Um sarcástico escrivão grafou o nome errado no livro dos vivos
Tem lua azul, tem lua vermelha, tem lua branca. Nesta semana celebramos a vida e obra de Chiquinha Gonzaga, minha xará. Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 17 de outubro de 1847. Carioca. Minha xará porque me chamo Wanda Eduvirges, o segundo nome uma homenagem à minha avó, Edwiges. Um sarcástico escrivão grafou o nome errado no livro dos vivos. Tais erros eram comuns naqueles idos, por isso meu pai levou o nome escrito num papelzinho que minha mãe pôs no bolso da camisa. Mesmo assim…
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Acho que essas mudanças eram propositais – precisavam quebrar a monotonia de registrar recém-nascidos o dia todo. Se meu pai esqueceu de mostrar ou perdeu o papelzinho no trajeto casa-cartório, jamais saberemos. A gente só descobre que está usando um nome falso quando vai tirar o primeiro passaporte. Ou nunca. Uma sobrinha tem diploma de faculdade e título de doutora, votou em todas as eleições disponíveis, casou, tem uma filha, viajou para o exterior muitas vezes, e só depois dos 50 fica sabendo que não se chama como sempre se chamou. O interessante é que ela gostou mais do nome errado.
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O que é um nome, no contexto da nossa breve existência? Tive um professor chamado Elizabeto, gente boa. Ficou exultante quando soube que meu nome era Eduvirges, tipo, Ah, finalmente achei um pior que o meu! Seria? Devo admitir que no curso primário o segundo nome me pôs em algumas encrencas, não faltava quem debochasse, ou pelo menos risse. Ou gargalhasse. Hoje levo numa boa, apesar do gritante erro gráfico. Parece até título de filme: O segundo nome.
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Ao adquirir a cidadania americana, temos a opção de mudar de nome – escolha como quer se chamar: mudança de vida e de personalidade. Cheguei a pensar em mudar para Wanda Gates, ou Wanda Jolie – isso de parentesco sempre atrai bons contatos, ou bom papo. Tirar o Eduvirges, única pessoa com esse nome no mundo? Tirar o Sily, que em inglês não soa bem? Que nada! Achei melhor manter o nome de pia e o nome do marido, traçados ambos pelo destino.
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O nome mais usado pelos asiáticos quando recebem a cidadania americana é Clark. Não juro que é por causa do Super Homem, não há estudos fidedignos a respeito dessa preferência, mas deixo aqui o fato registrado. De volta ao passado, Chiquinha Gonzaga nos deixou canções ainda hoje gravadas pelos grandes intérpretes modernos. Oh lua branca, por quem és, tem dó de mim… foi musicista, maestrina, compositora – Oh, abre alas… Foi feminista, abriu muitos caminhos na época vedados às mulheres. Mas o segundo nome deve ter lhe trazido problemas – pesquisando sobre sua vida, encontro o nome grafado com w e com v – erro do escrivão?