Única ONG formalizada na região de Cidade Continental, na Serra, ICA atendia a 200 famílias antes da pandemia
Única ONG formalizada na região de Cidade Continental, na Serra, o Instituto Continental em Ação se (ICA) prepara para reabrir as portas em janeiro, após dois anos fechado devido à pandemia do coronavírus, com um evento de solidariedade no início de dezembro, o Voluntários em Ação.
Antes de suspender as atividades, atendia a cerca de 200 famílias com projetos de esportes e artes, atendimento psicológico e de assistência social, além de oficinas de capacitação profissional e festas comunitárias – boa parte delas a partir de trabalhos voluntários de professores e colaboradores.
“Juntamos uma equipe boa de voluntários, mães, meninos de projetos que foram ficando maiores de idade. Fizemos festas, rifas, recebemos pequenas doações”, descreve Rubiamara Costa, fundadora, presidente e coordenadora de projetos do ICA, considerada por todos como a mãe da entidade. Assim, em contínuos mutirões, a ONG seguiu sua trajetória.
“Conseguimos manter o ICA mesmo quando perdemos o patrocínio da ArcelorMittal”, conta, referindo-se à siderúrgica vizinha ao Instituto, que apoiou a formalização da entidade como forma de compensação socioambiental pela poluição e outros impactos provocados na saúde e qualidade de vida dos moradores.
A entidade fez história e falta nesse período de distanciamento social. Os relatos misturam experiências pessoais com o reconhecimento do alcance coletivo.
“Entrei no ICA com uns dez anos, no karatê. E a partir daí o ICA veio agregando muita coisa para minha vida: o esporte, o foco nos estudos, porque sempre pedia pelo menos a média e passar de ano para continuar no karatê, e eu sempre busquei as melhores notas possíveis. Tive que dar um tempo do esporte e do ICA para estudar e voltei assim que possível, porque é muito importante para mim. Sempre que a comunidade precisou de algo, o ICA esteve envolvido para ajudar. Hoje estamos reestruturando o ICA, para que ele possa mudar a vida de muito mais pessoas”, declara Mateus Sena Salles, instrutor de karatê na faixa marrom, estudante de Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro da diretoria do instituto.
Shandlyne Cristina Pinheiro conta uma trajetória parecida, mas que começou com seu filho, na época com seis anos, quando iniciou as aulas de judô. “Me apaixonei por tudo no ICA. Fui conhecendo as crianças, o projeto. Na apresentação de balé no final do ano, trabalhei como voluntária para ajudar no espetáculo, que foi no Teatro do Sesi, em Vitória. Depois veio o projeto de dança do ventre, resgatando a autoestima das mulheres…os próprios alunos, vendo que eu queria algo mais, me convidaram para participar das aulas de karatê. Hoje eu sou graduada, faixa vermelha. Nesse decorrer do tempo, a Rubia me convidou para participar da diretoria e, num consenso me indicaram para ser a vice dela. Eu aceitei”, depõe Shandy.
Braço direito de Rubia bem antes de assumir a vice-presidência, ela se orgulha de dizer que foi uma das idealizadoras da quadrilha anual que a entidade sempre fez, em forma de festival. “Nessa época a gente estava passava por dificuldade, mas o quão grande o ICA é, o poder que ele tem de entrar nas casas das famílias, de ajudar as crianças com problemas… á gente vê isso, recebe de volta o carinho deles. É uma coisa muito mágica, vindo das crianças, a gente sabe que é verdadeiro. É muito importante o trabalho do ICA dentro da comunidade. Não é por falta de patrocínio que vamos deixar esse sonho morrer. Estamos aqui para levantar”, exulta.
Atuação ampliada
Ao lado de Shandy e Mateus, dezenas de outros colaboradores apaixonados e comprometidos se mobilizam para o retorno das atividades, nos preparativos do Voluntários em Ação e para as medidas burocráticas necessárias, como a alteração de estatuto que vai permitir a participação da ONG em conselhos com os quais informalmente já trabalha, como o de Direitos da Criança e do Adolescente e de Assistência Social (Comcase e Comasse), além da renovação dos alvarás de Corpo de Bombeiros e Vigilância Sanitária e da retirada de taxas municipais que se acumularam nesses dois anos pandêmicos.
