Sindfer protestou nesta quarta na portaria da empresa. Entidades internacionais apoiam decisão, considerada inédita
O Sindicato dos Ferroviários do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer) rejeitou a proposta apresentada pela Vale de um novo modelo de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) referente a 2022. A decisão, considerada histórica pelos trabalhadores, foi apoiada por entidades internacionais.
Nesta quarta-feira (29), trabalhadores do Sindfer fizeram um protesto na portaria de Tubarão, em Vitória, se manifestando contra a proposta apresentada pela Vale. Mobilizadores presentes no local também passavam informações sobre a negociação para a base, destacando que a proposta não atende aos anseios dos trabalhadores.
A proposta da Vale, que começaria a valer em 2023, foi negada por trabalhadores, em razão do teor punitivo e desestimulante das alterações sugeridas. “A recusa foi motivada pela inclusão de um fator de redução de 5% da PLR como forma de punição adicional de um empregado, já suficientemente punido”, informa um comunicado do Sindfer dessa terça-feira (28).
De acordo com o sindicato, a rejeição também revela a insatisfação dos empregados com atitudes recentes da empresa. Os trabalhadores apontam problemas como demissões crescentes, condições de trabalho precárias e um reajuste salarial insatisfatório.
Para a entidade, a atitude inédita mostra o amadurecimento dos trabalhadores que não estão dispostos a aceitar as propostas do alto escalão da empresa a qualquer custo. “Como parte do bom exercício da relação capital e trabalho, cabe à Vale, agora, atender à reivindicação de continuidade das negociações, já expressa através de ofício específico”.
A decisão dos trabalhadores tem tido repercussão internacional. O diretor internacional da United Steelworkers (USW), Benjamin Davis, se solidarizou com os trabalhadores brasileiros. O sindicato representa trabalhadores do setor industrial, metalúrgico e de mineração do Canadá, Caribe e Estados Unidos.
“A Vale devolve mais de R$ 40 bilhões aos acionistas neste ano e deve mostrar igual consideração por seus trabalhadores. Tivemos uma experiência semelhante este ano na mina de Sudbury, no Canadá, onde conquistamos melhorias significativas para os trabalhadores após uma greve de dois meses”, disse o representante da entidade na carta.
No Brasil, o Sindfer critica o comportamento da Vale, que mostra resistência para dar continuidade às negociações. O sindicato aponta a dificuldade da empresa para aceitar a decisão democrática dos trabalhadores. “Trata-se de um procedimento patronal e autoritário padrão que tanto pode se expressar na base do Sindfer ES/MG como nas minas de níquel do Canadá”, declarou o sindicato.
Representando trabalhadores de Minas Gerais e Espírito Santo, a entidade tem recorrido à Justiça para garantir os direitos da categoria. De janeiro a outubro, conseguiu a reintegração de mais de 30 empregados demitidos da Vale em 2021 de forma ilegal. As tentativas de demissão eram direcionadas sobretudo a empregados com problemas de saúde, como lesões na coluna, joelhos e ombros, muitos em tratamento médico quando foram desligados, de acordo com relatos da entidade.