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Projeto faz reviver tempos de música na Praça do Papa

De terça-feira a domingo, local recebe bandas de diversos estilos, lembrando a cena musical colaborativa do Estado

Quem gosta de cultura e lembra do passado, certamente se recorda dos chamados tempos de ouro da música capixaba moderna, que tinha como auge o Dia D, evento só com bandas locais que enchia a Praça do Papa com fãs empolgados. Quem gosta de cultura sonha com o futuro, provavelmente ao olhar o entorno mas imaginar o Cais das Artes finalizado e trazendo diversas atrações para o entorno na Enseada do Suá, área nobre da capital capixaba. E para quem gosta de cultura e quer viver o presente? Um movimento recente dá novamente vida à Praça do Papa como reduto cultural.

Com o nome de Verão Viva Praça do Papa, a organização esportiva e cultural Revelando Talentos vem realizando desde 11 de janeiro um calendário de shows e atividades gratuitas de terça-feira a domingo, com diferentes ritmos e bandas, atraindo um público crescente a cada semana, conforme o projeto vai ficando mais conhecido.

Na terça, como já é tradição capixaba, é o dia de celebrar o reggae. Na quarta, abre-se para novos talentos e música autoral. Quinta-feira é dia de forró, com aulas de dança seguidas de apresentação de um trio. Sexta-feira, no clima de happy hour, são convidadas bandas de pop rock. Aos fins de semana, quando os eventos são de dia ao invés da noite, tocam bandas de rock no sábado e clássicos no domingo. A programação é divulgada conforme definida na página do projeto no Instagram (@vivapracadopapa).

Vitor Taveira

Tudo acontece no bom estilo colaborativo. A ONG contribui com os equipamentos de som, a prefeitura deu alvará e cede banheiros químicos, o Espaço Baleia Jubarte libera o ponto de energia, um trailer vende lanches e bebidas, as bandas tocam e fazem ecoar sua música e o público assiste, consome e contribui voluntariamente com os artistas, ao modo moderno do “passar o chapéu”, que agora foi substituído pela disponibilização dos códigos de Pix e Picpay, formas eletrônicas de transferência de dinheiro. A arrecadação serve para apoiar as bandas, sendo que em alguns casos, como da banda Macucos, o valor arrecadado foi destinado a um projeto social.

Quem comanda essa agenda frenética de organização praticamente diária de eventos são o músico Jorman da Silva Santos, multi-instrumentista, agitador cultural e integrante da banda Herança Negra, e Lila Tavares, nutricionista, atleta, musicista e produtora cultural, contando com apoio de outros colaboradores antes, durantes e depois dos eventos.

Quando teve início, o projeto propôs uma temporada de verão, até 6 de março. Esse prazo ainda nem chegou, mas o projeto já garantiu sua continuidade por tempo indefinido, já entrando março pensando na agenda de abril, tamanha a procura de bandas interessadas em tocar. “Começamos convidando artista que conhecíamos, que eram nossos amigos. Com o tempo as próprias bandas começaram a indicar outras e logo a galera que está na cena também começou a nos buscar querendo tocar”, afirma Lila.

Tanto do lado artístico como de público, sem grandes investimentos em divulgação, os principais meios de difusão que fazem o movimento crescer parecem ser o bom e velho boca-a-boca e os posts nas redes digitais, muitas vezes publicados pelos participantes ou pelas bandas durante os próprios eventos.

Já passaram pelo Verão Viva Praça do Papa atrações como grupos que fizeram parte da história do Dia D e que seguem ativas como Herança Negra, Macucos, Lion Jump, artistas reconhecidos como Anderson Ventura e Chico Lessa, DJs, bandas cover e grupos que estão começando.

Divulgação

Lila Tavares lembra de uma das noites em que a banda convidada teve que cancelar sua apresentação por conta do adoecimento de um dos integrantes. Ao saber, alguns dos presentes que tinham uma banda se ofereceram para tocar, não como apresentação, mas como um ensaio aberto. Foram até suas casas buscar os instrumentos e fizeram acontecer.

O local é inspirador, à beira da entrada da baía de Vitória, as bandas tocam com vista para o Convento da Penha e a Terceira Ponte, cartões postais do Espírito Santo, e o som acontece no deck, onde a brisa refresca as noites de verão. As atividades podem ser canceladas em caso de chuva, por conta do espaço não ser coberto, mas quando isso não ocorre, o local aberto e amplo permite maior segurança em relação às questões sanitárias.

O projeto considerava a Praça do Papa como “espaço de metro quadrado mais ocioso de Vitória”, sendo visto como ponto de insegurança, especialmente durante à noite. Com o movimento cultural recente, Lila Tavares diz já observar mudanças, como a melhoria da iluminação, obras no deck e maior sensação de segurança, que vem atraindo também moradores locais.

Localizado ao lado da movimentação, o Cais das Artes é visto como um exemplo de mau uso do dinheiro público, com milhões investidos numa obra ainda inacabada depois de 10 anos de início. Mas pelo menos, enquanto se estende essa novela, a cena capixaba não espera de braços cruzados. Com muito menos recursos, se organiza e faz acontecer a arte a cultura como merecem ser, democráticas, de livre acesso, e dialogando com a cidade, suas paisagens e modo de ser de seu povo.

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