“Vamos poder encaminhar famílias necessitadas pro CRAS [Centro de Referência em Assistência Social]. Antes da matrícula em qualquer projeto, a pessoa vai passar pela assistência social e o psicólogo, se precisar. Queremos saber o que aconteceu com as famílias durante a pandemia. Sabemos das crianças viciadas em celular, ficando bobas, pais e mães desempregadas, famílias em luto. Casos de depressão e suicídio infantil, sendo tratado no Hospital Infantil, mães muito alteradas, precisando de atendimento médico, crianças autistas sem medicação, com surtos, dificultando permanência na escola, e muitas famílias que têm passado fome”, narra, tocando nos pontos mais delicados da vulnerabilidade social que se intensificou durante a pandemia em todo o país.
“Vamos começar a atender mulheres violentadas com assistente social, fazer bazar uma vez por mês e distribuir cestas básicas para mulheres com medida protetiva”, enuncia Rubia. “Já temos voluntários que se apresentaram para dar cursos de bolos, doces, sobrancelhas e contação de histórias para crianças especiais”, elenca.
As despesas de cartório, conta, foram pagas com doações captadas por uma voluntária moradora de Jacaraípe, que de real em real, reuniu todo o montante. A ONG também tem ganhado objetos para rifas e sorteios, como roupas, bicicleta, conjuntos tuperware. “Temos 40 voluntários de toda a Serra, recolhendo roupas, pedindo doações em dinheiro. Quero lutar pra levantar o ICA e não deixar cair mais”, afirma, contando que, o chamado final para o grande mutirão de agora aconteceu no Dia das Crianças.
‘A gente quer brincar’
Como a ONG estava desativada, Rubia aceitou o convite para fazer uma atividade com as crianças do bairro Solar de Anchieta, da Serra. A partir de doações dos comércios locais, conseguiram oferecer brincadeiras e guloseimas. “Corrida de saco, corrida de ovo na colher, bambolês, corda, pula-pula, algodão doce, pipoca, cachorro quente, picolé, lembrancinhas de bala…”, recorda.
A festa foi um sucesso. “Elas gostaram tanto, que mesmo quando acabaram as lembrancinhas, continuaram brincando. ‘A gente não quer prêmio, não, a gente quer brincar!’, falaram. Pediram para gente ir de três em três meses brincar com elas. Me emocionou. Senti muitas saudades das minhas [em Cidade Continental], que falo que são meus filhos. Me senti muito carente, porque a minha vida é voltada pro ICA. Eu só sou feliz com aquelas crianças”, conta, emocionada.
Como ajudar
Para ajudar o retorno grandioso do ICA, são várias possibilidades. “Empresários podem adotar um projeto, um profissional. Se cada um adotar uma assistente social, um psicólogo, um assistente administrativo, uma coordenadora de projetos, podemos atender melhor, remunerando as pessoas, que já aceitaram trabalhar como voluntárias. Mas, sendo pagas, podem dedicar mais tempo ao ICA ao invés de trabalhar apenas no tempo livre”, explica.
As doações avulsas também estão abertas, para qualquer valor. “Um real, cinco reais”, diz, remetendo-se novamente ao mutirão de um real que pagou as contas do cartório.
Também são aceitas doações de roupas e objetos para o bazar e os sorteios e atividades para o evento de dezembro. “Corte de cabelo a cinco reais, sobrancelhas a dois, sobrancelha com hena a cinco, medição de glicose, consultoria de Direito, bazar, comidas pra vender a preço de custo”, discorre sobre o que já está confirmado.
A Ação Entre Amigos tem bilhetes a R$ 5,00 para três prêmios: 1° lugar, uma bicicleta; 2° lugar, um relógio; e 3° lugar um vale-pizza no Villa Pub. O sorteio será no dia do Voluntários em Ação.
SERVIÇO
Voluntários em Ação:
11 de dezembro, na sede do ICA, em Cidade Continental.
Doações em dinheiro:
No picpay e no Pix – CPF 109.942.197-76, da tesoureira Ana Carolina Aparecida da Costa
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