“O ex-governador Paulo Hartung deve se filiar ao PSD em um projeto nacional com a ajuda de parcela do setor produtivo”, disse nesta quinta-feira (3) ao Século Diário o presidente estadual do partido, deputado federal Neucimar Fraga. A declaração reforça comentários de bastidores sobre articulações de Hartung para emplacar seu nome como pré-candidato a presidente da República nas eleições deste ano, em mais uma tentativa do campo da direita de achar um nome para a terceira via.
Hartung foi citado, também, pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, nas negociações que envolvem o ex-presidente Lula (PT), líder nas pesquisas eleitorais para presidente da República. Kassab aguarda a desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), para definir os rumos do partido, que, se formalizar aliança com o PT, tornará inviável o projeto do ex-governador.
Pacheco não conseguiu deslanchar a pré-candidatura e só pontua pouco acima de 1%, segundo os últimos levantamentos. Em entrevista à imprensa, Gilberto Kassab já citou os nomes de Hartung e do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (ainda no PSDB), como possíveis quadros do PSD que poderão ser lançados candidatos à presidência da República, apesar de o ex-governador ainda não ser filiado ao partido.
Hartung já declarou recentemente que não iria mais disputar cargo eletivos, mas mantém ativo seu campo de influência no Estado. Para as eleições deste ano, ele já foi apontado como candidato ao governo, ao Senado e agora a presidente da República, indicação mais próxima das ações que desenvolve nos campos político e empresarial, como presidente executivo do Instituto Brasileiro da Árvore (Ibá).
O ex-governador vem sedimentando terreno no campo nacional desde que desistiu da reeleição, em 2018, temendo uma derrota para o atual governador, Renato Casagrande (PSB), por conta da baixa avaliação de sua gestão, em especial a greve da polícia, ocorrida em 2017, e da insatisfação dos servidores públicos em geral. Na base dessas questões, a política de arrocho fiscal do governo, que afetou o funcionalismo público, mas, de outro lado, agradou o capital financeiro.
Um cenário que ajudou a projetá-lo nacionalmente junto a setores da direita sustentadas pelo capital financeiro, possibilitando a abertura de espaços na chamada grande mídia e a ampliação de relacionamentos com influenciadores sociais, como o apresentador de TV Luciano Huck e representantes do capital financeiro, em especial o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Ambos defendem o nome de Hartung para presidente da República, que, por sua vez, faz ecoar esse apoio por meio de aparições na mídia, com forte conteúdo de marketing político.
Centrado em um discurso de modernidade na gestão e refundação do Estado, divulga um conteúdo neoliberal mais ilustrado, tema de um livro lançado em 2021, dentro de uma visão empresarial hegemônica, em harmonia com as ações de sua gestão, quando ocorreu a expansão do deserto verde no Estado, com destruição da floresta nativa e o agravamento de problemas ambientais, como a crise hídrica.
Os programas oficiais possibilitaram a ampliação das atividades de grupos empresariais atuantes na exploração de florestas cultivadas, como a Suzano (ex- Fibria e ex-Aracruz Celulose), conglomerado econômico do qual Hartung é um dos mais importantes executivos, por meio do Instituto Brasileiro de Árvores (Ibá). A pré-candidatura a presidente de Hartung passa, também, pelo aumento do prestígio desses grupos empresariais no campo político.
Os governos de Paulo Hartung foram caracterizado também por abandono da área social e somas vultosas de incentivos fiscais, beneficiando principalmente grandes empresas, que receberam mais de 70% dos deferimentos do programa, que não representou a implantação dos projetos ou geração de empregos que justificassem os benefícios.
O Espírito Santo abriu mão de arrecadar R$ 19,83 bilhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) com a concessão de incentivos fiscais. A soma é resultado dos mais de 200 acordos firmados na gestão de Paulo Hartung, dentro do Programa de Incentivo ao Investimento no Estado (Invest-ES), somente entre 2004 e 2010. Os valores são guardados debaixo de sigilo, a chamada caixa-preta das renúncias fiscais.