Em protesto que lotou a beira-mar, manifestantes pediram “vacina no braço e comida no prato”; feijão, e não fuzil; e “fora, Bolsonaro!”
O feriado de sete de setembro foi marcado pela realização da 27ª edição do Grito dos Excluídos, que lotou as ruas de Vitória. Na concentração, que começou às 8h30, na praça Getúlio Vargas, no Centro da Capital, os manifestantes deixaram claro as motivações para o protesto: “serão ecoados os gritos dos sem-terra; dos pequenos agricultores; dos funcionários dos Correios, que defendem soberania nacional; dos trabalhadores, por direitos; das mulheres, por respeito”, enfatizou o padre Vitor Noronha.Junto aos apelos por “comida no prato e vacina no braço” e” feijão, e não fuzil”, também pediram “Fora Bolsonaro”, acompanhados por trios elétricos. O ato se encerrou na prefeitura de Vitória, em Bento Ferreira.
A coordenadora do Centro de Estudos Bíblicos do Espírito Santo (Cebi/ES), Maria de Fátima Castellan, a Fatinha, destacou ainda as 580 mil mortes por Covid-19; a corrupção na compra e distribuição das vacinas; desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS); a carestia e a fome, “que voltaram com tudo”; desemprego; pagamento da dívida pública em detrimento do investimento nas políticas sociais; falta de moradia e o Marco Temporal, debatido no Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo violar os direitos dos índios as suas terras.
“Vivemos um governo genocida, negacionista, promotor do caos, que quer destruir a democracia e soberania de nosso país”, disse Fatinha, referindo-se ao governo Bolsonaro (sem partido).
O lema do Grito deste ano foi “Vida em Primeiro Lugar”, e o tema “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”.
A manifestação foi estruturada nos eixos terra, território e trabalho: a esperança está na organização popular; juventude: protagonismo juvenil e participação popular; vacina já, para todos e todas; soberania e princípio democrático; militarização: racismo e preconceito; esperançar: nós podemos reinventar o mundo; e mulheres: equidade e direitos.
No eixo sobre mulheres, a integrante da Associação de Mulheres Unidas de Cariacica Buscando Libertação (Amucabuli), Ana Lúcia Conceição, denunciou “a fome, o desemprego e as violências sofridas pelas mulheres”, destacando que o Espírito Santo é um dos estados que mais mata as mulheres, principalmente as negras.
Ela também recordou a luta das indígenas, das mulheres do campo, das águas, das florestas, do mangue e do marisco, as que vivem em situação de rua, e tantas outras. “Nosso grito tem que ser ecoado e repercutido em 2022. Fora, Bolsonaro!”, conclamou.
Representando a Convergência Negra Brasileira, Gilbertinho Campos ressaltou que o legado de Lula Rocha “está sendo levado para todo o país”. Também prestou solidariedade à família do ativista, que estava presente na manifestação.
A mãe de Lula Rocha, Maria da Penha Silva, destacou que Gilvan desrespeitou uma família enlutada e recordou a fala do vereador, que afirmou que Lula Rocha atacava os cristãos. “Falar que meu filho não era de igreja, que se desfazia das religiões, é mentira. Se ele não tivesse a formação cristã que eu e Isaías [pai de Lula Rocha] demos, não teria vivido o evangelho de partilha, amor, respeito e acolhimento”, exaltou.
A irmã de Lula, Ana Paula Rocha, salientou que, no Grito, manifestação que seu irmão coordenava há anos, “o povo não defende o ódio, defende a soberania do povo. Isso significa comida na mesa, e não fuzil, significa a solidariedade no meio de nós”.
Campanha ‘Fora Bolsonaro’
Centrais sindicais, partidos políticos, movimentos sociais e várias outras representações da sociedade civil participaram da manifestação, marcada por críticas ao presidente Jair Bolsonaro. O protesto foi um dos maiores já registrados em Vitória, segundo o militante e escritor Perly Cipriano (PT), coordenador de uma das oito alas que encheram a avenida Beira-Mar.
Desta vez, a manifestação do movimento “Fora Bolsonaro” ocorreu conjuntamente com o tradicional Grito dos Excluídos, promovido pela Igreja Católica, envolvida nos movimentos de oposição ao atual governo, inclusive com uma carta aberta à população assinada por mais de 150 bispos, na qual denunciam desmandos de Bolsonaro.
Na concentração em frente à Prefeitura de Vitória, os militantes também condenaram o autoritarismo do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), “bolsonarista de raiz”, como aponta Perly, que também foi objeto de protestos de servidores aposentados do município, em decorrência da nova lei da Previdência, que impôs desconto linear de 14% na folha de pagamento.
“Foi uma manifestação unitária, sem qualquer dissensão, que contrapõe os atos fascistas de Bolsonaro”, diz Perly, ressaltando que o protesto não foi para medir forças com os governistas, mas para manter acesa a “chama de luta contra o fascismo”.
Gilbertinho Campos destacou que o movimento se uniu ao Grito dos Excluídos por terem as mesmas bandeiras, como o “Fora, Bolsonaro”; a defesa da democracia; e vacinação para todos.
Para ele, o Grito deste ano foi “um divisor de águas por toda a resistência dos setores democráticos”. Ele também chamou atenção para a quantidade de pessoas. “Encheu. A beira-mar ficou lotada”, disse.
Nesta semana, a oposição fará uma avaliação a fim de programar outros atos contra Bolsonaro, que, para Perly, sai menor politicamente, ao colocar seus seguidores em clima de guerra contra os poderes constituídos. “Ele quer destruir a democracia”, acentuou.