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Quais os benefícios do cabeamento subterrâneo?

Associação de Moradores do Centro de Vitória aponta riscos dos cabos suspensos e reivindica que sejam enterrados

Um emaranhado de cabos e fios se cruzam entre postes, levando e trazendo energia, internet, TV e outros serviços. Estamos no Centro de Vitória, mas a situação não é diferente em muitos municípios do Espírito Santo e do Brasil. Poluição visual, impactos ambientais e riscos de acidentes são alguns dos problemas gerados por esses cabos suspensos, fato que levou grandes cidades do mundo, como Paris, Barcelona e Nova York, a transferirem todas suas redes distribuídas pelo subsolo.

A realidade ainda é distante da capixaba, mas a Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro) tem puxado um debate sobre a questão, pressionando empresas como a EDP por soluções. “As redes de fiação elétrica e de telecomunicações impactam diretamente no ambiente urbano, de diversas maneiras”, confirma Daniella Bonatto, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Estado (Ufes) e integrante do BrCidades – Núcleo ES.

O mais óbvio, explica, é o estético. “O aspecto visual feio impacta de forma negativa sobre as pessoas e o bem-estar que sentem no espaço público. Uma localidade que possui fiação subterrânea apresenta um ambiente urbano mais limpo, visualmente organizado, e estimula a permanência de pessoas no espaço público e funciona também como um convite ao caminhar por ele”, afirma.

No Centro de Vitória, a questão é ainda mais importante, já que o bairro concentra mais de 80% dos edifícios de interesse histórico do município, lembra a professora.

Palácio Anchieta, sede do governo do Espírito Santo. Foto: Lino Felleti

“Na relação com o patrimônio, as fiações aéreas prejudicam a sua visibilidade, depreciando a contemplação de um bem que deveria ser usufruído por todos”. Em alguns pontos do Centro, como o Teatro Carlos Gomes e a Casa Porto, a fiação foi enterrada, o que deixa mais limpa a visualização dos monumentos, conforme citado no Plano Diretor Urbano (PDU) do município. Porém, em vários outros pontos, conforme registros da própria Amacentro, são muitos os espaços de acúmulo de cabos e postes.

Além da construções edificadas, Daniella recorda que o Centro Histórico possui como patrimônio seu traçado que remonta ao período colonial, com ruas e calçadas estreitas em algumas partes, nos quais os postes constituem obstáculos, principalmente para a circulação de pedestres, já que o fluxo de veículos costuma ser priorizados. “Tais ruas são perigosas para pessoas com restrição de mobilidade e inacessíveis para os que necessitam de cadeira de rodas”, indica a integrante do BrCidades. “A substituição por fiação subterrânea e, portanto, retirada do posteamento, as tornaria acessíveis”.

Ela acredita que o trânsito de pedestres e os espaços de lazer e convívio devam ser privilegiados, sendo que a substituição da fiação aérea por subterrânea torna as ruas mais convidativas e agradáveis, aumentando o potencial para renovar essas áreas e favorecer residentes, comércio e turismo.

Além disso, as fiações suspensas geram outros conflitos com a infraestrutura urbana. Um dos mais notáveis é com a arborização. No alto, cabos e galhos disputam espaço, sendo que os segundos precisam ser adaptados aos primeiros, que garantem serviços importantes para os humanos. Para os passarinhos, certamente, as árvores seriam mais úteis e importantes, mas não são eles que formulam as políticas urbanas.

“As podas drásticas feitas por conta das fiações prejudicam enormemente as árvores, levando ao enfraquecimento de sua estrutura e, tornando-as mais vulneráveis a quedas e demandando substituição”, aponta Daniella Bonatto. Apesar da grande importância dos serviços trazidos por cabos, a arborização também tem um papel fundamental no planejamento urbano, contribuindo para o conforto térmico, qualidade do ar, redução de ruídos, regulação do ciclo da água, paisagismo, entre outros benefícios.

Outro problema conhecido dos cabos aéreos são os acidentes ocorridos, que poderiam diminuir significativamente com o aterramento da estrutura. O processo, no entanto, é custoso e vários projetos de lei desde o nível municipal ao nacional tentam regulamentar a questão.

“Há um grande volume de fios inclusive que estão soltos, sem nenhuma função. É incômodo. Atrapalha a questão histórica e também econômica, já que tira a beleza do nosso patrimônio e atrapalha o fluxo de turistas”, acredita Lino Feletti, presidente da Amacentro e um dos fotógrafos que registrou os postes sobrecarregados no bairro.

Fachado do Mercado da Capixaba. Foto: Lino Feletti

No último dia 21, a associação de moradores realizou uma reunião com o grupo EDP, responsável pelo fornecimento de energia elétrica no município. “Infelizmente, a reunião não resultou em nenhuma providência por parte da empresa!”, exclamou em nota a Amacentro. “Sempre tendo como principal ‘argumento’ o aumento da tarifa, a EDP afirmou que a empresa nada pode fazer, a não ser notificar as empresas de telefonia e de internet que compartilham os postes”, afirmou a entidade.

O cabeamento subterrâneo representa um custo bem mais elevado que o aéreo, o que o torna obviamente pouco interessante para as empresas do setor. “A EDP deixou claro que qualquer obra que fuja do padrão brasileiro, que é a fiação aérea, terá de ter os custos compartilhados por quem solicitar, neste caso, os órgãos públicos”, relatou a associação.

Após a reunião com a empresa, Lino Feletti aponta que saiu com pouca esperança de que o tema possa ser conduzido junto à empresa sem que haja uma intervenção mais forte, seja do poder Judiciário, Legislativo ou Executivo.

A entidade comunitária alega que, desde 2014, há um grupo de estudo sobre a questão entre a Prefeitura de Vitória e o Ministério Público Estadual (MPES), mas que nada foi feito até o momento nesse sentido. Por isso, os moradores pretendem denunciar a situação ao Ministério Público Federal.

“A EDP é uma empresa que cumpre a legislação federal, porém, tem, sistematicamente, se eximindo de suas responsabilidades, atribuindo as suas obrigações ora ao poder público, ora à própria população, que já é onerada com taxas absurdas e não recebe um serviço de distribuição adequado por parte da empresa”, protestou a Amacentro.

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