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Ecoporanga vai ganhar Universidade Livre de Cotaxé e das Lutas Sociais

Imóvel foi adquirido no distrito rural para oferta de cursos populares por movimentos sociais

O distrito de Cotaxé, em Ecoporanga, noroeste do Espírito Santo, vai ganhar a Universidade Livre de Cotaxé e das Lutas Sociais. Para isso, foi adquirido um imóvel na região, que também servirá de abrigo para o Memorial Cotaxé e um museu sobre as disputas entre camponeses e latifundiários que marcaram a história da localidade. A inauguração da universidade e do museu ainda não tem previsão de data, mas as articulações para tirar o projeto do papel já tiveram início.

O Memorial, em homenagem às lutas camponesas, foi inaugurado em nove de janeiro. Trata-se de uma placa colocada provisoriamente em um espaço privado, com o objetivo de, posteriormente, ser afixada na praça. Entretanto, a ideia agora é colocá-la na entrada do imóvel adquirido.

Vitor Taveira

A universidade, explica Vander Antônio Costa, um dos organizadores do Seminário de Humanidades, que busca valorizar a história das lutas camponesas em Cotaxé, não seria vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Seu objetivo será oferecer cursos sobre questões populares, estabelecendo parcerias com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), escolas agrícolas, entre outras instituições de ensino.

A universidade também estará aberta para movimentos sociais, coletivos e pessoas que queiram contribuir, não sendo descartada a possibilidade de, além de atividades presenciais, serem realizadas também as virtuais.

“Estamos construindo esse projeto coletivamente, com grupos de Vitória e de Cotaxé”, explica Vander, que vê na aquisição do imóvel uma possibilidade de proporcionar aos pesquisadores que procuram a região para fazer seus estudos um local onde possam se hospedar gratuitamente. “É importante tornar possível a essas pessoas o acesso a uma casa onde tenham cama, geladeira, fogão, um pouco de conforto”, diz.

No que diz respeito ao museu, a ideia é fazer uma campanha de doação de peças antigas dos moradores locais, além de contar com apoio de profissionais como museólogos.
“São iniciativas que servem de instrumento para atrair a atenção para Cotaxé, uma comunidade longínqua em relação à Capital, que foi palco de uma luta camponesa, a mais importante do Espírito Santo. Queremos chamar atenção para a história dos vencidos, que lutaram contra as forças do Estado, contra os grileiros. O povo sempre se levantou contra a tirania. Cotaxé é a capital das lutas camponesas no Espírito Santo”, ressalta Vander.
No início da década de 1950, sob liderança de Udelino Alves de Matos, lavradores, posseiros e sem-terra se uniram contra os latifundiários para lutar pelo acesso à terra na região de Cotaxé. A luta foi fortemente debelada por militares e jagunços e levou à fuga e morte vários camponeses e lideranças, fazendo valer os interesses de fazendeiros e madeireiros da região.

A insatisfação da população seguiu, porém, e novamente se organizou, anos depois, já sob liderança do Partido Comunista do Brasil (PCB), um conflito que se estende até os primeiros anos da ditadura civil-militar iniciada em 1964.

Com a terra nas mãos de poucos, Ecoporanga teve o início de sua economia moderna com a extração madeireira, seguida pelo café, que com a política de erradicação, foi sendo substituída pelo gado leiteiro e de corte, que hoje ocupa grande parte do território, em sua imensa maioria desmatado, com uma população humana que decresceu ao longo das décadas enquanto a população bovina crescia e a superava. Mais recentemente, a indústria de mármore e granito também vem ocupando destaque na economia, com base no extrativismo mineral.
Mas esse histórico não fez desaparecer as lutas pela posse das terras, retomadas com força a partir da década de 1980 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que conquistou alguns assentamentos na região. Há 10 anos, o movimento luta para a criação de um novo assentamento, no atual acampamento Derli Casali.

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