Gold afirma que gestão da liga das escolas de samba estaria ignorando proposta da Corte Real LGBTQIA+
A Associação Gold (Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade), ligada à defesa dos direitos humanos e da comunidade LGBTQIA+, publicizou em nota uma denúncia do que considera mais um caso de LGBTfobia no carnaval capixaba. Isso porque a Liga de Escolas de Samba do Grupo Especial do Espírito Santo (Liesge), que havia dado anuência para a criação do Concurso da Corte Real LGBTQI+, aprovado inclusive em edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), não vem dialogando sobre a proposta e adia uma resposta sobre o tema, mesmo com a construção do carnaval a pleno vapor.
“Nós chegamos a essa decisão de publicar essa denúncia depois de várias tentativas de dialogar com a liga e a direção de carnaval, que não foram bem sucedidas. Então resolvemos publicar uma carta de desabafo e dizer para a liga que estamos querendo dialogar, pois tentamos há mais de um mês, sem ter uma resposta oficial”, diz Deborah Sabará, coordenadora de projetos da Gold e primeira porta-bandeira trans na história dos desfiles das escolas de samba capixabas. Alguns dirigentes do carnaval ofereceram apoio à entidade e à causa, mas manifestaram dificuldades dentro da Liga para abordar o tema.
Deborah explica que, embora a entidade tenha recursos para realizar o projeto, o respaldo da Liesge, que é gestora do carnaval, ao concurso LGBTQIA+, é fundamental. Do contrário, poderia gerar inconvenientes, como o risco da Rainha e outros membros desta família real serem barrados em quadras de escolas ou impedidas de transitar em certos espaços durante os desfiles. “Há todo um direito de ir e vir da Corte do Carnaval, que inclui desfilar antes da entradas das escolas, que também queremos para a Família Real LGBTQIA+”, diz a coordenadora da Gold.
O caso de transfobia remonta ao ano passado, quando durante as inscrições do Concurso para Família Real do Carnaval Capixaba, a liga rejeitou a inscrição de duas mulheres trans ao posto de Rainha. Após mediação da Gold junto à Liesge, um meio termo foi a criação de uma Família Real LGBTQIA+, como ocorre em outros estados. Porém, por falta de recursos e tempo hábil naquele ano, a saída viável foi criar um posto de Rainha Trans para o concurso de 2020.
Mas para 2021, a associação correu atrás de recursos, e conseguiu acessar o Fundo Estadual de Cultura (Funcultura), para o qual obteve carta de intenção do então presidente da Liesge, Edvaldo Teixeira, manifestando a disposição da entidade em apoiar o evento. Mas este compromisso parece não ter interesse em ser cumprido pela nova gestão da liga, presidida Edson Neto.
A Gold afirma ter recebido informações de que haveria uma pressão de parte da Prefeitura de Vitória para que não houvesse apoio à iniciativa LGBTQIA+. Deborah Sabará lembra que após quase um ano de gestão, o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) ainda não nomeou uma pessoa para a Coordenação de Diversidade Sexual do município, o que reforça a falta de interesse do poder público municipal em relação à questão.
“Vivemos em uma sociedade LGBTfóbica, em que o carnaval e as Escolas de Samba não estão imunes à reprodução da LGBTfobia. O episódio ocorrido neste ano demonstra que a mentalidade dos dirigentes não é muito diferente da mentalidade de dez anos atrás, quando Deborah quase foi impedida de ocupar o posto de porta-bandeira. Sendo assim, a criação da Corte LGBTQI+ representa uma estratégia política de visibilidade para essa população, estimulando o orgulho e autoestima”, manifestou a Gold em sua carta pública.
Deborah Sabará: de primeira porta-bandeira trans a ativista LGBT
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