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​A guerra de cada dia

Para fortalecer a cidadania, é fundamental conhecer nossas guerras locais

Enfrentamos, diariamente, vários tipos de guerras, cada uma em seu ambiente específico, e algumas de longo prazo, normalmente até no prazo de uma vida, guerras permanentes.

A história da sociedade foi e está sendo construída pelas formas que resolvemos nossos conflitos. Na história da humanidade, das cavernas até os dias de hoje, muitas vidas foram perdidas e sociedades destruídas, e sempre são os vencidos que ficam com os prejuízos sociais, econômicos e políticos causados pelas guerras. A história é sempre contada para o mundo pelos vencedores, por isso, a verdade que conhecemos dos conflitos é sempre a dos ganhadores das guerras.

As guerras são enfrentamentos armados que ocorrem por diversos motivos, divergências de ideias, religiosas, interesses diferentes sobre situações políticas, disputas de regiões e conflitos étnicos, entre tantos outros conflitos sociais. As divergências não resolvidas pelo diálogo e pelos acordos geram um sentimento de estranhamento e ódio que levam à guerra, com o objetivo de aniquilar o agora inimigo, e isso ocorre de diversas formas e circunstâncias. Nesses enfrentamentos, todas as operações são cuidadosamente planejadas com essa finalidade.

Ocorrem de forma declarada, com as violências explícitas, ou no plano das disputas de ideias e na manipulação psicológica de povos, a chamada guerra fria. A guerra híbrida é quando são utilizados duas ou mais formas de enfrentamento. Também tratam da capacidade humana em produzir violência e do papel da indústria de produzir máquinas, equipamentos e informações para essa finalidade.

Entre as guerras que ocorrem longe de nós, estão a Guerra da Síria; Líbia; Palestina; Iêmen; Afeganistão; Mianmar; Etiópia; Haiti; e África. Elas nos afetam indiretamente, mas recebemos informações pela mídia segundos seus interesses, que quase nunca coincidem com os do povo, que quer cidadania com democracia e muita participação.

Precisamos de mais informações de políticas públicas para enfrentarmos as guerras que acontecem em nosso meio, frias ou declaradas, sempre ideológicas, submersas em um mundo de mídias e marketings que nos dificulta a sua visibilidade e compreensão, o que impede nossa participação no enfrentamento das guerras nossas de cada dia.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) de 2021, a violência afeta de diversas maneiras os grupos mais vulneráveis da população brasileira. Os dados oficiais reafirmam que os jovens são, historicamente, as principais vítimas dos homicídios; que os feminicídios representam 33,3% das mortes violentas de mulheres no Brasil; que os negros são o grupo racial mais atingido pela violência, 76% do total de vítimas de homicídios; que houveram 7,6 mil notificações de violência contra pessoas com deficiência no ano; que a taxa de homicídios de indígenas subiu 9,8% de 2018 para 2019; que as notificações registradas de violência contra homossexuais e bissexuais cresceram 9,8% em relação a 2018.

As informações da nossa guerra, vivida no dia a dia de nossas vidas, histórica e permanente, não aparecem nos debates da mídia oficial. Se compararmos as mortes violentas na nossa guerra, verificamos que os números são bem maiores nessa nossa guerra não declarada.

Percebemos, então, que vivemos também uma guerra de informações, e que as de nossa guerra local não são de interesse de quem controla as informações. Há uma máxima nas análises de conflitos, de que quando começa uma guerra a verdade é a primeira vítima, em ambos os lados do combate.

Para fortalecer a nossa cidadania e democracia, é preciso que conheçamos a nossa guerra e o nosso lado nos conflitos declarados ou submersos nos interesses existentes em nossa sociedade. Ter clareza da nossa verdade, para combater as informações dos adversários.

Não conseguiremos vencer um inimigo mais forte pela força, mas com uma causa justa e com lideranças comprometidas. Todo combate requer um trabalho coletivo, com planejamento para trabalhar em conjunto com os nossos, em direção dos objetivos comuns.

Conhecer e tomar parte de nossas guerras locais é, portanto, fundamental, pois dialogam diretamente com a nossa qualidade de vida, o nosso bem-estar, a nossa democracia e cidadania. Bem-vindos todos os cidadãos, pois nossa guerra é permanente.

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