Com união de familiares de presos e outros ativistas, movimento realiza manifestações e denúncias sobre sistema prisional
Surgido no Espírito Santo em 2020, em meio à proibição de visitas de familiares a pessoas privadas de liberdade, a Frente Estadual pelo Desencarceramento do Espírito Santo (Desencarcera ES) realiza neste sábado (19), na Paróquia São José Operário, na Serra, seu primeiro encontro estadual.
“Esperamos que passe a ser um evento anual para discutir a realidade do sistema prisional do Espírito Santo e como isso reflete na vida das pessoas que estão ou passaram pelo sistema prisional e seus familiares”, diz Marcella Gama, integrante da Frente e uma das organizadoras do encontro. A programação inclui café da manhã, roda de conversa sobre o dia a dia dos familiares, orientações sobre acesso a políticas sociais, plantão jurídico e conversa sobre a situação do sistema prisional capixaba.
O público principal do evento são os familiares de presos e pessoas que deixaram o cárcere, mas devem participar também outros integrantes do Desencarcera ES e movimento sociais ligados especialmente aos direitos humanos. “A importância deste evento para nós, familiares, é saber que mesmo em meio a tanto caos da saúde pública, em meio às violações de direitos, a Frente Estadual pelo Desencarceramento avançou aos poucos no Espírito Santo em seu objetivo de ajudar os familiares e internos”, disse Eliana Valadares, integrante do movimento. Ela considera que a atividade servirá para conforto, afeto, e mostrar que aos familiares que não estão lutando sozinhos.
Para Eliana, o encontro contribuirá para divulgar os trabalhos que vêm sendo feitos pelo Desencarcera ES e ampliar o elo de amizade e confiança entre este movimento e os familiares de pessoas privadas de liberdade.
“Será um espaço seguro para trocas de informações e acolhimento, para que possam falar sobre o que estão passando no cotidiano e coletivizar esse debate. É preciso entender que não é algo apenas individual. Se um está passando por algo, provavelmente outras pessoas passem pelo mesmo, pois há um panorama parecido em todas unidades prisionais”, analisa Marcella Gama. Mortes e agressões, comida de má qualidade e revistas vexatórias são algumas das questões que aparecem nos debates.
A Frente Estadual, segundo Eliana, permitiu um avanço na luta, promovendo uma aliança entre o coletivo de familiares que já existia com outros militantes da causa que prestam apoio, já que ao denunciar alguma violação ou participar de atos, familiares muitas vezes têm medo de retaliações por parte do Estado contra os internos.
O evento também servirá de preparação para um encontro nacional do movimento pelo desencarceramento, que acontecerá em Belo Horizonte (MG), em abril, e deve contar com uma delegação de oito representantes do Espírito Santo.
O defensor aponta que um dos principais desafios é enfrentar a “lógica absurda” do encarceramento em massa. “A lógica punitivista, encarceradora, que com recursos públicos constrói novos presídios ou puxadinhos para continuar prendendo mais gente, sem investir no primordial, que é o acesso universal à justiça e às políticas públicas de atendimento aos direitos mais básicos”, considera Gilmar.
Ele critica que enquanto aumentam as operações policiais espetaculosas, as autoridades caem no discurso fácil de segurança pública. “Quase sempre é uma voz única, uma autoridade, sem que ninguém consiga contraditar”, reclama o defensor de direitos humanos. “É preciso uma mudança profunda nesse comportamento e nesse projeto de segurança pública e encarceramento”, alerta, lembrando que a grande maioria dos presos é de origem pobre.