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Federações partidárias influem nas táticas eleitorais no Estado

Candidaturas como a de Audifax provocam conflitos, mas siglas remontam chapas e dialogam sobre majoritárias

Pensadas para possibilitar a sobrevida de partidos menores à cláusula de barreira, as federações partidárias vão se tornando realidade e implicam em mudanças nas táticas eleitorais, modificando também o tabuleiro no Espírito Santo. Até o momento, estão bem encaminhadas três federações: a primeira entre PT, PCdoB e PV, a segunda entre PSDB e Cidadania, e a terceira entre Psol e Rede.

No caso das duas primeiras, PT e PSDB, que têm mais musculatura e não correriam risco de esbarrar na cláusula, agregaram os outros partidos, que ficam mais confortáveis para as eleições. Já a união de Rede e Psol, ambos com risco de não superar a barreira, deve sacramentar juntos a continuidade das siglas, sem perder prerrogativas parlamentares e recursos. O desafio, porém, é construir unidade depois das eleições, já que as federações devem ter duração mínima de quatro anos, com atuação conjunta inclusive nos legislativos.

PT hegemoniza chapas no Estado

No âmbito estadual, a chapa formada por PT – PCdoB – PV trabalha com a possibilidade de ampliar a bancada à esquerda na Assembleia Legislativa, hoje resumida ao mandato de Iriny Lopes (PT). A própria deputada estadual pode não encontrar facilidade para se reeleger, já que a chapa do PT deve ter nomes de peso como o ex-prefeito João Coser, que divide com ela parte do eleitorado da Capital, do ex-deputado estadual Roberto Carlos, do presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetaes), Júlio Mendel, que puxa votos do interior, e do professor da Universidade Federal do Estado (Ufes) Mauricio Abdalla, que vai estrear em eleição. Além deles, aparece como nome forte o ex-prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros, aposta do PCdoB, que com a federação ganha viabilidade eleitoral.

De acordo com a lei eleitoral, cada partido pode lançar até 31 candidatos a deputado estadual e 11 a federal. Com as federações, esse número é mantido, ou seja, os três partidos juntos podem lançar 31 nomes para a Assembleia. Como as chapas já vinham sendo montadas pensando em garantir sozinhos a eleição com o máximo de candidatos, agora o jogo muda de figura. No caso desta federação, os três partidos pactuam o número de candidatos dentro desses 31, provavelmente retirando nomes menos competitivos. A tendência é que haja mais recursos e uma militância focada no apoio a menos candidatos, o que tende a aumentar a votação de cada um, que seria um pouco mais pulverizada sem a federação.

De parte do PV, correndo por fora, está o nome do vereador de Cachoeiro de Itapemirim
, Alexandre Bastos, que em 2018 teve mais de 13 mil votos para deputado estadual. Ao menos dois nomes devem ser eleitos pela federação, embora três também parece ser um número razoável e quatro legisladores algo improvável, mas ainda possível. Os verdes tiveram uma debandada na janela partidária com a saída de seus dois deputados, Luciano Machado (PSB) e Marcos Garcia (PP). Embora se coloque como centro-esquerda, abrigou muitos políticos de corte mais ao centro ou conservadores, que veem a possibilidade de estar no palanque com Lula e o PT um problema que pode lhes custar votos de seu eleitorado.

No âmbito federal, a aposta da federação será na reeleição de Helder Salomão (PT), com outros candidatos compondo a chapa. Para Senado, o PT sinaliza com duas pré-candidaturas, a do ex-reitor da Ufes Reinaldo Centoducatte e de Célia Tavares, derrotada no segundo turno para a prefeitura de Cariacica em 2020. PCdoB e PV não têm manifestado pretensão de concorrer nas majoritárias, preferindo focar tempo e recursos nas proporcionais.

Para o governo do Estado, a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato pelo PT ainda permanece amarrada às articulações estaduais e nacionais. O PSB, do atual governador Renato Casagrande, desistiu de fazer parte da federação com o PT, mas anunciou que apoiará a candidatura presidencial de Lula. Casagrande, articulado com o centro e a centro-direita, cozinha em banho-maria o apoio ao presidenciável petista, que pode provocar desagrados e saídas de partidos da sua base que vem sendo construída nos últimos anos. Por outro lado, se não trouxer o PT para seu apoio no primeiro turno, sendo que os petista querem em troca apoio do governador a Lula, Casagrande corre o risco de ter em Contarato uma candidatura que pode se tornar competitiva e que lhe tomaria parte significativa dos votos do eleitorado à esquerda.

Psol e Rede ainda carecem de diálogos

A disputa para o governo também mexe com os ânimos de outra federação. Boa parte da militância e da direção do Psol não engole a necessidade de ter que apoiar a candidatura do ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede) ao governo. Mas queira ou não, a federação caminha a passos largos para se consolidar. E embora nacionalmente o Psol tenha maioria, no Espírito Santo, a direção está nas mãos da Rede.

