Mais Maquiavel faria bem na hora de decidir o voto
A entrega das chaves do cofre do Orçamento feita em janeiro ao todo-poderoso ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, representante de um centrão entranhado no sistema, é sem precedentes, inédita na nossa Nova República, colocando mais uma vez o ministro da Economia, Paulo Guedes, que já se encontrava em uma posição patética e subserviente, agora em uma posição inútil, se tornando uma nulidade que se agarra a um cargo que já não serve mais para nada.
Isso para vermos que a promessa da nova política não chega nem a ser um sonho numa noite de verão, mas um estelionato eleitoral de um ex-integrante do baixo clero oriundo, pasmem, deste mesmo Centrão, em uma série de rachadinhas em que a sua família se encontra agora entranhada até a medula, no que se seguram com o poder que ainda têm no Executivo, Senado e Câmara, mas com promessas de tempestades caso Bolsonaro perca a sua imunidade, o que na visão autoritária que se conhece deste DNA, logo eles podem ficar acuados por um novo governo e uma virada democrática.
O governo foi às favas com os falsos escrúpulos, nunca o tiveram, a aliança com o Centrão é obra e ação de uma mesma laia de apaniguados que têm na profissão da política um meio de vida e um projeto de dinastia, de um Carluxo que começou a carreira já como vereador, sendo emancipado. Nada é surpreendente nesta história, a não ser para os arrependidos da direita que se iludiram com uma promessa liberal e venderam a alma ao Diabo e levaram uma ferroada do escorpião, pois esta é a sua natureza.
O fundo eleitoral virou uma festa, a responsabilidade fiscal ganhou contorcionismos que fariam do governo Dilma um exemplo de sensatez orçamentária. Por fim, a festa completa se dá com a troca de moeda da governabilidade com as chamadas emendas de relator, nada mais que uma reedição matreira do que foi a esbórnia dos anões do orçamento. Repito, nada é surpreendente, a surpresa cabe aos inocentes que ainda acreditam em lorotas e lendas urbanas como nova política, numa visão idealizada de ingenuidade que só caberia a um Platão e seu Rei-filósofo, antes da pancada de realidade de Maquiavel.
Falta conhecimento da política real e da História como eixos em que se podem analisar e saber o que é possível ou não nas ações políticas. Falta realismo no fenômeno eleitoral brasileiro, uma Macondo de pensamento mágico que sempre se insinua quando não sobra alternativas a não ser colocar um espantalho ou um estrupício para dar as cartas e virar chacota internacional. O Brasil virou um país exótico em que as repúblicas bananeiras podem se espelhar e se aliar, piada é pouco, o ridículo do negacionismo nos levou a uma condição pré-iluminista de crendices e unguentos.
O sistema está contaminado há muito tempo por uma ocupação fisiológica, um cancro difícil de ser extirpado. Eis a nova política, ao menor sinal de dar água, mostra a sua verdadeira natureza, acovardada e que tenta se equilibrar bambeando numa coluna chamada Centrão e todo o pacote que isto envolve. O mais patético, por fim, se torna a que papéis se prestam estas excelências, como no caso citado de Paulo Guedes, uma biografia à deriva, politicamente, mais um nesta série amalucada de ministérios estrambóticos comandados por uma súcia ideológica de costumes de uma Dona Candoca, digo, Damares.
Temos o capachão da TV Colosso que levou esporro do chefinho ao abusar de suas prerrogativas e assim “la nave va”. Eis o governo do escorpião, que é de sua natureza fazer de idiota uma direita que se iludiu com um sonho numa noite de verão, ou melhor, que foram tapeados pela espirituosidade da realidade política como ela é. Mais Maquiavel faria bem na hora de decidir o voto, para que a Macondo do mundo das fadas não dê as cartas na próxima vez.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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