No norte inventaram o frio para afastar os imigrantes – Oh gente pra gostar de praia
Parece que foi ontem, mas dezembro já deu a largada para acabar de vez com 2021. Se 2020 foi o ano do virulento vírus, 2021 será lembrado como o ano da valorosa vacina. Toma quem quer, mas não faltou para ninguém. Tipo aviso na piscina: nade por sua conta, se morrer afogado não culpe o governo. Mesmo se o ano não foi dos melhores, as chamadas festas de fim de ano vêm com tudo.
Minhas visitas do Outono voltaram ao Brasil, as visitas do Natal estão chegando.
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Dezembro vem do latim: decem (dez), porque era o décimo mês do calendário romano, que começava em março. Aí os romanos bagunçaram o coreto. No norte do hemisfério norte, é o começo do inverno – lá vem chuva e/ou neve. Frio de quebrar os ossos, mas não em Miami, razão pela qual isso aqui virou terra de ninguém. No norte inventaram o frio para afastar os imigrantes – oh gente pra gostar de praia!. A gente vê nos filmes o mundo pintado de branco e acha que é efeito especial.
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Dezembro se tornou o mês dos filmes de natal, embora sejam tantos que já estão passando no ano todo. A gente se espanta – onde arranjarão mais títulos que precisam, obrigatoriamente, conter a palavra Christmas. Há variações aceitas, mas não muito frequentes: Natal, Noel, Kraus, Noite Feliz. Ou branca, ou de paz. Alguém ainda lembra o que aconteceu na noite de natal, motivando toda essa euforia?
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Em 21 ou 22 de dezembro temos o dia mais curto e a noite mais longa do ano – o chamado solstício de inverno, que dá início à estação fria. No Brasil ocorre em 21 de junho. Solstício e equinócio marcam o início das estações do ano. Quando criança, nunca dei muita atenção ao solstício, mas o equinócio me deslumbrava – um termo provavelmente inspirado nas lendas de feitos heróicos, romances capazes de derrubar impérios, homens se tornando imortais.
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Hoje o Google dilacera a fantasia – o nome é apenas a junção dos termos latinos aequus = igual, e noctis ou nox = noite. Nada de deuses invejosos, magos vingativos e pitonisas cegas. Quanto ao solstício, também é a junção de sol + stitium – sol parado, que não se mexe. Para os antigos, tais fenômenos eram grandes mistérios, celebrados com música, danças, bebida e mesa farta. Tal e qual nosso natal. Havia também uma outra finalidade para essas quatro festividades anuais – em um tempo sem internet ou telefone, sem namoros virtuais, com viagens longas e difíceis, como é que os jovens se encontravam?
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A roda da vida tem que rodar, portanto, temos que facilitar os encontros. Como aconteceu com Severina Severo, bela e prendada, mas cadê pretendentes? A família Severo vive lá pelos confins de Burarama, totalmente isolada das maravilhas tecnológicas. Chegando o solstício da primavera o pai resolveu o problema – assou um cabrito, cozinhou um panelão de inhame, destilou a cachaça – antes mesmo deste equinócio de verão chegar, a menina mandou a notícia pelo pombo-correio: Prenhe!
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Dezembro em outros idiomas: Mandarim: shí’èryuè. Dinamarquês: december. Francês: décembre. Italiano: dicembre. Espanhol: diciembre. Latim: december. Frases famosas em latim: Horácio, poeta romano: Carpe diem, quam minimum credula postero – Aproveite o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã. Virgílio: Amor vincit omnia – o amor tudo supera. Não confundir Virgílio, outro poeta romano, com Virgulino, nosso maior herói.