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Quais são as necessidades da juventude da Capital?

Com equipamentos em risco, lideranças acreditam que Vitória parou no tempo quando o assunto é política pública

Redes sociais

Após a Prefeitura de Vitória decidir não renovar a atual licitação da Casa da Juventude de São Pedro, justificando que “os termos atuais estavam desalinhados com as necessidades da juventude da Capital”, o que se pergunta é: quais necessidades são essas? Mobilizadores e lideranças capixabas alertam que, para responder à questão de forma urgente, o município precisa correr para recuperar o protagonismo que já teve quando o assunto é política pública para esse grupo.

Luiz Felipe Costa, presidente do Conselho Municipal de Juventude de Vitória (Comjuv), acredita que, para isso, a valorização do Plano Municipal de Juventude é fundamental na promoção dessas políticas. “O município de Vitória tem um plano desde 2015 e até hoje não avaliou, não realizou nenhum monitoramento. A gente não consegue mensurar no que avançou ou não na promoção dessas políticas de juventude”, afirma.

Além da falta de monitoramento, é preciso dar continuidade a projetos de valorização desses jovens. O conselheiro de Diversidade e Igualdade do Comjuv, Wess Lacerda, aponta a necessidade de reconhecimento do jovem negro, por exemplo, e de estratégias de inserção no mercado de trabalho. “Vitória já foi referência nacional em políticas públicas voltadas para a juventude e hoje é como se a gente tivesse parado no tempo”, pontua.

Mais que isso, esse reconhecimento precisa alcançar a juventude em toda a sua pluralidade. Wess defende o fortalecimento de políticas voltadas para a população LGBTQIA+ e para os jovens negros, garantindo a essas pessoas o direito à cidade. Ele também destaca a importância das medidas de combate à insegurança alimentar, que ainda é uma necessidade básica para muitos jovens capixabas.

“A juventude tem fome e, muitas vezes, a merenda escolar é a única refeição do dia. A reativação do restaurante popular, que já existe aqui em Vitória, é uma excelente ferramenta para lutar contra a insegurança alimentar”, sugere.

Luiz Felipe pontua a execução de uma política para a juventude mais ampla, que, de fato, possibilite o desenvolvimento dessas pessoas. “É fundamental entender que somente oficinas oferecidas por alguns equipamentos não dão conta de atender às demandas e os anseios da juventude da nossa capital. É necessário o acolhimento, o atendimento por uma equipe multidisciplinar, com psicólogos e educadores sociais”, descreve.

Tudo isso também considerando as pautas que fazem parte do cotidiano e da história desses jovens, com promoção do combate ao extermínio da juventude negra, e discussão de temas como racismo, empoderamento feminino, e o combate à intolerância religiosa. “Nós temos capacidade pra isso, já fizemos (…) é fundamental retomar esse processo, para que a juventude de Vitória, de fato, se sinta contemplada nessas políticas”, enfatiza Luiz Felipe.

Por enquanto, tudo indica que o município caminha em um sentido contrário. Em entrevista ao Século Diário na última terça-feira (22), um dia após a Casa de Juventude de São Pedro aparecer de portas fechadas, a integrante do Coletivo Beco, Crislayne Zeferina, denunciou o desmonte das políticas de juventude na capital.

“Eu não estou falando de ir em uma parede fazer um grafite, falo do grafite que vai mudar e transformar vidas a partir da sua teoria e da sua prática. É sobre isso que a gente fala. É sobre esse apagamento de histórias, de várias concepções, de várias pessoas que lutaram para que existisse a Casa da Juventude, para que existisse o CRJ [Centro de Referência da Juventude]. São políticas públicas garantidas por nós por meio do Estatuto da Juventude e do Plano Municipal de Juventude”, declarou.

Portas da Casa da Juventude fechadas na última segunda-feira (21). Foto: Redes sociais

A gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) não renovou o termo de colaboração com o Instituto de Desenvolvimento Social Bem Brasil, responsável pelas atividades da Casa da Juventude de São Pedro, que atende cerca de 150 jovens com atividades sociais. O que preocupou moradores e lideranças foi justamente a falta de um novo chamamento público para que os serviços continuassem sendo oferecidos.

O município informou que, com o fim do contrato, os serviços na Casa de Juventude têm sido prestados por servidores da Secretaria de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho (Semcid). A gestão também garante que será realizado um edital unificado, bem como um investimento de R$ 3 milhões para a reconstrução da Casa da Juventude de São Pedro e do Centro de Referência da Juventude (CRJ), cujo contrato também não foi renovado.

Os questionamentos giram em torno da capacidade técnica desses profissionais que passaram a atender na Casa da Juventude enquanto o novo chamamento público não é realizado. Nessa quarta-feira (23), uma reunião entre a mesa diretora do Conselho Municipal de Juventude e a equipe da Semcid discutiu o assunto.

Uma das perguntas dos integrantes do Conselho Municipal de Juventude foi por que a prefeitura não iniciou o novo edital em tempo hábil para que os serviços oferecidos nos equipamentos não fossem interrompidos. As lideranças também questionaram por que as insatisfações com a organização prestadora do serviço na Casa da Juventude não foram apresentadas ao gestor do convênio.

“Foi anunciado cerca de 3 milhões de reais em investimento. Para quando são esses recursos? Contemplam a abertura dos equipamentos de juventude? Em relação a esse novo edital de chamamento público, qual o prazo? Até lá os equipamentos funcionarão de que forma?”, enumerou o Comjuv à prefeitura, que tinha até essa quinta-feira (24) para se posicionar, mas não o fez, o que gerou um ofício de cobrança. Pontos essenciais e urgentes para juventude da Capital permanecem, portanto, sem respostas. Até quando?

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