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Sem recuperar restinga, não tem calçadão que resista à força das águas

Moradores da Praia do Sauê pedem à Prefeitura de Aracruz que atue na recuperação da vegetação nativa

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O fim dos desmates da restinga e a recuperação da vegetação nativa na Praia do Sauê. É o que pede um grupo de “moradores e veranistas” do bairro, que abriga um dos últimos rios balneáveis do município de Aracruz, no norte do Estado.

A reivindicação foi entregue, na forma de abaixo-assinado, à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na pessoa do secretário Aladim Cerqueira, que se comprometeu a apoiar a causa e frear os desmates. 

No documento, o grupo relata “as constantes e desastrosas intervenções humanas” feitas contra a restinga há muitos meses, “com várias denúncias de moradores aos órgãos ambientais, porém nenhuma punição dos responsáveis até o momento”. E pede que sejam reparados os locais destruídos e preservado e isolado os que ainda estão de pé, “para evitarmos uma tragédia anunciada”.

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A Praia do Sauê está localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e é a foz do rio homônimo, que, nos últimos tempos, chegou a se mover 500 metros de seu local habitual de deságue no mar, sempre em direção da área desmatada, na parte mais urbanizada da orla.

“É visível: onde houve maior intervenção, o rio está levando tudo”, observa a moradora e defensora ambiental Keylla Farina. Técnica ambiental, artesã e empreendedora, nativa do Sauê, Keylla fala da importância afetiva do rio para a sua vida e sua identidade. “Mexeu com o rio, mexeu comigo”, diz.

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Ela estima que a série de agressões contra a restinga tenha começado há dois anos. Os cortes, conta, são geralmente feitos à noite, por pessoas pagas para o serviço por particulares. Mas houve também uma intervenção agressiva da prefeitura, embasada por uma autorização do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), para execução de um plano de urbanização da orla, que ainda não foi apresentado formalmente aos moradores, mas que, segundo circula nas redes sociais, contaria com calçadão e áreas de lazer na beira do rio e do mar. 

A autorização do Idaf, pondera, “é muito específica e detalhada sobre quais espécies podem ser retiradas ou podadas. Então o que vimos foi o grande despreparo da equipe que executou o serviço”, por não obedecer às especificações do Idaf. “Um dia foram fazer manejo e cortaram várias espécies nativas dentro de cercamento”. 

O que precisa ser feito, ressalta, “é a recuperação e restauração, com isolamento da área”. E, a partir daí, organizar a área de estacionamento dos carros, que hoje param em cima da restinga, e fazer educação ambiental junto aos moradores e visitantes. “E fiscalização e autuação, porque denúncias são feitas várias vezes, sem nenhum resultado coercitivo”, reclama.

Uma proposta de parceria, em que a comunidade entraria com trabalho voluntário nas ações de restauração, proteção e educação ambiental, ainda não foi respondida pelo secretário, conta Keylla. 

“A restinga e o rio não podem gritar por socorro. Nós somos as vozes deles”, poetiza, citando um dos primeiros episódios de ação coletiva do grupo em favor da natureza do Sauê, em 2006, quando a comunidade impediu que os efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Mar Azul fossem jogado no rio. “Aquele movimento fortaleceu nossa identidade como bairro, como comunidade, e nos fez perceber que temos direito a exigir melhorias e qualidade de vida”, recorda.

“Aqui tem jacupembas, tem miquinhos, tem gambás, raposas, muitos tipos de pássaros, ninguém quer perder esse contato”, reforça outro integrante do grupo de defensores, Márcio de Carli. 

Entre essas melhorias desejadas, elenca, estão a instalação de banheiros químicos e a organização de áreas para estacionamento dos carros dos banhistas de fins de semana e férias, o estaqueamento para delimitação da área com restrição de turismo, o replantio de mudas nativas onde houve devastação, e a poda ordenada das castanheiras para futura substituição por vegetação nativa.

Lista que Keylla reforça. “Tem circulado muita conversa errada sobre o abaixo-assinado, dizendo que ele pede para não ter estacionamento nem banheiro químico ou limpeza da praia”, alerta. São intervenções básicas que a prefeitura deveria fazer, é o que nós também queremos. Elas não estão feitas por causa do abaixo-assinado, mas porque o município parece não ter interesse”. 

Márcio reitera: “se nada for feito agora, para salvar a restinga e retornar o curso do rio para sua posição costumeira, não será necessário se preocupar com rua, calçadão, pois o mar vai carregar tudo…É questão de tempo. Então a prioridade agora é recuperar”.

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