A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Vitória elencou as pautas prioritárias para 2022. Uma delas é a mobilização pela implementação de restaurantes populares na Grande Vitória de forma articulada com as demais pastorais e movimentos sociais. Essa reivindicação, acredita o coordenador da Pastoral do Povo de Rua, Júlio César Pagotto, é “aglutinadora”, pois atende às especificidades de outros grupos de excluídos, como os desempregados.
Júlio afirma que a Pastoral defende que haja restaurantes populares nos quatro maiores municípios da Grande Vitória, que são Vila Velha, Vitória, Cariacica e Serra. “Precisamos de uma política descentralizada e acreditamos que o governo do Estado deve dar apoio a essas cidades na implementação do projeto. Não dá para abrir um serviço desse somente em Vitória, por exemplo, pois muitas pessoas de outros municípios não teriam condições de ir até lá”, diz.
A mobilização em torno da implementação de restaurantes populares ganhou mais destaque durante a pandemia, não sendo somente a pastoral a única entidade a reconhecer a importância dessa política pública no combate à insegurança alimentar. Uma delas é o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Vitória (Comsea), que exige a reabertura do restaurante popular de Vitória, fechado desde o fim de 2016, durante a gestão do então prefeito Luciano Rezende (Cidadania).
A Federação das Associações de Moradores de Cariacica (Famoc) também quer a reabertura do restaurante popular da cidade, que fechou na primeira gestão do prefeito Geraldo Luzia de Oliveira Júnior (Cidadania), o Juninho. No início da pandemia, em maio de 2020, a Defensoria Pública do Espírito Santo (DPES) encaminhou recomendação às prefeituras da Grande Vitória pela reabertura dos restaurantes populares e abertura do serviço em locais onde não eram oferecidos.
Na ocasião, o defensor público Rodrigo dos Santos Adorno relatou que organismos internacionais apontam que, no período pós-pandemia, a situação de vulnerabilidade social irá aumentar. Ele destacou, ainda, que os índices socioeconômicos mostram que em todos municípios da Grande Vitória encontram-se pessoas em vulnerabilidade social, realidade que iria se agravar em decorrência da pandemia.
O defensor público afirmou também que as prefeituras têm que garantir o direito fundamental à alimentação e que algumas poderiam até optar por não abrir restaurante popular, e sim, estabelecer convênios com outros municípios. “Isso pode acontecer desde que a população consiga ser atingida, desde que não sirva como forma de não atender ou atender parcialmente. Dizem que no restaurante popular de Vitória tinha muitas pessoas de outras cidades, mas é difícil acreditar, por exemplo, que todos moradores de Viana em situação de vulnerabilidade iam até lá”, disse Rodrigo.
Mais ações
A Pastoral elencou outras ações para 2022. Uma delas é desenvolver formação para seus agentes, envolvendo as dimensões pastoral, política e de espiritualidade. “Temos a preocupação de que as pessoas não tenham somente a visão da solidariedade e da caridade. A dimensão política, por exemplo, diz respeito às reivindicações de políticas públicas, a de espiritualidade, à oração, ao trabalho em equipe”, explica Júlio.
O grupo também pretende dialogar com os diversos fóruns e movimentos sociais sobre a pauta da população em situação de rua. “Precisamos buscar as demais entidades da sociedade civil para que as pautas da população em situação de rua sejam ampliadas, pois não são somente nossas. A Pastoral é meio, e não fim. Ela quer ser meio para fortalecer a luta da população em situação de rua”, afirma.
Também está prevista a realização de um ato público para o final de fevereiro ou início de março. A ideia é ir ao encontro da pauta do diálogo com outras entidades da sociedade civil e convidá-las para a organização dessa atividade. O local onde acontecerá o ato público ainda não foi definido e as articulações começarão na próxima semana.
Além disso, a Pastoral quer formar grupos de estudo com a população em situação de rua, utilizando a metodologia da educação popular. Segundo Júlio, a ideia é se basear nos princípios do educador Paulo Freire. “Não podemos fazer pela população de rua, temos que fazer com ela, estimular que sejam sujeitos de suas lutas”, afirma.
O grupo busca ainda a aproximação com as associações de catadores de material reciclável, uma vez que em nível nacional eles estão inclusos na missão da Pastoral, mas na Arquidiocese de Vitória o trabalho junto deles não tem sido efetivado. De acordo com Júlio, normalmente esses trabalhadores têm uma trajetória nas ruas e essa atividade é uma das primeiras que aparecem para eles como forma de geração de renda.
Por fim, a Pastoral quer aumentar sua presença na Arquidiocese de Vitória. Na Capital, busca criar um grupo na Catedral, diante do grande número de pessoas em situação de rua no Centro. Também objetiva ampliar sua atuação em Cariacica, que conta somente com um grupo. Em Vila Velha, informa Júlio, seria interessante a Pastoral no Santuário Divino Espírito Santo, que fica no Centro, e em Coqueiral de Itaparica. No município de Guarapari, na paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Centro; e na São Pedro, em Muquiçaba.
“Não precisa ter a Pastoral em todas as paróquias, o que é necessário é concentrar em lugares com mais pessoas em situação de rua”, diz Júlio.