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Imunização de rebanho requer cobertura vacinal maior que 95%, concluem cientistas

Meta é impossível no Brasil, com baixo uso de máscaras e distanciamento, que favorecem variantes, destaca Ethel Maciel

Em artigo publicado nesta terça-feira (18) no Jornal Brasileiro de Pneumologia, cientistas apresentaram cálculos que mostram, em números, o que a ciência já vem afirmando há algum tempo, desde o surgimento das últimas variantes do novo Coronavírus, cada vez mais transmissíveis: é impossível alcançar a imunidade de rebanho a partir da vacinação contra a Covid-19 e a infecção pelo SARS-CoV-2 tende, a longo prazo, a ser tornar mais uma doença endêmica no Brasil, como a Influenza. 

“Deter a infecção com as vacinas nessas variantes muito transmissíveis não será possível. A meta será evitar doença grave e combinar medidas como uso de máscara, distanciamento, etc.”, comentou a epidemiologista Ethel Maciel, uma das autoras do artigo. 

O estudo calculou os diferentes níveis de efetividade das vacinas utilizadas no Brasil e o impacto do aumento da taxa de reprodução do vírus, à medida que novas variantes surgem. O vírus inicialmente detectado em Wuham, na China, tinha taxa de reprodução (R0) de 3 (uma pessoa transmitia para três). Na variante Delta, a mais recente considerada no estudo, essa taxa já chegou a 7!

A partir dessa combinação, “pode-se notar que é provavelmente impossível atingir um limiar de imunidade de rebanho com as novas variantes do SARS-CoV-2, visto que são mais transmissíveis, sendo necessário vacinar mais de 95% da população”, afirma o artigo. Assim, prossegue, “as intervenções não farmacêuticas, como o distanciamento físico e o uso de máscaras e soluções antissépticas, continuarão a desempenhar um papel fundamental em manter os casos de Covid-19 baixos em relação à morbimortalidade”. 

Ethel ressalta que a variante Ômicron, atualmente a predominante no Brasil e no Espírito Santo, ainda não havia surgido quando ela e os colegas iniciaram os cálculos. Mas sabe-se hoje que ela é ainda mais transmissível, com R0 maior que 7, da Delta. O percentual de 95%, portanto, tende a subir no atual cenário. “Agora com a Ômicron precisa de mais gente vacinada. Por isso a importância da vacinação das crianças, pois esse grupo, com menos de 11 anos, representa 13% da população brasileira”, sublinha. 

Menos hospitalizações e mortes

Mas mesmo sem impedir a transmissão do vírus, por um desejado efeito de imunização de rebanho, as vacinas cumprem a função de “reduzir o número de hospitalizações e mortes”, o que justifica o investimento em seguidas campanhas de imunização e os estudos epidemiológicos sobre os intervalos mais eficientes para que esses efeitos positivos sejam alcançados. 

As duas principais vacinas usadas até o momento, AstraZeneca/Fiocruz e CoronaVac/Butantan, apresentam as seguintes efetividades, mediante regime completo de duas doses: AstraZeneca/Fiocruz encontrou uma efetividade geral de 72,9% de proteção contra infecção, 88% contra hospitalização,89,1% contra admissão em UTI e 90,2% contra o óbito; CoronaVac/Butantan obteve risco 52,7% menor de infecção, 72,8% menor de hospitalização, 73,8% menor de ir para a UTI e 73,7% menor de óbito.

Vigilância genômica

Os autores alertam que estudos mais assertivos sobre o futuro das campanhas de imunização esbarram na falta de dados, especialmente relacionados “à imunidade induzida por infecção para crianças ou pessoas com infecção muito leve ou assintomática”. Por isso, “a instituição de um programa de vigilância genômica é essencial para monitorar mutações e o surgimento de variantes, principalmente aquelas que fogem ao sistema imunológico”. Além disso, “a revisão do limiar de imunidade de rebanho com a ampliação das taxas de cobertura vacinal completa por faixa etária, principalmente na população de maior risco, e estudos que avaliem a duração da imunidade, seja conferida pela doença ou pela vacina, são essenciais para o planejamento de futuras campanhas de reforço vacinal”.

Varíola 

O artigo aborda ainda que, “na história de doenças humanas causadas por agentes infecciosos, apenas a varíola foi erradicada”, após 184 anos de utilização da vacinação em massa. Diferenças importantes entre o vírus da varíola (com R0 = 5) e da Covid, mostram a impossibilidade de se alcançar a erradicação da infecção pelo SARS-CoV-2 por meio da vacinação.

O da varíola é transmitido por contato próximo e por meio de gotículas e secreções respiratórias, diferente da Covid, cujo agente infeccioso realiza também “contágio indireto em distâncias mais longas, através de aerossóis”. A identificação dos doentes também é mais fácil no caso da varíola, pois a doença causava lesões na pele do paciente. Além disso, uma vez doente ou vacinado, a possibilidade de reinfecção era remota. Já no caso do coronavírus, muitas pessoas assintomáticas podem continuar a espalhar o vírus, há reservatórios não humanos (animais domésticos e selvagens) e há a possibilidade de reinfecção.

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