A decisão foi tomada em audiência com o governador, da qual participaram o reitor da Ufes, Paulo Vargas; o vice-reitor, Roney Pignaton; a diretora do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE), Louisiane Nunes; a diretora do Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde (CCENS), Taís Cristina Soares; e o vice-diretor desse mesmo centro, Gláucio Cunha. Na ocasião, eles apresentaram a Casagrande a posição contrária à criação de uma nova universidade a partir da fragmentação do campus de Alegre.
A iniciativa de dialogar com o governador sobre o tema já havia sido anunciada pela universidade no dia 19 de outubro, na qual o reitor afirmou que a instituição de ensino iria se posicionar contrária à fragmentação junto ao Ministério da Educação, além de contatar agentes políticos, como Casagrande e o presidente da Assembleia Legislativa, Erik Musso (Republicanos), bem como representantes da sociedade civil.
Durante a audiência, foi informado ao governador o posicionamento do Conselho Universitário, aprovado em sessão extraordinária no dia 15 de outubro, além do apoio à decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e dos conselhos departamentais do CCAE e do CCENS. Para o Conselho Universitário, a fragmentação pode resultar na criação de uma universidade sem condições de sustentabilidade.
Um dos apontamentos feitos para o governador foi a preocupação com a possibilidade de criação de uma universidade que não resultará na ampliação da oferta de vagas e de cursos, nem no incremento da pesquisa e da extensão. Destacou-se, ainda, a falta de diálogo com a comunidade acadêmica a respeito do tema.
Também foi destacado que tem sido previsto para a nova universidade cargos de direção, funções gratificadas e poucos técnicos necessários à constituição da Administração Central, tratando-se, portanto, “de uma proposta de interesse meramente político, que apenas onera o sistema universitário federal com a criação de cargos, sem vantagens concretas para o sistema de ensino superior no nosso Estado, o que muito nos preocupa neste momento em que todas as universidades têm sofrido cortes contínuos de verbas e apresentam dificuldades para fazer face a todas as suas demandas”.
A proposta de fragmentação da Ufes partiu do deputado federal Neucimar Fraga (PSD), por meio do PL 1963/2021, que busca a criação da Universidade Federal de Alegre (UFA). A essa proposta foi apensado o PL 2.048/2021, do deputado federal Evair de Melo (PP), com o mesmo objetivo, mas denominando a instituição de ensino a ser criada como Universidade Federal do Vale do Itapemirim (UFVI).
Para a entidade, a proposta não se trata, de fato, da criação de uma nova instituição de ensino, mas sim da “amputação da universidade já existente, em nome de deslumbres eleitoreiros para enganar o povo nas eleições de 2022”. A Adufes afirma ainda que o projeto de lei “emerge como um rolo compressor sobre o exercício da democracia e da autonomia universitária”, destacando que a criação de uma nova universidade “não pode gerar insegurança, desequilíbrio orçamentário e irresponsabilidade para com a vida de uma comunidade acadêmica de quase quatro mil pessoas do campus sul da Ufes”.
O movimento estudantil também já demonstrou contrariedade à criação da UFVI e da Universidade Federal de São Mateus (UFSM). Esta última é uma proposta de Neucimar por meio do Projeto de Lei 1964/2021, que cria a nova instituição de ensino a partir da fragmentação do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes).
Na nota “Pela Ufes fortalecida e não dividia: contra o fatiamento em 3 partes!”, assinada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e mais 25 diretórios e centros acadêmicos, o movimento estudantil afirma que a proposta é “autoritária”, além de se tratar de “uma afronta aos estudantes, servidores docentes e técnicos-administrativos”, salientado também que “não beneficiará a sociedade capixaba”.
Para o movimento estudantil, os projetos de lei criarão “Universidades Fake”, já que “não há por parte do Governo de Bolsonaro e Mourão e de seu Ministério da Educação o interesse em construir um projeto de expansão que seja viável. Querem apenas separar e dizer que teremos duas novas instituições, com objetivo puramente eleitoreiro e que visa enganar o povo capixaba”.
O Sintufes ressalta que “um dos projetos de divisão da Ufes é de um deputado federal que votou a favor da PEC 32/2020 (reforma administrativa) na comissão especial que analisou e aprovou a Proposta de Emenda à Constituição”, referindo-se a Evair de Melo. O sindicato questiona: “ele estaria visando poder ter influência para indicar funcionários para esta ‘nova universidade’, caso a reforma administrativa seja aprovada?”.