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‘Infelizmente, já nos acostumamos’, diz moradora sobre falta d’água

Problema de abastecimento que atingiu mais de 200 bairros no Carnaval já é antigo na periferia

Os problemas de abastecimento de água que atingiram mais de 200 bairros da Grande Vitória no Carnaval continuam gerando transtornos e chegou a ser alvo de uma notificação recomendatória do Instituto de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Vitória. A Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) alegou falha no fornecimento de energia, na última segunda-feira (28), mas moradores de regiões periféricas, como o Território do Bem, na Capital, relatam que a falta de água é um problema antigo. “Infelizmente, já nos acostumamos”, diz a moradora Fátima Reginaldo de Oliveira, do Bairro da Penha. 

Arquivo Pessoal

Desta vez, a Cesan informa que uma falha no fornecimento de energia elétrica danificou equipamentos, prejudicando o abastecimento em bairros de Cariacica, Viana, Vila Velha e Vitória. Na Capital, uma notificação do Procon recomendou que a empresa restabelecesse o fornecimento e disponibilizasse um meio alternativo para o fornecimento de água de forma gratuita e segura.

Nessa quarta-feira (2), a Cesan chegou a enviar carros-pipa para a região da Grande São Pedro. Nas redes sociais, a vereadora de Vitória, Camila Valadão (Psol) já tinha cobrado respostas do Governo do Estado sobre o problema. Em resposta, o governador Renato Casagrande (PSB) reiterou a justificativa de que o problema foi causado por uma falha da EDP. 

Denúncias apontam, porém, que o problema começou bem antes. No caso do Território do Bem, moradores já haviam relatado, em entrevistas ao Século Diário, que a falta de abastecimento adequado de água se intensificou no final de 2020, mas o problema faz parte da história das pessoas que moram no local. É o que reitera Fátima Reginaldo de Oliveira.

“Aqui na nossa periferia, isso já é antigo. Desde que eu me vi como criança, temos esse problema. Até hoje, tenho cinco galões armazenados pela falta de água. Eu vejo que a Cesan tem falado que tem regularizado, inclusive que vai construir um reservatório aqui em cima, mas eu sei que é todo um estudo que tem que ser feito. E não é só porque agora chegou o verão que está acontecendo isso, na nossa periferia. É um caso antigo, não sei em outros bairros. Nós, infelizmente, já nos acostumamos. É difícil falar isso, acostumar com coisa ruim, mas é isso aí que a gente vive”, aponta a moradora.

Um grupo de moradores se uniu para reivindicar o direito ao abastecimento adequado. O coletivo realiza reuniões virtuais, buscando ajuda de órgãos como a Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo (DPES).

Em abril do ano passado, a DPES enviou um ofício à Cesan, à Prefeitura de Vitória e à Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação, solicitando informações sobre os problemas de abastecimento no Território do Bem. Na ocasião, as instituições informaram que havia um projeto em andamento para implantação de um sistema de fornecimento para os bairros da região.

A Defensoria então cobrou um cronograma para o processo. Crislayne Zeferina, moradora do Bairro da Penha, faz parte do grupo de moradores que se reúne com a DPES e explica que um novo cronograma de ações foi firmado em setembro do ano passado. “Alguns serviços, como a construção da rede de distribuição de água e o sistema de esgotamento sanitário, já deviam ter começado”, aponta.

Para ela, o problema, que é histórico nas comunidades periféricas de Vitória, está diretamente ligado à desigualdade social e racial. A falta de acesso ao fornecimento de água limpa e tratada é, inclusive, pauta de pesquisas sobre o racismo ambiental, termo que explica por que determinados grupos de pessoas são atingidos de forma desproporcional por problemas ambientais e situações de degradação.

“Quando falamos em racismo ambiental, deixamos nítido a falta de políticas públicas ligadas diretamente ao saneamento básico em comunidades racializadas, um exemplo são as comunidades que não possuem uma rede de saneamento básico. Quando você não fornece água potável para comunidades de sua maioria negra, é uma questão racial”, enfatiza.

O mesmo foi dito, em outras palavras, pela vendedora Jane Araújo, moradora de São Benedito. “Quando você olha na televisão, está lá ‘nossa, a cidade de Vitória é maravilhosa’, mas ninguém olha para a periferia. O povo da periferia pede socorro em todos os sentidos”, declarou ao Século Diário no ano passado, quanto a pauta já era as constantes falta de água no Território do Bem. 

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