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mostra que houve crescimento durante os governos do PT e decréscimo a partir do ano do impeachment de Dilma Roussef. Em 2009, compara Soraya, o orçamento ministerial foi de R$ 8 bilhões; em 2012, R$ 11 bilhões; em 2016, R$ 5,5 bilhões; e em 2021, está em R$ 1,8 bilhão. “Já o orçamento do Ministério da Defesa cresceu muito neste governo”, lamenta.
A coordenadora conta que alguns estudos anteriores ao SoU_Ciência, feito pelo ex-presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) – empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas, vinculada ao MCTI – Marcos Cintra, dão um indicativo da efetividade do investimento feito na ciência pública, ao mostrar que cada um real investido em produção científica nas universidades públicas retorna em quatro reais para a sociedade. “Temos alguns dados, não muitos ainda, que mostram que não só estamos carentes de financiamento, mas como esse investimento retorna para a sociedade de forma importante”.

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