Quem leu o artigo de Paulo Hartung (PMDB) no jornal A Gazeta (ele passa a integrar o quadro de colunistas do jornal) desta sexta-feira (26), deve ter se surpreendido com a verve educadora do ex-governador. Logo ele que relegou os investimentos na área social durante os oitos anos em que passou à frente do governo, encarnou Paulo Freire para cobrar mais investimentos dos governantes na educação.
Pasmem, prioridades do seu governo como investimentos em infraestrutura, indústrias, rodovias, entre outros, foram tratados no artigo como secundários. Ele conclamou a importância de um mutirão nacional pela educação democratizada e qualificada.
“O maior desafio nacional no campo da infraestrutura social e econômica não são portos, ferrovias, rodovias, aeroportos, apesar do estrangulamento e da gravidade da situação desses modais logísticos, como bem sabemos nas terras capixabas e o Brasil (…). Nosso maior desafio é a educação, principalmente dos jovens”, escreveu.
Para Hartung, é preciso ajustar as contas do passado – atrasos históricos – e investir para um futuro diferente. Ele cobrou ainda a qualificação da formação escolar e a valorização da carreira de professor e ainda a melhoria dos resultados no ensino de português e matemática.
O que o ex-governador escreveu é o óbvio e consta na pauta de milhares educadores brasileiros que defendem uma educação de qualidade. O detalhe é que durante o seu governo, quando tinha a faca e queijo nas mãos, a educação teve um desempenho medíocre.
A herança deixada para seu sucessor, sobretudo na área social, torna o desafio lançado agora por ele mesmo um tanto mais complicado para o governador Renato Casagrande.
Os números do Movimento Educação para Todos apontam que em 2010 – último ano do governo Hartung -, o Estado registrou 8,1% de taxa de analfabetismo entre os jovens com mais 15 anos de idade. Em 2011, essa taxa diminuiu para 6,4%, mas ainda está acima da média registrada no sudeste (4,8%). Ou seja, nem o básico ele conseguiu fazer.
Além disso, segundo a entidade, 70 mil crianças e jovens continuam fora da escola no Espírito Santo. Dos jovens até 19 anos, por exemplo, apenas 52,1% concluíram o Ensino Médio, em 2010. Já em 2011, esse número melhorou um pouco, subiu para 55,6%, mas ainda está abaixo da média da Região Sudeste, que é de 59,1%.
O Estado também acompanha o baixo desempenho nacional no que diz respeito à queda no nível de aprendizagem no ensino da língua portuguesa e de matemática.
De acordo com o estudo da Ong Todos pela Educação, o Espírito Santo se manteve abaixo da média prevista para 2011 nas três séries avaliadas – 5º ano do Ensino Fundamental, 9º ano do Ensino Fundamental e 3° ano do Ensino Médio (público e privado). O estudo detalhou a evolução do rendimento dos alunos de escolas públicas do país na Prova Brasil, exame do governo federal.
Outro indicador que mostra que o Hartung-educador parece ter vivido em outro Estado, é a alta taxa de homicídios entre os jovens. Como apontam os especialistas, o investimento em educação, aula na qual o ex-governador faltou, é imprescindível para evitar que os jovens, sobretudo os mais pobres, sejam cooptados pelo crime organizado.