O Psol já apresentou a pré-candidatura de Gilbertinho Campos para o Senado, querendo fazer deste seu palanque majoritário para dar visibilidade ao partido, embora sem chances de vitória. Assim evitaria o desgaste de estar no palanque diretamente com Audifax, candidato mais ao centro no espectro político e que desperta pouca ou nenhuma simpatia da militância dos psolistas, muito mais à esquerda. A Rede conta com o cargo de vice para negociar adesão de mais um partido à chapa. Conversas com o MDB não evoluíram e agora a bola da vez é o PSD, considerado sob influência do ex-governador Paulo Hartung, e com pré-candidatura lançada do ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon.

A composição entre Audifax e Zanon, que poderia ir para a vice ou Senado, fortaleceria a competitividade da chapa para tentar uma vaga no segundo turno, unindo um candidato forte no maior colégio eleitoral do Estado, a Serra, e outro com forte presença no norte. O ex-deputado e ex-vice-governador César Colnago também vem se colocando como pré-candidato ao governo, mas se filiou ao PSD, esbarrando em Guerino, o nome prioritário da legenda. Outro tipo de acordo poderia jogar Audifax para o Senado e bancar uma candidatura hartunguista para o governo. O ex-prefeito da Serra em tese teria o maior recall eleitoral, embora o PSD apresente maior estrutura, caso se consolide alguma aliança.

A candidatura ao Senado do Psol também é vista com ressalvas pela Rede, pela falta de um nome de maior expressão eleitoral. Como hegemoniza a federação a nível estadual, o partido de Audifax pode tentar negociar tanto a vice como o Senado com o PSD ou outras siglas, o que poderia aumentar o desgaste com o Psol, com que terá que caminhar junto nos próximos quatro anos.

No âmbito das disputas proporcionais, o jogo também promete ser muito mais quente na disputa pela Assembleia Legislativa. Os nomes fortes dos partidos são a vereadora de Vitória Camila Valadão (Psol) e o ex-vereador da Serra Fábio Duarte (Rede), que foi ao segundo turno na última eleição municipal. Representantes dos partidos falam na possibilidade de eleger até dois ou três deputados, embora certo mesmo parece uma cadeira, o que provocaria uma luta acirrada pelo topo da lista. A Rede afirma que já tem chapa completa, mas espera sentar-se com o Psol para repensar a chapa conjunta. Com isso, devem ser retiradas candidaturas menos competitivas ou que disputem o mesmo eleitorado com os favoritos de cada partido da chapa.

Para federal, a chapa Psol – Rede deve encontrar dificuldade para conseguir eleger um dos dez deputados, não possuindo até momento candidatos muito fortes, como necessário nessa disputa, que é mais acirrada. Mais do que disputar uma vaga, o papel de ambos deve ser garantir candidaturas para fortalecer a votação para deputado federal, que é justamente aquela que serve para balizar se os partidos cumprem ou não a cláusula de barreira.

PSDB e Cidadania apostam nas reeleições

Localizada mais no campo da centro-direita, a federação entre PSDB e Cidadania deve ter foco nas reeleições para a Assembleia Legislativa. Do lado dos tucanos figuram Vandinho Leite, Marcos Mansur e Emílio Mameri, enquanto o Cidadania tem apenas o deputado Fabrício Gandini. A bancada do PSDB ainda ganhou o reforço de Sergio Majeski, mais votado nas últimas eleições, que voltou ao ninho tucano, mas aponta candidatura para deputado federal.

Na disputa para chegar à Câmara, Majeski terá a companhia (e concorrência) com outro peso pesado tucano, o ex-prefeito de Vila Velha Max Filho. Para conseguir mais de uma cadeira, a federação deve precisar de uma boa votação de outros quadros, como Rodrigo Caldeira (PSDB), atual presidente da Câmara da Serra. O grande nome do Cidadania na disputa, que seria o ex-prefeito Luciano Rezende, aparentemente não tem se movimentado para concorrer às eleições em 2022.

Em relação ao governo estadual, é evidente a simpatia dos principais nomes da federação à reeleição de Renato Casagrande, o que poderia azedar, caso o governador dê palanque a Lula para a presidência, por isso a tentativa de manter neutralidade do atual mandatário do executivo capixaba. Para o Senado, os dois partidos não vêm se movimentando para garantir uma majoritária, podendo investir para barganhar um lugar de vice para o atual governador, já que Jaqueline Moraes (PSB), atual vice-governadora, será candidata a deputada federal e a formação de outra chapa puro-sangue é altamente improvável num cenário eleitoral mais embolado que o da última eleição.

Aos poucos, o cenário vem se desenhando no Espírito Santo. Mas ainda restam muitos nós a serem atados ou desatados, tanto dentro das federações como nas relações das mesmas com outros partidos.

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