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Famílias protestam contra ‘morte social das crianças com deficiência’

Ato realizado na Serra pelo Coletivo Mães Eficientes Somos Nós exigiu “inclusão real já” e “fim do capacitismo”

Redes sociais

A “morte social das crianças com deficiência” foi denunciada na tarde desta sexta-feira (4) em um protesto organizado pelo coletivo Mães Eficientes Somos Nós (MESN), com apoio do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência da Serra. Cerca de 50 mães, com seus filhos, compareceram, todos de camiseta preta, levando um caixão simbólico e cartazes, além de entoar palavras de ordem.

A caminhada saiu da Secretaria Municipal de Educação e seguiu até a sede da prefeitura, onde foi protocolado uma carta ao prefeito, Sergio Vidigal (PDT), com relatos de agressões e exclusões sofridas pelas crianças e adolescentes especiais e suas famílias, e com pedido de medidas urgentes para frear as violações de direitos.

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“Por que hoje nós trouxemos o tema da morte social? Porque é uma morte que pode levar à morte física! Há uma semana, uma criança quase morreu numa tentativa de suicídio. Só foi salva pelo socorro rápido feito pela mãe, que levou a uma unidade de saúde próximo à casa dela a tempo de tratar o filho, que ingeriu 45 comprimidos de Depakene!”, expõe Lucia Mara dos Santos Martins, coordenadora-geral do coletivo. 

A “morte social” dessa população, enfatiza, não é exclusividade da Serra, ocorre em todo o Estado. Nas escolas das redes municipais e da rede estadual, estudantes com deficiência estão sendo enviados de volta para casa, por falta de profissionais capacitados para recebe-las e realizar a real inclusão, prevista na legislação brasileira.

“Recebemos o relato de uma criança que foi expulsa de uma escola municipal de Vitória, porque entrou em surto e a mãe foi acusada de ser negligente por não ter ido buscar a criança rapidamente. São muitas violências, não aguentamos mais”, desabafa.

A invisibilidade do poder público, aponta Lucia Mara, reflete uma postura da sociedade como um todo. “A sociedade ainda não quer ver essas crianças, ainda vira as costas para elas”, lamenta.

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No documento protocolado ao final do ato, o coletivo ressalta que “a escola é lugar de aprender não apenas letras e números, é lugar de aprender o respeito à diversidade humana! A aceitação de uma criança com deficiência sobre sua condição depende muito de como ela tem sido aceita ou não na sociedade e na escola”.

A carta também pergunta “o que tem sido feito para evitar a morte social de nossas crianças e adolescentes, que mesmo tão novos já precisam lidar com inúmeras manifestações de preconceito, discriminação e descaso?”. E responde que, até o momento, quase nada tem sido efetivamente feito. “A vida de nossos filhos e nossas filhas com deficiência não pode esperar por ações futuras, pois o capacitismo está presente agora, no nosso dia a dia, devastando tudo o que vê pela frente”. 

No manifesto e nas ruas, o grupo afirma: “não aceitaremos que crianças e adolescentes com deficiência tentem suicídio por não aguentarem mais tantos sofrimentos decorrentes das discriminações e preconceitos vividos dentro de escolas! Não aceitaremos que mães de pessoas com deficiência desejem morrer por não aguentarem mais ver o sofrimento de seus filhos e de suas filhas. Nosso luto é verbo! Lutar para nós não é uma escolha, é a única forma de evitar que o luto pela morte de nossas crianças e adolescentes se torne real”.

Reunião com o governador 

Há duas semanas, no dia 18 de fevereiro, o coletivo conseguiu ser recebido pelo governador Renato Casagrande (PSB), ao final do quinto dia de acampamento feito no Palácio Anchieta, à espera de audiência com o chefe do Estado e seus secretários de Saúde, Nésio Fernandes, e Educação, Vitor de Angelo

Na ocasião, foram criados dois Grupos de Trabalho para traçarem soluções que atendam às necessidades e direitos dos estudantes com deficiência. Com três representantes do governo e três representantes das Mães Eficientes cada, os GTs farão reuniões quinzenais ao longo do ano e, a cada 45 dias, o grupo se reunirá também com o governador. 

Na primeira reunião, realizada nesta quinta-feira (3) com o secretário de Saúde, as mães apenas receberam a confirmação de que o Estado disponibilizará um número maior de consultas com neuropediatras na rede própria de saúde e na rede particular conveniada em Cariacica, além das unidades da Associação dos Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) e Pestalozzi.

Segundo a Sesa, “com base em dados extraídos do portal do Conselho Federal de Medicina (CFM), o Espírito Santo conta com cinco neurologistas pediátricos, 20 psiquiatras infantis e dois neuropediatras para atender uma população alvo, segundo projeção do Ministério da Saúde, de um milhão pessoas de zero a 17 anos”.

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