Segundo a administração municipal, o ponto facultativo foi suspenso para otimizar o fluxo de atendimentos de pessoas com sintomas gripais devido ao aumento da procura nos dois Pronto Atendimentos [PAs] de Vitória. Assim, todas as 29 UBS funcionarão normalmente, das 7 às 17 horas, atendendo pacientes com sintomas respiratórios e as gestantes em pré-natal. Além do atendimento presencial, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) também disponibilizará teleatendimento, que pode ser agendado pelo telefone 156, de segunda a sexta-feira.
A presidente do Sindienfermeiros, Valeska Fernandes de Souza, afirma que, segundo trabalhadores da enfermagem, a divisão do processo interno de trabalho no dia 31 ficou a cargo dos diretores da UBS, não havendo por parte da administração municipal um plano de gestão. De acordo com o que foi informado pelos profissionais à entidade, os diretores podem inclusive colocar todos profissionais para trabalhar no dia 31. “Agente de saúde, por exemplo, vai fazer atendimento na casa dos outros que estão em festa nesse dia?”, questiona.
Os trabalhadores apontam ainda que os diretores das UBS podem também dar folga para quem quiser, entretanto, o sindicato acredita que não terá igualdade de tratamento entre as categorias, por não ser um modelo único da gestão, e sim, “um cada por si e Deus por todos em cada unidade”.
Para o sindicato, em nota divulgada nas redes sociais, a suspensão do ponto facultativo é uma tentativa da gestão de Lorenzo Pazolini de “conter a mídia negativa, que tem repercutido a lotação nos PAs de Vitória”. A entidade denuncia a falta de médicos em alguns setores nas unidades de saúde, principalmente depois das 16h, o que impossibilita o atendimento, uma vez que o enfermeiro, a partir de um determinado grau de adoecimento da gripe, não pode atuar sem a presença de profissionais da medicina.
A categoria reivindica uma divisão justa de trabalho, o que, segundo Valeska, não está claro se haverá. Ela afirma que tem enfermeiros atendendo cerca de 35 pessoas por dia com sintomas gripais, o que acarreta em sobrecarga.
“O enfermeiro pode atender uma gripe, os cuidados iniciais podem ser feitos pelos enfermeiros, sim. Agora, tudo vai ser feito pelos enfermeiros? É justo que o enfermeiro vá trabalhar e outras categorias não? Nosso receio maior é que os médicos tenham sua folga e o enfermeiro seja obrigado a trabalhar”, questiona, destacando que os profissionais da medicina, “quando dizem que não vão, não vão mesmo”.
A dirigente sindical defende que o trabalhador tenha assegurado o seu descanso comemorativo do fim de ano. “Somos, sim, favoráveis a um planejamento estratégico para o atendimento da epidemia de gripe, mas contra os desmandos que ferem qualquer tipo de organização. Nosso receio maior é que os médicos tenham sua folga e o enfermeiro seja obrigado a trabalhar. O trabalhador enfermeiro e sua família também precisam de um mínimo de qualidade de vida”, reitera.
Valeska acredita que a suspensão não irá trazer benefícios para os usuários nem para os trabalhadores, uma vez que, em épocas de festas de fim de ano e nos dias que antecedem o carnaval, as pessoas, mesmo com sintomas de alguma doença, não costumam procurar serviços de saúde, tratando-se com remédios caseiros ou até mesmo não buscando nenhuma alternativa de tratamento, fazendo com que haja uma procura maior pelos equipamentos de saúde após as festas.
O sindicato destaca que vai acompanhar as atividades dos enfermeiros do município de Vitória. Caso os enfermeiros sejam obrigados a exercer qualquer atividade que caracterize exercício ilegal profissional, em função da ausência de outras categorias de suporte do atendimento, irá acionar o Conselho Regional de Enfermagem (Coren).
Privatização
Há exatamente uma semana, no dia 22 de dezembro, Lorenzo Pazolini fez sua
prestação de contas na Câmara de Vitória. Na ocasião, afirmou que tem a ideia de trazer Organizações Sociais (OS) para a rede municipal de saúde. Valeska aponta que a iniciativa não resolve o problema e exemplifica com equipamentos de saúde do Espírito Santo, como os PAs do Trevo de Alto Lage, em Cariacica; da Glória, em Vila Velha; e o hospital Jayme Santos Neves, na Serra.
“A promessa é de que isso vai melhorar, mas na prática, não é o que acontece. Em alguns desses locais, inclusive, faltam profissionais. Os trabalhadores têm uma remuneração ainda mais baixa e a rotatividade é grande. Eles não criam vínculo com a comunidade. No Programa de Saúde da Família, por exemplo, esse vínculo é importante”, diz.