Gilbertinho Campos relata que afirmação foi feita em reunião com o Movimento Negro no Palácio Anchieta
Em reunião com entidades de direitos humanos e representantes do Movimento Negro, no final da tarde desta terça-feira (5), o governador Renato Casagrande “reconheceu que o Estado não tem controle da PM”. A afirmação é do integrante da Unidade Negra Capixaba, Gilbertinho Campos. O encontro foi cobrado por entidades após o assassinato de Welinton Dias Silva, de 24 anos, baleado pela Policia Militar (PM) na região da Grande São Pedro, em Vitória, na noite desse sábado (2), e contou ainda com a participação da secretária estadual de Direitos Humanos, Nara Borgo. Século Diário foi impedido de ficar no local e cobrir a reunião.
As entidades questionaram o modelo de segurança pública do Estado. Segundo Gilbertinho, Casagrande afirmou ainda que os conselhos de Segurança Pública, Igualdade Racial e Direitos Humanos “são insuficientes para contornar a situação” e que a gestão estadual irá retomar os debates de controle e monitoramento da violência policial.
Outro compromisso assumido pelo governador é o acompanhamento, por parte do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), das mortes de negros, jovens e de feminicídios contra mulheres negras.
Gilbertinho informa que será marcada, ainda esta semana, uma reunião com o secretário estadual de Segurança Pública, Márcio Celante Weolffel, e a secretária Nara Borgo para tratar das reivindicações apresentadas nesta terça-feira. Uma delas é a adoção equipamento antitortura por parte dos policiais, ou seja, uma câmera que filma a ação policial. A outra foi a retomada da lei de cotas para negros no ingresso, por meio de concurso, no executivo estadual, aos patamares de 20%.
Também foi reivindicada a criação de uma ouvidoria para crimes de cunho racial, além de solicitar à Secretaria Estadual de Direitos Humanos que recorra junto ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que arquivou a ação referente à violência sofrida por um jovem negro no Carone de Laranjeiras, em dezembro último.
Os militantes, bem como familiares de Welinton, foram recebidos primeiramente por Nara Borgo. Embora a reunião tratasse de assunto de interesse público, nesse momento, o fotógrafo de Século Diário, Leonardo Sá, não pôde prosseguir com a cobertura fotográfica, pois assessores do governador alegaram que havia outros veículos de comunicação à espera do lado de fora e não era possível deixar somente um permanecer na reunião. Entretanto, após ser retirado da sala, não havia equipes de outros veículos aguardando para entrar.
A repórter permaneceu na sala de reuniões, mas também não pôde acompanhar a fala do governador, pois antes que ele comparecesse ao local, também foi retirada com o mesmo argumento utilizado para a saída do fotógrafo. Enquanto permaneceu na sala, conseguiu acompanhar a fala de apenas duas lideranças.
O militante dos Direitos Humanos, Isaías Santana, apontou “desqualificação” na fala das autoridades sobre o crime ocorrido em São Pedro. “Quando um representante da categoria [PM] diz na televisão ‘esse é o treinamento que recebemos na nossa formação’, isso nos entristece”, pontuou.
Já Gilbertinho classificou a morte de Welington como “criminosa”. “A cada 15 dias, para resolver o problema da criminalidade, se mata pessoas negras, invariavelmente jovens negros. Queremos saber se essa política é para matar preto, pobre e favelado. Queremos saber se estamos diante de um Estado racista e criminoso”, indagou. Ele prosseguiu dizendo que “não há bala perdida para corpo negro. Todas balas direcionadas para o corpo negro são para matar”.