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Jogadoras de vôlei sofrem transfobia em torneio realizado em Guarapari

Ativista Anielle Franco denunciou o caso nas redes sociais. Atletas do RJ estavam dentro das normas do Comitê Olímpico Internacional (COI)

As jogadoras Nicole Mendes e Kamila Barros, do time Casa dos Açores (RJ), denunciam ataques transfóbicos durante o torneio Rota Sudeste de Vôlei Master, realizado no Sesc Guarapari no último final de semana. As atletas relatam xingamentos e humilhações por parte dos outros times, que entraram com recurso para impedir que elas disputassem as finais. Todos os exames das jogadoras estavam regularizados, conforme as normas do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Dois clubes, um do Pará e outro do Espírito Santo, tentaram barrar a participação das jogadoras após o clube do Rio de Janeiro ganhar os jogos iniciais. Com o ocorrido, Nicole e Kamila apresentaram os exames solicitados, comprovando os baixos níveis de testosterona no corpo. Uma análise feita no local pela Comissão Disciplinar, órgão da Justiça Desportiva, verificou que os documentos estavam todos regularizados e permitiu que as jogadoras participassem da disputa.

“Pela primeira vez eu desabei, pela primeira vez mostrei vulnerabilidade, mas tinha uma força tão linda fora de quadra que me fez jogar, me fez jogar o jogo da minha vida, jogar o que nunca tinha jogado. Meu time, e que time, jogaram tudo por mim. Elas queriam que eu brilhasse, fizeram com que vencêssemos, e não vencemos só um jogo, vencemos mais uma luta. A vitória foi fora da quadra”, disse Nicole Mendes em uma publicação sobre o caso nas redes sociais.


Após o ocorrido, a Polícia Militar também foi acionada porque, além da tentativa de recurso, jogadores atacaram as atletas com xingamentos e constrangimentos transfóbicos.

A ativista Anielle Franco, que também joga no clube, estava presente no momento das agressões e publicou um vídeo nas redes sociais relatando o caso.

“A gente saiu do Rio para jogar o campeonato master aqui no Espírito Santo e o único time que tem atleta trans é o nosso e, como sempre, a galera sendo transfóbicia aqui no Espírito Santo com as meninas (…) As pessoas estavam passando, constrangendo as meninas, falando palavras que a gente não quer repetir. Então ou a gente vai sair daqui ganhando na boa ou a gente vai pra cima, porque não vai ter transfobia aqui, não”, ressaltou ainda no local do torneio.

O diretor executivo da Federação de Vôlei Master Capixaba, Carlos Alberto Braga, que é membro da comissão organizadora do evento, confirma que as atletas estavam regularizadas, mas alegou que o clube não teria apresentado as documentações necessárias antes do jogo, o que tornou necessária a análise dos exames no local do torneio.

“A participação de atletas trans é prevista no nosso regulamento e elas estavam absolutamente documentadas, tudo dentro da lei. Ao tomar conhecimento dos recursos, eu recebi e encaminhei para a comissão analisar se procedia ou não, mas tudo isso teria sido evitado, se a equipe tivesse apresentado a documentação já antes do campeonato”, afirmou.

Sobre as denúncias de ataques transfóbicos por parte das outras equipes, Braga manifestou tristeza e repudiou as atitudes. “Isso não fica só no âmbito esportivo, é muito maior que isso. Essas manifestações de transfobia ou qualquer uma contrária à inclusão de pessoas em ambientes sociais, é muito triste. Isso nos empobrece enquanto ser humano e sociedade”, declarou.

A Superliga Feminina de Vôlei compartilhou uma publicação da jogadora Nicole Mendes, se posicionando sobre o ocorrido. “O voleibol brasileiro é e tem que ser inclusivo e respeitador. Somos o segundo esporte mais praticado do país e estamos no topo do mundo. Somos o esporte mais democrático do Brasil, e isso precisa continuar assim”, destacou.

Desde 2015, o Comitê Olímpico Internacional (COI) permite que mulheres trans participem de competições na mesma categoria que mulheres cis (que se identificam com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento). Para isso, a atleta precisa comprovar níveis de testosterona abaixo de 10 nanomoles por litro, por pelo menos 12 meses antes da competição.

O clube Casa dos Açores, alvo das agressões em Guarapari, foi campeão na categoria 30+ e vice na 35+. “Confesso que ainda não assimilei tudo o que aconteceu! A palavra que resume esse torneio para mim foi sororidade. Foi uma mobilização e uma comoção que eu tive a honra de presenciar”, disse a jogadora Nicole nas redes sociais. 

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