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Águas voltam a subir na área afetada pelo vazamento de óleo da Imetame

Moradores estão ilhados e temem efeitos do óleo, visível na estrada e na louça lavada dentro das casas

João Batista Teixeira

O óleo vazado na terça-feira passada (15) no Campo de Lagoa Parda, de propriedade da Imetame Energia, próximo à comunidade indígena de Areal, em Linhares, norte do Estado, continua visível para os moradores desta e outras localidades da região, que demonstram ainda mais preocupação em função de nova cheia do Rio Doce. Desde essa segunda-feira (21), as águas voltaram a subir pela estrada que liga Areal, Entre Rios e Regência, deixando a todos ilhados. “Só caminhão consegue passar aqui”, testemunha o agricultor Célio Fernandes.

Estradas que ligam as comunidades voltaram a ficar alagadas com nova cheia do Rio Doce. Foto: Redes sociais

Os vestígios de óleo são vistos na estrada que interliga as comunidades e também na água que chega nas torneiras das casas. “Minhas vacas passam na estrada. Eu vejo o óleo na estrada e sei que ele gruda no pelo do animal também. Mas o pessoal que trabalha na remoção fala que não vai dar problema, não”, relata. 

Dentro das casas, uma pluma de óleo pode ser vista sobre a louça lavada na cozinha. “No segundo enxague dá para ver que ele fica nas panelas”, conta. “O lençol freático aqui na região é muito alto, contamina fácil”, explica.

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Responsável pelo licenciamento ambiental e fiscalização da exploração petroleira da Imetame, bem como pela avaliação dos impactos para definição das penalidades a serem aplicadas à empresa, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) repetiu, em nota nesta terça-feira (22), que “não foi constatado que o produto tenha atingido o rio”.

A limpeza, informa o órgão, “continua sendo feita, visto que é de médio prazo, sobretudo no que tange à recuperação vegetal, sob acompanhamento in loco de uma equipe do Instituto”.

Vegetação destruída pelo óleo. Foto: Redes sociais

Mesmo posição tem a responsável pelo vazamento. Em nota publicada na segunda-feira (21), a Imetame Energia alega que “não houve nenhum contato de óleo com o rio Preto e demais corpos hídricos vizinhos”. A empresa diz que está realizando “monitoramentos com coletas de água e solo em todo o entorno da região atingida” e que “biólogos e engenheiros ambientais percorrem a região e ainda não foram evidenciadas ocorrências com fauna”.

A investigação das causas do acidente “estão sendo investigadas pela equipe técnica da Imetame e empresa especializada contratada”, acrescenta a empresa. 

Protesto 

A visualização do óleo no rio Preto, afluente do Rio Doce, foi feita pelos participantes de um protesto realizado na última sexta-feira (18) pelo coletivo de mulheres Vigilantes da Foz do Rio Doce, com apoio da campanha Nem Um Poço a Mais. Na ocasião, os moradores exigiram estudos sobre a contaminação já provocada e os impactos do óleo sobre a água que abastece as comunidades.

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Também lembraram que a exploração de petróleo e gás na região, iniciada na década de 1980 pela Petrobras – que vendeu os poços maduros do Campo de Lagoa Parda para a Imetame em 2020 – já provocou diversos outros vazamentos de produtos fósseis, além de explosões e até mortes. 

A Campanha denuncia ainda os impasses ambientais, sociais e econômicos da cultura petroleira e a intensa degradação imposta aos territórios onde os poços são furados. “Um setor como esse [exploração de poços maduros como da Imetame] é o pior cenário da civilização petroleira. Deveriam ser fechados e suas ‘piscinas tóxicas’ [reservatórios de resíduos retirados da perfuração] realocadas em lugar mais seguro”, declarou o sociólogo Marcelo Calazans, coordenador regional da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), uma das ONGs integrantes da campanha. 

Já o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro/ES) destacou a precarização do plano de emergência e do trabalho de manutenção da estrutura de exploração na região, após a privatização.

“Trabalhadores sem máscara apropriada, equipamentos inadequados, usando galhos de árvores para recolher o óleo e equipe reduzida. É a prova que privatizar faz mal à população e ao meio ambiente”, denunciou a entidade, durante vistoria no local no dia seguinte ao vazamento.

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