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De heróis e vilões

Não há lógica para se concordar com guerras, mas também não é razoável alterar o contexto histórico

Afinal, quem são os verdadeiros heróis e vilões nessa guerra entre Rússia e Ucrânia, anunciada há 31 anos, quando da derrubada da União Soviética, em 1991, e em conflitos travados em outras partes do mundo? A resposta pode vir rapidamente se forem observados os interesses inseridos na condução das negociações, àquela época como atualmente, com a entrega do protagonismo em esfera mundial ao capital financeiro.

Sem um contrapeso para dar o necessário equilíbrio, totalmente livre, o capitalismo pôde expandir a chamada globalização e a economia de mercado, ideologia política de domínio por meio da prática de conceitos neoliberais. As guerras se desenvolvem em meio a esse estágio, onde predomina a concentração de riquezas a usura geradora do “amor ao dinheiro, a raiz de todos os males”, como diz o texto bíblico.

Não há lógica para se concordar com uma guerra, independente dos motivos que a geraram, mas, da mesma forma, não é razoável alterar o contexto histórico para condenar uma das partes envolvidas, que é alvo de manipulação de um noticiário vergonhoso e racista. Nos grandes jornais e nas principais redes de TV, a Ucrânia é um universo de heróis, corajosos defensores da democracia, em luta contra vilões de toda espécie, os russos, que massacram vítimas inocentes. O outro lado só é mostrado em pautas negativas.

Assim também ocorre nos conflitos sangrentos na Líbia, no Iraque, na Síria, no Afeganistão, na Hungria, entre os palestinos, onde os norte-americanos e seus aliados invadem, destroem governos, mudam regimes políticos, matam seus líderes (“sanguinários ditadores”), sob os aplausos da mídia corporativa, encantada pela máquina de guerra e espetacularização das tragédias. Agora mesmo, há guerra no Iêmem, na Somália, com milhares de mortos, e não se vê nada nos noticiários. É guerra de pretos, não importa para o dito mundo civilizado, que já deflagrou as duas maiores guerras do planeta.

Nesses países, da mesma forma que agora na Ucrânia, há bombardeios intensos, patrocinados pelos norte-americanos, que não merecem pautas negativas da mídia. Nesses casos, o invasor é tratado como herói em luta pela democracia. Afinal são os “americanos”, essa a denominação mais usada para os estadunidenses ou norte-americanos, acomodando-nos à margem, nós, os sul-americanos.

Mais do que um questão linguística, esse comportamento passa pelo americanismo disseminado pela indústria cultural e, o que é pior, a aceitação por parte da população dessa marca de uma permanente colonização, cujos efeitos se faz sentir na submissão de governantes, das Forças Armadas e de outras instituições. Um cenário que possibilita a deflagração da chamada guerra híbrida contra nações, entre elas o Brasil, por meio do controle da mídia, de parte da classe política e dos tribunais, em uma cumplicidade criminosa visando o desmanche da nação. A América do Sul passa por isso.

Em 2016 o Brasil começou mais um ciclo dessa situação, que vem desde o Estado Novo, em 1930, e em 1964, na ditadura militar. No período de 2013/14, ocorreu o golpe da deposição da presidenta eleita, Dilma Roussef, sem ter cometido crime algum, tendo prosseguimento com a prisão do ex-presidente Lula (PT) em 2018, abrindo caminho para a eleição de Jair Bolsonaro (PL), que, cumprindo o seu papel, entrega o país a potências estrangeiras.

Igualmente em 2014, ainda na gestão Barack Obama, tendo como vice Joe Biden, os norte-americanos também estiveram envolvidos em golpe semelhante na Ucrânia, onde depuseram o presidente eleito e possibilitaram que Volodomir Zelensky, o atual presidente, chegasse ao poder. Sua missão, pressionar a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), braço armado dos Estados Unidos na Europa, que, como o Pacto de Varsóvia, deveria ter sido dissolvido juntamente com o fim da União Soviética em 1991.

Bom lembrar que, ainda em 2014, Biden, então vice de Obama, foi enviado ao Brasil para pressionar Dilma a entregar o pré-sal a empresas de seu país. A presidenta rejeitou a proposta e, pouco tempo depois, foi deposta, iniciando-se o governo Michel Temer (MDB) e o agravamento do desmanche do país com Bolsonaro. Aqui, na Ucrânia, Bolívia, Chile, Nicarágua e tantos, obrigados a conviver debaixo dessas ameaças. Venezuela e Cuba, os casos mais graves.

A guerra na Ucrânia, apesar da tragédia que representa, demonstra por outro lado que os heróis da mídia são os verdadeiros vilões do planeta, com seus discursos falsos em pedestais de barro. Provocaram o conflito, ao tentar impor seu expansionismo para além do permitido e, assim, colocam o mundo frente a uma tragédia de maior proporção do que a promovida por Vladimir Putin.

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