Camila Valadão apontou o racismo estrutural no país e defendeu ações em favor dos direitos humanos
Ao afirmar que a agressão sofrida por um homem negro, acusado de roubo no supermercado Carone de Laranjeiras, na Serra, no último dia 16, não é um fato isolado, a vereadora Camila Valadão (Psol) rebateu nesta quarta-feira (22), seus colegas de legislatura na Câmara de Vitória Gilvan da Federal (Patriota) e Armandinho Fontoura (Podemos), apontando para o racismo estrutural no Brasil e a violência contra a população negra.
Para os dois vereadores, atuantes no campo da direita bolsonarista, o homem agredido no supermercado não passa de um “vagabundo”, gerando reação das duas vereadoras, que apoiam a manifestação marcada para esta quinta-feira (23), às 17h.
Em seu discurso, Camila fez referência à sua renúncia como membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que tem Gilvan da Federal na vice-presidência. “Não posso permanecer na comissão cujo vice-presidente compactua com linchamento”, afirmou.
Minutos antes, Gilvan e Armandinho haviam contestado, em plenário, discurso da também vereadora Karla Coser (PT) em defesa dos direitos humanos. Ela condenou os excessos na agressão ao homem acusado de roubo e ressaltou que, mesmo as pessoas que cometem crime, devem ser respeitadas e não tratadas como animais. Referia-se à repercussão do caso, na imprensa e nas redes, motivando a manifestação de entidades representativas da população negra no Estado.
Gilvan da Federal, seguidor do presidente Jair Bolsonaro e conhecido por uma atuação autoritária e agressiva, tendo como alvo as duas vereadoras e a imprensa, falou em seguida e prosseguiu com os ataques, repetindo as mesmas acusações ao PT, Psol e PSB. Usou termos como “falsas narrativas”, “esquerda satânica” e encerrou a fala com a frase “Deus, Pátria, Família”, lema do nazi-fascismo, usado pelo bolsonarismo. Armandinho seguiu no mesmo tom, negando o racismo e reforçando que o homem agredido é um “vagabundo”.
Para Camila Valadão, a agressão da semana passada não pode ser vista como fato isolado, uma vez que em 2016, uma pessoa foi foi morta neste mesmo supermercado por asfixia. O homem morreu dentro do supermercado Carone, na Serra. Ele estava tentado roubar duas peças de picanha, mas o alarme disparou e ele fugiu. Os seguranças o apanharam e, depois de imobilizá-lo em um terreno baldio, o levaram para o supermercado, onde morreu, sendo constatada morte por asfixia. Os dois seguranças foram presos e libertados por não “oferecerem risco à sociedade”.
A vereadora citou ainda o assassinato, em 2020, cometido por seguranças de um supermercado Carrefour, em Porto Alegre (Sul do País), e o de uma funcionária das lojas Zara, em Fortaleza (Nordeste), para apontar o racismo estrutural existente no Brasil. “Brancos e negros não são tratados da mesma forma”, disse Camila, e criticou os protocolos de segurança que colocam as pessoas negras sempre como suspeitas.
Ela defendeu a imprensa, sempre criticada por Gilvan da Federal, e disse que “só existe democracia com liberdade de imprensa, que Bolsonaro e sua corja tentam acabar, porque sabem que é assim que as democracias morrem”. Camila citou as vitórias de candidatos democratas na Argentina, Bolívia e Chile e ressaltou: Em 2022, vamos varrer os bolsonaristas do poder no Brasil, onde só houve “aumento do racismo, da fome e de diversas formas de violência”.