segunda-feira, novembro 25, 2024
19.9 C
Vitória
segunda-feira, novembro 25, 2024
segunda-feira, novembro 25, 2024

Leia Também:

Ensaio de Hartung como candidato a presidente serve para medir cacife ao Senado

Ex-governador está afastado das disputas eleitorais desde 2018, quando desistiu da reeleição

Leonardo Sá

Nem uma candidatura ao Senado é certa para Paulo Hartung. Essa é a tônica de setores do mercado político ao analisar a articulação do ex-governador, que veio ao público nessa quinta-feira (10), colocando-o como mais um nome da terceira via, pelo PSD, nas eleições de outubro. No campo nacional, seria a mais nova ação do até agora infrutífero movimento do campo da direita e da extrema direita, para enfrentar o avanço do ex-presidente Lula rumo ao Palácio do Planalto. Nos meios políticos do Estado, porém, a articulação é vista como uma forma de avaliação das possibilidades eleitorais de Hartung.

“É um balão de ensaio, porque ele precisa se valorizar e, ao mesmo tempo, articular a formação de chapas para deputado federal e estadual, necessárias para uma eventual candidatura ao Senado, seu verdadeiro objetivo”, aponta uma liderança política do Espírito Santo.

No quadro atual, acrescenta, o cenário caminha, segundo as pesquisas, para “uma espécie de aclamação do ex-presidente Lula”, ao apontar que muitos do “Centrão”, grupo de deputados fisiológicos na Câmara Federal, já estão quebrando alianças com o bolsonarismo.

O ex-governador já tem ao seu lado o presidente do PSD no Estado, deputado federal Neucimar Fraga, que, de acordo com o mercado, pode desembarcar da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e caminhar ao lado de antigos aliados de Hartung, abandonados na eleição de 2018, que agora reiniciam um novo ajuntamento, cada qual à sua maneira, a fim de retomar mandatos perdidos.

O ex-vice governador César Colnago (PSDB) e o ex-deputado federal Lelo Coimbra (MDB) são alguns da relação de ex-aliados derrotados, integrada também por políticos vitoriosos nas últimas eleições, como o deputado estadual Erick Musso (Republicanos), o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede) e o prefeito de Linhares, Guerino Zanon (ainda no MDB), todos os três pré-candidatos ao governo do Estado e debaixo da influência de Hartung.

O desmonte do seu grupo político, ampliado com a ausência nas eleições de 2018 e de 2020, obstáculos naturais do fazer eleitoral, empurraram Hartung a buscar outra base de sustentação, configurada pelo acolhimento da política de teto dos gastos públicos e do agrado do capital financeiro, que o adotou, por meio do ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso, o banqueiro Armínio Fraga. Deles surgiu a pré-candidatura do apresentador de TV Luciano Huck.

O movimentou não vingou, mas abriu espaço para Hartung no plano nacional, terreno sedimentado por ele desde 2018, quando desistiu da reeleição, por meio de frequentes aparições na mídia de circulação nacional, possibilitando a aproximação com o PSD, de Gilberto Kassab.

O presidente do PSD trabalha nos bastidores para oferecer como vice a Lula um dos filiados ao partido, neste caso o ex-governador paulistano Geraldo Alckmin, aproveitando o impasse sobre a aliança do PT e do PSB, criado por dirigentes dessa sigla, entre eles o governador Renato Casagrande, um dos principais opositores da federação PT, PSB, PCdoB e PV. Hartung tentar entrar no campo dividido, pois, pelo menos, amplia prestígio.

No entanto, segundo o andamento das negociações, a aliança será fechada, seguindo direcionamento da bancada do PSB na Câmara Federal, que se declara favorável ao projeto da federação, apesar da insistência do ex-governador de São Paulo Márcio França de manter a candidatura ao governo do Estado, concorrendo com o candidato do PT, Fernando Haddad. Fechada a federação, a tendência é o PT apoiar a reeleição de Casagrande e indicar o candidato ao Senado, que, evidentemente, não seria Hartung.

Outro fator negativo para Hartung é a capacidade de embocadura no âmbito nacional, mantida no mesmo patamar, apesar dos esforços de setores da mídia e do campo da direita sob o controle do capital financeiro que já se cansaram da desastrosa gestão de Jair Bolsonaro. Em resumo, Paulo Hartung é visto como forte eleitoralmente no âmbito estadual, mas não possui envergadura nacional. Mesmo no Espírito Santo, há nomes que poderão surpreendê-lo, no caso de uma disputa, um deles o ex-prefeito de Colatina, Sergio Meneguelli (Republicanos).

As condições desfavoráveis para o ex-governador não param por aí: ao adotar a política de teto dos gastos públicos, Hartung estabeleceu um arrocho fiscal que afetou setores da economia e o funcionalismo público do Estado, provocando inclusive a greve da Polícia Militar. Um projeto que afeta diretamente os programas para as áreas sociais, atingidas duramente no governo Bolsonaro, por meio da política econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Como ele não entra em bola dividida, sonda o terreno para avaliar a situação”, comenta um analista.

Mais Lidas