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Emescam enfrenta crise interna com alunos e professores

Aumento de mensalidade e demissão de docentes geram acusações de mercantilização na faculdade filantrópica

Nessa quinta-feira (16), alunos de graduação em Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam) realizaram um ato em frente à faculdade, na Reta da Penha. O motivo era o aumento de 10,5% nas mensalidades e as consignas falavam contra a mercantilização da educação pela entidade. Embora seja filantrópica, tendo isenção de impostos e seja sem fins de lucro, a mensalidade do curso ultrapassaria os R$ 7 mil com o reajuste, se aproximando do valor do curso em entidades privadas de ensino como a UVV e Multivix.
Divulgação

Porém, essa parece ser apenas a ponta do iceberg numa crise interna que atinge outros setores, especialmente o único curso de mestrado da entidade, em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local. No dia 1 de dezembro, semanas antes do fim do ano letivo, três professores-doutores foram demitidos, incluindo a então coordenadora do curso, Gissela Carraro.

Na ocasião, a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) publicou uma nota em solidariedade e pedindo a reincorporação dos docentes. “As demissões ocorreram logo após concluído o relatório de avaliação quadrienal enviado à Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] pelo programa, com o objetivo de elevar a qualidade desse mestrado”, denunciou a nota. A coordenadora havia sido contratada em 2019, justamente para tentar reverter a ameaça de descredenciamento do curso, que tinha nota 3 e precisava melhorar sua avaliação para não ser fechado.

As demissões ocorrem num momento em que a Capes, órgão federal, vive uma profunda crise, depois da renúncia em massa de mais de 80 pesquisadores que atuavam como avaliadores do órgão desde o final de novembro, seguida da renúncia do diretor de Avaliação.

Os pesquisadores criticaram a atual gestão e apontaram uma corrida desenfreada no Ministério da Educação para aprovação de cursos à distância. Alguns dos professores ouvidos por Século Diário alegam que esse é o rumo que a direção da Emescam e a nova coordenação do curso pretendem dar, algo que os docentes demitidos se opõem. “Essa gestão que está na Emescam só quer dinheiro. Demitiram professores que não são a favor de tratar a educação como mercadoria, por isso foram demitidos. Professores que têm preocupação com a educação, que têm renome, pós-doutorado, e não têm rabo preso com ninguém. Por não concordarem com essa política, foram demitidos”, disse um mestrando que não quis se identificar.

Cartazes feitos durante protesto pedem transparência à Emescam. Foto: Divulgação

Na Emescam, além dos três docentes inicialmente demitidos, outra professora negociou sua saída com a faculdade, após ter sido demitida e readmitida. Além disso, no último dia 13 de dezembro, foram mais cinco demitidos. Com isso, o mestrado perde 9 de seus 15 professores, todos doutores. Há o temor de pessoas ouvidas pela reportagem que outra professora, que estava em licença maternidade, estaria por ser demitida ao regressar.

Em carta assinada por mais de 40 dos cerca de 60 estudantes do mestrado, os alunos questionaram internamente a Emescam sobre os rumos do curso. Ficaram por semanas sem aulas por conta das demissões e ainda vivem com a incerteza sobre o futuro no curso, já que tinham trabalhos finais por entregar e os professores demitidos eram orientandos de vários alunos em suas dissertações. A resposta à solicitação formal, no entanto, veio cinco dias depois e foi considerada insatisfatória por estudantes consultados, já que aparentavam normalidade num momento totalmente atípico, no qual mais da metade dos docentes do curso foi desligada da instituição.

Professores da faculdade também enviaram uma carta cobrando explicações sobre as demissões, apontando “tomada de decisões arbitrárias, posturas recalcitrantes e ausência de diálogo em detrimento aos colaboradores (corpo docente e funcionários). “As Rescisões de Contrato de Trabalho de professores e funcionários que se empenharam por longos anos para garantir a excelência do mestrado dessa instituição, sem o devido planejamento, compromete as ações pedagógicas de encerramento de disciplinas (defesas com prazos expirando, exames de qualificação agendados, bem como fluxos administrativos)”.

Na resposta, o diretor da Emescam, Cláudio Medina da Fonseca, justificou que “(…) percebeu-se a necessidade de realização de ajustes que impactariam na redução do quadro de professores”, deixando explícito que os professores foram desligados por “necessidades de gestão estratégica e educacional” e que os ajustes do tipo “sempre foram realizados após profunda análise e estudo e sempre com observação da legislação trabalhista e regimento interno”. No caso da coordenação do curso, a resposta do diretor evidencia que havia divergências entre o projeto da instituição e da coordenação do mestrado.

Alunos e professores consultados apontam a falta de diálogo e decisões arbitrárias da Emescam, que agora precisa gerir essa crise interna, com insatisfações de docentes e discentes e questionamentos sobre a qualidade e a mercantilização do ensino promovido por entidade filantrópica.

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